sábado, 31 de dezembro de 2011

Carta para 2011

Eu queria tanto me despedir de ti 2011, mas agora chegamos aqui e não consigo te dizer adeus. Cá estamos nós, os dois na estação. Plataforma vazia, só eu e tu.

O trem já vai partir. Não consigo te pedir que vás.

Passei os últimos dias dizendo a todos o quanto tu fosses difícil. Dor, saudade, lágrimas, cinza, medo. Vontade de te ver de longe, nas lembranças do passado.

Mas eu estava sendo injusta.

Hoje me dei conta do equívoco, e em tempo peço desculpas. Minha filha teve saúde e descobriu o mundo das letras. Eu tive bastante trabalho, ganhei novos amigos e revi alguns velhos conceitos.

Tua metade guarda meus últimos momentos com meu pai.

Sendo assim, tu és o meu tesouro mais valioso de memória afetiva. Na outra metade a sensação de perda me ensinou muitas coisas.

Compreendi que na dor o tempo é um aliado. Um ombro amigo é um bálsamo. E as lágrimas limpam angústias e medos. Lubrificam a alma.

Aprendi que para um inverno implacável, o melhor lugar é um colo de mãe. Na vida à dois o melhor caminho é sempre a verdade. E a melhor escolha é sempre a que te fizer sorrir

Entendi que perdoar é difícil. Que mesmo querendo fazer, é preciso ter força. É necessário abri mão um pouco de nós mesmos.

Por isso meu querido 2011, acabei me apegando a ti. A esse mundo de lições que me ensinasses, mesmo sem eu saber que estava aprendendo.

Obrigado pelas dores, saudades e verdades.

Nessa nossa despedida singela, quero acima de tudo te dizer o quanto valeu a pena. Não sou mais a mesma pessoa que brindou o reveilon passado. Tenho certeza.

A vida mudou. Eu mudei.

Antes de nosso abraço final, quero te fazer um pedido:

- Que teu amigo 2012 nos traga mais chegadas do que partidas.

Obrigado, e siga em paz!

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Mosaico de vida

A cozinha da nossa casa é o meu lugar preferido. Das peças que compõem esse castelo que acolhe nossos sonhos, é lá que me sinto mais forte.

Tem duas coisas que me encantam. Uma delas é a vista que o janelão de vidro nos proporciona. Nas noites de lua cheia é como se fosse a porta do paraíso. A outra é o piso de ladrilhos, formando um mosaico de cores, feitios e sensações.

Quando estávamos finalizando a obra, naquele momento em que qualquer prego custa um contado tostão, fomos presenteados pelo querido Rudelger com os tais ladrilhos hidráulicos. Marca da arquitetura pelotense, além de lindos, são um pedaço da nossa terra.

Foi ele quem deu a ideia de fazermos um mosaico no piso da cozinha, já que a miscelânea de peças pedia algo impactante. O Nauro e eu passamos uma manhã tentando compor uma figura harmônica.

Os dois sentados no cimento cinza da obra, cobertos de pó. Mudamos uma centena de vezes as peças de lugar. Lembro que chegou uma hora em que a mistura de imagens nos deixou mareados.

No final olhamos para o resultado e nos emocionamos com a beleza.

Nossa cozinha tinha a nossa cara. Uma mescla de formas, cores e desenhos. Assim como enxergo nosso jeito de galgar a vida. Temos histórias, personalidades e "formas" distintas.

Dia desses li no blog da querida Juliana Spanevello, um post dela fazendo uma retrospectiva do ano de 2011. Esse foi um ano cheio de conquistas para ela.

E assim como a Ju, cada um que lê estas linhas tem o seu balanço. Escrevi para ela que para cada um de nós o ano deixa uma marca diferente.

Para mim foi o ano que perdi meu pai. Junto foram mais alguns amigos. Para ela, um marco de tantas maravilhosas conquistas profissionais. Cada um com a sua enorme soma de sentimentos, compondo a figura.

E todas elas estão impressas no relevo da nossa alma. Como eu disse pra Ju, não importa o acontecimento, mas sim que estamos escrevendo nossas histórias.

E cada história é feita de diferentes momentos: tristes, alegres, descobertas, encontros, despedidas...

E olhando ontem para o meu lugar preferido da casa, enxerguei uma parte da nossa vida. Cada ladrilho é como se fosse um pedaço de nós.

Uma obra de arte, com suas belezas, tristezas, cores e encantos. Assim como essa jornada que cumprimos pelas bandas da terra.

Desejo que a gente não esqueça nunca de olhar bem de perto para cada figura que construiu. A diversidade das peças é que faz o encantamento do desenho.

Feliz mosaico de vida para cada um de nós!

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Começar o recomeço

Ando sem coragem de pisar por aqui. Para deitar no divã-virtual é preciso abrir as comportas dos sentimentos. Corro o risco de uma inundação.

Essa época de Natal é como um teste de resistência para nossas dores. Antes eu chorava até em propaganda de supermercado. Agora desabo na primeira música melequenta de Papai Noel de camelô.

Um paradoxo de sentimentos me assola. A situação é crítica companheiros!

Não sou da tribo que curte reclamar da vida. É preciso acima de tudo, respeitar a sua preciosidade. Mas o ano de 2011 fez uma marca indelével no relevo da minha alma.

A ausência de um ser que amamos é estranha. A falta cotidiana do jeito daquela pessoa que habita nossa história é quase incompreensível.

Os dias passam, faço listas e mais listas. Ocupo minha cabeça e procuro atordoar minha rotina. Mas um mínimo rastro de ócio, e me vejo nessa nova perspectiva.

Esse ano tudo mudou.

Perder meu pai foi como me perder um pouco. Mas sem dramas, eu entendo a complexidade da vida. O causo é que depois que uma peça do tabuleiro se vai, precisamos reinventar o jogo.

A nova configuração da nossa existência exige profunda compreensão.

A presença da morte em um ano, nos faz ter medo de encontrá-la novamente. Regamos nossos amores quase que com insanidade, com medo do dia em que não os teremos.

Mas repito, isso não é triste, é apenas intenso.

E sei que temos uma oportunidade em cada dor. A verdadeira chance de enxergar a raridade da vida.

Com essa certeza, acordamos com mais vontade para sacudir nossos tapetes. Arejar a alma sempre é a melhor escolha.

Coloco aqui minhas dores, saudades, inseguranças, medos e tudo mais que puder ser sacudido, deitado ao sol. Quero tirar o mofo, chorar sem culpa, escrever o que vier.

Só assim vou conseguir me olhar no espelho e encontrar o novo caminho. Quero começar o meu recomeço!