
Seriam coisas corriqueiras, se eu não estivesse cansada, estressada e esperando umas férias que acabaram não acontecendo. O produto final deste kit veio acompanhado de uma frente fria de lascar e muita chuva nas bandas de Satolep.
Então fiquei uns quatro dias que respirava e doia, com uma coleira “linda” no pescoço e aquela angústia entalada no peito. Eu sou assim. Preciso digerir as coisas que não caem bem. Mas muitas vezes, não tem sonsrisal que resolva. E dessa vez me enrolei um pouco mais do que o normal para ficar zerada.
Mas o dia hoje amanheceu com um rico sol. Acordei sem dor e me encorajei a sair da toca. Confesso que também animada pela trupe de visitantes que estão hospedados aqui em casa. Isso inclui minha irmã e meus dois sobrinhos, além da Sofia e toda sua energia de férias. Tomei um banho e coloquei um vestidinho para curar de vez o mau agouro.
O começo dessa dor eu não sei dizer ao certo, mas nos últimos tempos a falta de gentileza no cotidiano tem me deixado incomodada. Seja nas relações com amigos, vizinhos ou clientes. Diariamente tenho contato direto com muitas pessoas. Algumas delas primam pela falta desta característica que tanto admiro, a gentileza.
Socorro, quanto calor humano!
Pode ser que o mundo moderno e seu tempo escasso exijam rapidez na comunicação, ok. Mas para mim as palavrinhas mágicas que aprendi na infância sempre irão abrir as portas do mundo. A verdade é que tenho encontrado essa vertente dos poucos gentis demais no meu dia a dia, e não consigo relaxar. Fico indignada, pensando em como pode uma pessoa ter prazer em ser fria, distante, seca.
Ando sentindo falta de sorrisos anônimos nos elevadores. De pessoas perguntando se vai chover nas esquinas. De puxar aquele assunto sem pé, nem cabeça, só pra distrair. Parece que as pessoas passam pelas outras e não se enxergam mais.
Eu acho lindo devolver o prato que vizinho emprestou, com um bolo quentinho, recém saído do forno. Adoro levar um pacote de bolachinha para secretária do médico, que está toda tarde naquela mesma cadeira, esquentando os pés numa estufa antiguinha. Adoro surpreender e ser surpreendida, com carinhos cotidianos que deixam a vida mais colorida.
Tenho certeza de que a minha coluna está se recuperando, mas fica aqui a minha saudade da gentileza.
Acho que o mundo anda um pouco carente de gente como o saudoso profeta Gentileza!
Houve um homem enviado ao Rio por Deus. Seu nome era José da Trino, chamado de Profeta Gentileza (1917-1996). Por mais de vinte anos circulava pela cidade com sua bata branca cheia de apliques e com seu estandarte, pregava nas praças e colocava-se nas barcas entre Rio e Niterói anunciando sem cansar:”Gentileza gera Gentileza”. Só com Gentileza, dizia, superamos a violência que se deriva do “capeta-capital”. Inscreveu seus ensinamentos ligados à gentileza em 55 pilastras do viaduto do Caju, à entrada da cidade, recuperados sob a orientação do Prof. Leonardo Guelman que lhe dedicou um rigoroso trabalho acadêmico, acompanhado de video e um belíssimo um CD-ROM com o título Universo Gentileza: a gênese de um mito contemporâneo.
Leonardo Boff