quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
Centro do universo
Essa época do ano não passa indiferente. Afora os significados religiosos, existe certa magia oculta no ar.
Incrível eu estar escrevendo isso depois de ter passado a semana na maior correria. Estive atucanada, me dividindo entre os afazeres profissionais e os maternos.
A Sofia está de férias. A babá dela também. Capitou?
Com isso minha semana andou na corda bamba, entre o prazer de estar todo dia ao lado de minha filha mimosa, e o estresse de tentar conjugar isso ao trabalho. Equação que não tem ciência exata que feche.
Junto com isso, este ano atrasei minha lista de presentes. Eu que sou toda organizada e em novembro já estou com a lista de presentes quase liquidada, me dei mal este ano.
Hoje, quase véspera de Natal, finalmente estacionei meu trenó no centro. Em alguns segundos me vi em meio a multidão de errantes, suando em lojas, em busca de presentes que já foram vendidos há horas.
Para amenizar meu desespero, contei com a presença solidária do meu maridão. Ele fez as vezes de motorista, carregador e conselheiro, dependendo da necessidade.
O último item da maratona natalina era, nada mais, nada menos, do que um “ranchinho básico” no hipermercado local. Depois de vencido o acotovelamento na fila da verdura, o “sai da frente” dos carrinhos atravancados no meio do corredor e a fila interminável do “caixa em treinamento”, finalmente um oásis apareceu.
Fizemos uma parada estratégica na lanchonete do Treichel, para repor a sanidade mental e comer o melhor cachorro-quente da cidade. Enquanto eu traçava o dito cujo e o Nauro degustava uma torta mineira, uma mensagem chegou no celular dele.
Era nosso amigo Cadré, jornalista, radicado atualmente em Frederico Westfalen. Ele dizia:
- Já estou aqui, no centro do universo!
A frase foi dita em uma mesa do Cruz de Malta, tradicional bar da cidade, onde se toma a cerveja mais gelada do mundo e se come o melhor croquete do planeta.
E foi degustando a satisfação do Cadré, com aquele tão esperado momento de retorno ao berço, que fiquei pensando no profundo significado desses dias de final de ano.
Sei que assim como ele, hoje nossa amiga Daniela Xu deve fazer a mesma coisa. Não sem antes, passar no balcão do Café Aquários e sentir o peito inundar de prazer ao saborear aquele café carioquinha.
É exatamente isso. É o momento em que cada um de nós volta para o seu canto. Busca as suas origens. Cata suas referências de paladar, olfato, carinho. Resgata saudades, brinda amizades.
São essas e tantas outras razões que fazem desses dias, tão especiais. Talvez Natal e Ano Novo sejam exatamente isso: uma oportunidade de estarmos no centro do nosso próprio universo. Seja ele em Satolep ou em qualquer canto do mundo.
domingo, 12 de dezembro de 2010
Guga forever
Sábado à noite assisti ao desafio entre Guga e Agassi no Maracanãzinho. O jogo tinha caráter filantrópico e saudosista ao mesmo tempo. Enquanto a bola rolava viajei no tempo.
Há dez anos, no mesmo período, Guga alcançava o topo do ranking da ATP. Foi em Lisboa, quando venceu Agassi por triplo 6/4 na final, conquistando o Masters Cup de 2000. Com isso foi confirmado como novo número 1 do mundo do tênis.
Naquele tempo eu já era fã de carteirinha do “Manézinho” e já tinha impresso no currículo o meu grande feito. Foi dois anos antes, em 1998, quando eu morava em Florianópolis. Já cursava jornalismo e estava no segundo ano de faculdade.
A expectativa nacional sobre Guga era enorme. Éramos um povo carente de ídolos e órfãos de Ayrton Senna. Isso por si só já era um peso e tanto para o guri dos cabelos cacheados. Seu jeito simples, carismático e cativante reunia os ingredientes que precisávamos para encontrar no tênis uma mania nacional.
Como boa fã que se preze, eu vivia lendo tudo que saia sobre Guga na imprensa. Ele recém tinha sido derrotado nas rodadas preliminares de Roland Garros, pelo então desconhecido Marat Safin. Com a pressão para que conquistasse o bi-campeonato, Guga voltou para o Brasil carregando nos ombros o peso das frustrações de um povo.
Nesse tempo ficou recluso, evitando contatos com a imprensa. Queria simplesmente ficar no seu canto. Na sua ilha, literalmente. E eu nessa época sabia toda a vida dele. Onde morava, treinava, lugares que gostava de freqüentar, surfar e etc. Era inverno em Floripa, e numa manhã cinza resolvi pegar o carro e percorrer as pistas atrás de Guga
Imagina a pretensão!
Mas como diz o ditado, jornalista precisa de uma boa dose de sorte. Mesmo sendo uma estudante, não podia imaginar que naquele dia o meu potinho estaria cheio. Desci o morro da Praia Brava e me deparei com uma série de edifícios altos, à beira-mar. Estava tudo deserto. Ninguém pelas ruas, a não ser um grupo de crianças recém saídas do colégio.
Dobrei a primeira rua e estacionei. Minha intenção era pedir informação para algum vivente que cruzasse caminho. Queria perguntar se sabiam onde era o apartamento do Guga naquela praia.
E foi aí que ouvi aquele som mágico:
- Ploc, ploc, ploc, ploc,...
Pensei que deveria ser algum tenista, e por isso saberia informar. Dei alguns passos em direção àquele som familiar e me deparei com uma miragem. Era o Larry e o Guga, em carne e osso. Eles me olharam e eu sorri, pensando instantaneamente no que faria com aquela situação.
Dois minutos depois pararam o bate-bola e o Larry veio em minha direção. Me apresentei como “jornalista” e perguntei se poderia fazer uma rápida entrevista com eles. A palavra “Pelotas” foi a senha. Larry disse que tinha sido casado com uma pelotense e que tinha boas lembranças da terra. Pediu que eu esperasse o final do treino para começar.
Foi aí que o pânico tomou conta. Imagina só, entrevistar o Guga, naquele minuto. Pra começo de conversa eu não tinha papel nem caneta. Na mesma hora saí em busca da criançada do colégio. Praticamente assaltei os guris e consegui duas folhas de papel e uma caneta. Vencida a primeira etapa, fui direto para a quadra fazer algumas fotos.
Em pouco tempo eu estava sentada no chão de saibro, ao lado da dupla. Como era minha primeira entrevista, e o interlocutor era um ídolo, eu não sabia se anotava as respostas ou ficava admirando ele falar. Fiz as duas coisas ao mesmo tempo e depois de meia hora tinha uma entrevista exclusiva com o cara mais procurado do momento.
Voltei para casa em êxtase. Passei tudo para o computador e liguei para o Cabral, editor de esportes do DP. A entrevista virou matéria de página no dia 9 de junho de 1998, Dia do Tenista.
A odisséia se transformou em episódio do quadro “Retrato Falado”, do Fantástico. A atriz Denise Fraga fez às vezes da estudante atrapalhada, que realizou o grande sonho de entrevistar Guga Kuerten.
E neste sábado, durante o jogo no Maracanãzinho, todas essas lembranças escondidas na minha caixinha de pandora voltaram. Esse episódio vai estar pra sempre guardado. É aquele tipo de sonho bom, que o tempo não apaga.
Assim como ele. Nosso Guga forever!
Há dez anos, no mesmo período, Guga alcançava o topo do ranking da ATP. Foi em Lisboa, quando venceu Agassi por triplo 6/4 na final, conquistando o Masters Cup de 2000. Com isso foi confirmado como novo número 1 do mundo do tênis.
Naquele tempo eu já era fã de carteirinha do “Manézinho” e já tinha impresso no currículo o meu grande feito. Foi dois anos antes, em 1998, quando eu morava em Florianópolis. Já cursava jornalismo e estava no segundo ano de faculdade.
A expectativa nacional sobre Guga era enorme. Éramos um povo carente de ídolos e órfãos de Ayrton Senna. Isso por si só já era um peso e tanto para o guri dos cabelos cacheados. Seu jeito simples, carismático e cativante reunia os ingredientes que precisávamos para encontrar no tênis uma mania nacional.
Como boa fã que se preze, eu vivia lendo tudo que saia sobre Guga na imprensa. Ele recém tinha sido derrotado nas rodadas preliminares de Roland Garros, pelo então desconhecido Marat Safin. Com a pressão para que conquistasse o bi-campeonato, Guga voltou para o Brasil carregando nos ombros o peso das frustrações de um povo.
Nesse tempo ficou recluso, evitando contatos com a imprensa. Queria simplesmente ficar no seu canto. Na sua ilha, literalmente. E eu nessa época sabia toda a vida dele. Onde morava, treinava, lugares que gostava de freqüentar, surfar e etc. Era inverno em Floripa, e numa manhã cinza resolvi pegar o carro e percorrer as pistas atrás de Guga
Imagina a pretensão!
Mas como diz o ditado, jornalista precisa de uma boa dose de sorte. Mesmo sendo uma estudante, não podia imaginar que naquele dia o meu potinho estaria cheio. Desci o morro da Praia Brava e me deparei com uma série de edifícios altos, à beira-mar. Estava tudo deserto. Ninguém pelas ruas, a não ser um grupo de crianças recém saídas do colégio.
Dobrei a primeira rua e estacionei. Minha intenção era pedir informação para algum vivente que cruzasse caminho. Queria perguntar se sabiam onde era o apartamento do Guga naquela praia.
E foi aí que ouvi aquele som mágico:
- Ploc, ploc, ploc, ploc,...
Pensei que deveria ser algum tenista, e por isso saberia informar. Dei alguns passos em direção àquele som familiar e me deparei com uma miragem. Era o Larry e o Guga, em carne e osso. Eles me olharam e eu sorri, pensando instantaneamente no que faria com aquela situação.
Dois minutos depois pararam o bate-bola e o Larry veio em minha direção. Me apresentei como “jornalista” e perguntei se poderia fazer uma rápida entrevista com eles. A palavra “Pelotas” foi a senha. Larry disse que tinha sido casado com uma pelotense e que tinha boas lembranças da terra. Pediu que eu esperasse o final do treino para começar.
Foi aí que o pânico tomou conta. Imagina só, entrevistar o Guga, naquele minuto. Pra começo de conversa eu não tinha papel nem caneta. Na mesma hora saí em busca da criançada do colégio. Praticamente assaltei os guris e consegui duas folhas de papel e uma caneta. Vencida a primeira etapa, fui direto para a quadra fazer algumas fotos.
Em pouco tempo eu estava sentada no chão de saibro, ao lado da dupla. Como era minha primeira entrevista, e o interlocutor era um ídolo, eu não sabia se anotava as respostas ou ficava admirando ele falar. Fiz as duas coisas ao mesmo tempo e depois de meia hora tinha uma entrevista exclusiva com o cara mais procurado do momento.
Voltei para casa em êxtase. Passei tudo para o computador e liguei para o Cabral, editor de esportes do DP. A entrevista virou matéria de página no dia 9 de junho de 1998, Dia do Tenista.
A odisséia se transformou em episódio do quadro “Retrato Falado”, do Fantástico. A atriz Denise Fraga fez às vezes da estudante atrapalhada, que realizou o grande sonho de entrevistar Guga Kuerten.
E neste sábado, durante o jogo no Maracanãzinho, todas essas lembranças escondidas na minha caixinha de pandora voltaram. Esse episódio vai estar pra sempre guardado. É aquele tipo de sonho bom, que o tempo não apaga.
Assim como ele. Nosso Guga forever!
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
Melhor que o Jabuti
Foto: Nauro Júnior - Teatro Guarany
Dependendo do ponto de vista a inveja pode ser uma dádiva. Cheguei a essa conclusão depois de ler o blog da Martha Medeiros ontem.
Ela acabou de lançar sua mais recente obra, o livro “Fora de Mim”, que por sinal estou louca para ler. Adoro seus textos desde os tempos do “Strip-Tease”, em 1985.
Ela foi minha confidente da adolescência até agora, quando pisei nas quatro décadas. Aquele tipo de texto em que a gente se identifica. Parece estar sendo ouvida, compreendida, acolhida.
Naquele tempo eu nem sonhava em ser jornalista. Dividia minha rotina entre as cadeiras de Educação Física e muitas descobertas. Voava as minhas tranças a bordo de uma bicicleta, pelas ruas de paralelepípedo de Satolep.
A vida era uma mistura de sanduíche natural, lágrimas, festas, e muitos sonhos. Típico de uma escorpiana passional, em pleno desvendar de cortinas.
Desde então a Martha Medeiros é minha amiga-telepática. Com ela debati as primeiras decepções amorosas, passando por primordiais dicas literárias até chegarmos hoje nas aflições da maternidade.
Sintonizamos sempre. Na verdade eu liguei meu rádio no dial dela, e fique feliz em acompanhar o seu crescimento profissional.
Antes era uma escritora daqui. Hoje ultrapassou as fronteiras dos pampas.
E como tudo que é nosso, muitas vezes só percebemos isso quando esse território universal já ganhou novos patamares. E foi o que me aconteceu quando li ontem a coluna que o Toni Bellotto escreveu sobre ela: Quem tem medo de Martha Medeiros?
A crônica está bárbara, ao seu melhor sabor titânico. Ele fala da inveja que sentiu ao chegar na sessão de autógrafos da nossa gaúcha, em uma livraria do RJ. A “bicha”, como dizemos por aqui, invadia as calçadas. A fila era monumental, contou.
A história termina quando, quase cinco horas depois, ele e a esposa conseguem finalmente chegar à nossa diva literária.
Quando terminei de ler fiquei saboreando por alguns minutos aquele momento. Imaginando a cena e viajando. Cheguei à conclusão de que a inveja boa é uma delícia. Ainda mais se vinda do Toni Bellotto.
Então hoje tomei uma decisão.
Quando lançar o meu primeiro livro, o Toni e a Martha vão estar no topo da minha lista de convidados. E já aviso à dupla: podem trazer o mate porque a fila vai ser longa. Esse gostinho é mais ou menos como ganhar o Prêmio Jabuti.
Espero vocês um dia. Em breve!
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