Ando sem assunto nos últimos dias, por isso não tenho aparecido por aqui. A maré cinza assolou o pedaço, somado ao frio polar e ao vendaval que chegou na madrugada.
Mas um fio de ânimo ainda persiste. E como uma pílula energética dos desenhos animados, não me deixa escrever sobre nada triste ou negativo. Já basta a conspiração meteorológica desse inverno, tentando derrubar sorrisos e escabelar as franjas.
E enquanto esgotamos o nosso estoque de humor e paciência, cá estou eu, munida de forças extra-sensoriais para fazer desta sexta-feira, 13 de agosto, um dia colorido. E olha que a missão é das mais complexas.
Da janela de casa vejo o vento provocar até “ondinhas” no calmo Arroio Pelotas. Os juncos que protegem a margem estão deitados, como que se curvando aos destemperos do deus Odin. O cenário é bucólico, a temperatura é baixa e a vontade de virar um urso e acordar na primavera me persegue.
Mas na minha caixa do passado encontro lembranças deliciosas das antigas datas que folcloricamente são ditas como de mau agouro. Minha avó querida, a Nóris - a quem eu carinhosamente sempre chamei de Chochó, nasceu nessa data. Então lá em casa, dia 13 de agosto sempre foi de alegria. Quando caia na sexta-feira, ela gostava mais ainda.
O ritual era sempre o mesmo. Ela não fazia festa, simplesmente preparava a casa com flores e saborosos quitutes, expostos na mesa com toalha de renda branca da sala. Acendia um caloroso fogo na lareira e se enfeitava. Coloca uma roupa bonita, se maquiava e postava na cama uma colcha bem passada. Ali iria exibir os presentes recebidos ao longo do dia. Depois do ritual, sentava-se na sala e aguardava a chegada dos visitantes.
A data era lembrada por todos amigos, que ao longo doa dia faziam uma verdadeira caravana de visitas pela Charqueada São João, onde vivíamos. E ela faceira, agradecia, servia os amigos, conversava e curtia cada momento do seu dia. Nós, que morávamos com ela, cantávamos o primeiro parabéns ao meio-dia.Depois íamos a tarde para o colégio e na volta pegávamos mais uma parte da festa. Geralmente ela fechava a noite brindando com uma cerveja ou vinho, junto com minha mãe, e comentando detalhes do dia. Meu pai sempre adepto da guaraná, a essas horas já estava bem tapado, debaixo das cobertas.
Nessa hora em que ficávamos só nós mulheres, a Kiki e eu corríamos para o quarto dela, para bisbilhotar presente por presente, e comentar coisas sobre as visitas que passaram por lá. Adorávamos aquele ritual de 13 de agosto.
Em 2001 foi a última vez que comemoramos juntos a data. Ela se foi no dia 15 de novembro daquele ano. Obviamente que teria que ser em uma data histórica, já que minha avó não veio ao mundo para pouca coisa.
Era uma mulher linda, brilhante, colorida por dentro e por fora. Alguém com a mesma força do vento que hoje sopra lá fora. Agora começo a entender melhor o porquê da ventania e vou apreciá-la como se fosse um dia de festa. Como se minha avó mandasse esse vento varrer todas as tristezas dessa sexta-feira. Como se ela enviasse um pouco da sua força para nós.
E viva a minha querida Chocho!!
8 comentários:
Puxa Gabi, descobrir teu blog, ler este texto e ser remetido para momentos felizes e despreocupados de nossa infancia/ adolescencia, aqueceu e iluminou o espirito, fazendo que o fiozinho se torne um cabo de aço. saudades e alegrias de ter vivido e estar vivo!!! bj!
não desanima Gabi , to te achando muito pra baixo . o "grosso " do inverno ja vai passar amiga , já estamos na metade de agosto , heheh ( se agente n pensar assim se corta os pulsos rrsrs).
gostei muito deste post . no creo en brujas pero q las hay las hay ......bjs . força !
Adoro ler o que escreves. Acho que tua simplicidade vai direto ao coração do leitor. Compartilho contigo de muitas de tuas aventuras.
Trabalho em uma escola municipal em Bagé e fiz um blog para a escola e gostaria, que se tu permitisse, de usar alguns de teus textos no nosso blog.
Endereço do blog: http://emefnsa.blogspot.com/
Bjus e abraços a todos.
Filha, que belas recordações... compartilho contigo a dificuldade de enfrentar este nosso inverno, "tenebroso", mas tuas ´lembranças deste dia 13 , de pura comemoração nos ajudam a seguir em frente tendo como exemplo esta pessoa incrivel que compartilhou conosco todos seus momentos.
1 beijo e que tua Chochó esteja sempre soprando o vento da esperança e da alegria
como tenho orgulho de ti.
Te amo!!
Ainda esta me devendo o livro com as historinhas infantis.
Saudades de nossas vovózinhas.
Tu é um talento com as palavras...
Adoro teus textos!
Eu que adoro inverno ..já estou começando a achar meio brabo este tempo,imagina quem não gosta!!
Mas passa logo logo vem aquele calor de matar que agente não sabe onde se meter!
Nasci numa sexta feira 13 de Agosto... lembro dela dizendo isso, feliz com aquele sorriso radiante que só ela tinha... Sorria com os olhos soltando faiscas... Me ensinou a importância da celebração e deixou pra nós a melhor herança... Um enorme arsenal de lembranças felizes cheias de fé na vida... E ensinou tambêm que a alegria é a forma mais generosa de se dar amor... Que a gentileza e a elegância são armas imbativeis, e só o que se conquista com elas é nosso por direito... Que Vatapá tem que ser feito de um dia pro outro... Que o avesso do bordado é o mais importante... è muito bom reviver contigo momentos que vivemos enquanto ainda não tínhamos noção de que eram de pura magia e que a sabedoria contida neles nos faria fortes, capazes de levantar a cabeça sempre, vencer qualquer baixo astral e jamais dar credito a mesquinharia... Dia 13 de Agosto eu sempre como um vatapa bem apimentado, encho a casa de rosas vermelhas e agradeço aos Orixás os previlégios que tivemos... Te Amo Gabi...
siamesa querida, que foto linda! lembrei de um dia que tínhamos um desfile da tutti, precisávamos de sapatos para um desfile e recorremos á qual lugar???? o closet da chochó! hehehehehehe!
sempre impecável e elegante!
beijocas!
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