sexta-feira, 25 de abril de 2014

O guardanapo do Aquários


Coração palpitante, brilho nos olhos e vontade de ser feliz. O namoro estava começando, mas a sintonia era tanta que exigia testamento.

Naquela tarde morna de outono separamos dois guardanapos de papel do suporte metálico que repousava na mesa do Café Aquários.

O primeiro foi divido em dois pedaços.

Cada nesga do papel fino, virou uma aliança. O círculo enrolado à mão sacramentou a promessa: a vida é breve demais para não ser especial e intensa.

Aquele ato simbólico, testemunhado pelas garçonetes, em meio ao aroma de café, celebrou nossa união.

No segundo papel separado sobre a mesa, a caneta esferográfica desenhou nossos sonhos. Uma lista pequena, simples, mas cheia de significados.

Abaixo do item “construir nossa casa” estava “fazer faculdade”. Sim, o menino de olhos curiosos, que assinou carteira de trabalho aos 12 anos como sapateiro no Vale dos Sinos, tinha esse sonho.

Guardado às sete chaves. Imerso na sua caixa de Pandora.

Começamos a vida à dois e aos poucos os itens da lista foram sendo riscados. Até que um dia eu questionei quando ele se atiraria no mundo acadêmico.

A resposta veio em um rompante, como são todos os arroubos de ideias desse cara singular:

- Quem sabe agora!?

No dia seguinte era o último dia de inscrição do vestibular. Era também a data de uma palestra que ele daria para os alunos de arquitetura do ILA.

Meia hora antes do horário do banco fechar, levantei discretamente no auditório, fui no ouvido dele e disse que iria lá fazer a inscrição para o vestibular. Ele me olhou e balbuciou de longe:

- Para História, né?

Eu acenei que sim e sai ventando para a agência do Banco do Brasil. Naquela fila imensa e lenta me parei a pensar na vida.

Com o manual do candidato em mãos, folhei as páginas e viajei nas possibilidades. Um mundo de caminhos distintos naquelas páginas esverdeadas.

Quando chegou minha vez o caixa perguntou o código do curso. Pensei...entre rememorar fatos históricos e desvendar os mistérios do pensamento...filosofia!

A partir de então, o mundo das imagens era também o dos pensamentos. E vice-versa.

Foi um desafio do tamanho do mundo. Quem acompanhou de perto sabe a dureza de cada uma das etapas.

Textos densos, rotina estafante, pautas do jornal misturadas aos viajantes do saber.

Tudo isso em noites frias, onde o silêncio era rasgado pelo ronco do Fusca azul. A rota "Porto-Areal Fundos" era infinita. Insana. Intraduzível!

Foram muitas as dúvidas. Mas se a filosofia é feita de muitas perguntas e os sonhos para serem transmutados: eis a resposta!

A verdade é que a filosofia mudou a nossa vida. Sim, a nossa: Nauro, Gabi e Sofia. Por isso amanhã riscaremos juntos, no Café Aquários, o último desafio do guardanapo.

Seremos seis mãos riscando o papel. Três seres realizando um sonho em comum. E como disse Aristóteles, a coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.

Parabéns meu amor e que venham mais guardanapos na nossa vida!

5 comentários:

Denise disse...

Gabi querida! Lindo e emocionante como sempre. Parabéns ao Nauro! Parabéns a vocês!!

Cuca disse...

Que lindo, Gabi. :)

lugastal disse...

Devorei cada palavra como se sentada na mesa do aquário estivese. Sou feliz em acompanhar essa história de amor e conquistas!!!!

Anônimo disse...

Dizer que é lindo parece pouco! Dizer que me emocionaste soará repetitivo!
O que dizer então?! Digo que conhecer uma família como a de vocês é uma das Bençãos que o Bondoso Deus me concedeu! Adoro Melancia porque Adoro Gabi, Nauro e Sofia! Bjão amigos e continuem felizes :)
Tania Marisa Blaas

paula varela disse...

Com o coração nos olhos li esse testemunho de amor, parabéns amigos, pelas conquistas e por nunca deixarem de riscar sonhos em guardanapos.