domingo, 21 de novembro de 2010

Pipoca de mel

Me criei correndo e brincando em meio as escadas e bancos do Hipódromo da Tablada. Minhas fotos de infância mesclam entre aniversários, natais, e fotos ao lado de cavalos, jóqueis e todo aquele universo que foi meu cenário de menina.

Posso dizer que desde que me entendo por gente meu pai faz parte dessa história. No ano passado, quando ele decidiu formar uma chapa, e se candidatar à presidência do Jockey Club de Pelotas, fiquei receosa. Ele estava em plena luta contra um câncer, que já tinha levado seu rim direito.

Enquanto isso a antiga diretoria estava atolada em estórias muito mal contadas. O abacaxi não era pequeno e ainda por cima muito azedo. Cheguei a comentar se aquele seria um bom momento, já que imaginei que teria um desgaste além do imaginável. Pensei que não seria o melhor remédio.

Com seu estilo singular, meu pai me respondeu:

- Eu sou homem de morrer lutando!

Acatei sua decisão e durante este ano e meio o apoiei incondicionalmente. Foi uma árdua batalha pela revitalização do nosso querido “prado”. Liminares na justiça e pressão por todos os lados.

Depois de muita água rolar por debaixo da ponte, este domingo foi marcado pela reabertura da Tablada. Apoiado por um grupo de fiéis escudeiros e pela força impressionante da minha mãe, eles conseguiram. O Jockey Club de Pelotas reconquistou a Carta Patente, ganhou novos ares e estava de volta, ainda mais especial.

Quando nos aproximamos de carro e vi aquele pavilhão repleto, comecei a me emocionar. Eu não imaginava que tanta gente estaria lá. Eram pessoas das mais variadas idades. Famílias inteiras, amigos, desconhecidos. Eram os velhos freqüentadores do prado, que estavam órfãos do seu programa de domingo. Eram os jovens, empolgados como a retomada de um patrimônio de todos.

Percorri as velhas escadas da Tablada inebriada com a alegria daquele público. Vi lágrimas escorrendo dos olhos de gente para quem o Jockey era parte de sua vida. Entre abraços e sorrisos, enxerguei o quanto tinha valido à pena aquela batalha. Senti um orgulho enorme transbordar do meu peito.

Desci para comprar uma pipoca para Sofia. Contei que quando eu tinha a idade dela, sempre comia uma pipoca com mel, que vendia atrás do pavilhão dos remates. Nos dirigimos para carrocinha e uma moça simpática nos atendeu. Pedi uma salgada para Sofia e nisso vi que ela tinha a tal da pipoca com mel, uma raridade entre os pipoqueiros modernos.

Comentei com a menina que quando eu era pequena sempre comia aquele tipo de pipoca, e que me dava um gosto de infância na boca. Falei que tinha um pipoqueiro que sempre ficava naquele local e que era uma referência para o meu tempo de criança. Foi então que ela brilhou os olhos e me disse:

- Era o meu pai!

Enchi os olhos de água e sai com a Sofia pela mão, saboreando aquele gosto maravilhoso de domingo.

Eu não disse pra ela, mas tive a certeza de que meu pai tinha feito a coisa certa!



9 comentários:

Janice Coelho disse...

Me emocionei com esse texto. Há jmuitos anos atrás, minha mãe me falou da tal pipoca com mel, e eu noa consegia imaginar, como assim uma pipoca que vem em formato de tijolo? Hahahaha
Eu nem era muito chega ao mel. Daí a mãe resolveu passar o prado, só pra comprar a tal pipoca pra gente, foram 5 pipocas com mel que ela comprou, e eu nunca me esqueci do quanto eu gostei, só da pipoca, mas de compartilhar de um gosto da infância da minha mãe.

Anônimo disse...

Que lindo Gabi! Eu também lembro da infância quando penso em pipoca com mel. Meu pai sempre trazia pra mim e minha mãe na volta dos jogos do Xavante. Que bom que teu pai conseguiu colocar o "prado" na ativa de novo. abração (Tania Blaas)

Anônimo disse...

LINDO! LINDO! LINDO!
Tem coisa melhor que sentir orgulho dos nossos heróis?
Diz pro teu pai que agradeço, com o prado de volta meu pai é bem mais feliz! E meu irmão tbm!

mil bjos minha amiga querida! Tenho novidades! O Nauro te conta!

bj

Unknown disse...

Que texto lindo, me emocionei.
Quando recebi teu e-mail falando da reabertura do Jockey me deu uma saudade da minha mãe, ela adorava, nos levava sempre para ver o Grande Prêmio Princesa do Sul, não pude ir hoje, mas irei em outro dia com certeza.
Pipoca de mel, comi ontem, de vez em quando peço para minha irmã fazer, eu não sei.
Mas sem dúvida nada como a pipoca da carrocinha.

Parabéns para o teu pai e para nós que temos o "prado" de volta.

KIKI disse...

ORGULHO!!! SÓ O QUE TENHO A DIZER

eunice disse...

Como não se emocionar?Voces estão todos de parabéns com a bela tarde de ontem que aconteceu no Jockey... Nossa cidade precisa de mais gente que se preocupe com ela assim com o nosso querido Carlinhos e sua amada Pituca.
Me orgulho dessa familia!
Abç da tiaonice.
Ah! que saudades da pipoca com mel! Ainda bem que Sofia comeu...

Anônimo disse...

Filhas queridas,nossa alegria é imensa... tenham certeza que o que nos move a lutar é compartilhar com voces estas "pipocas com mel".
1 beijo grande, Mãe.

Francisco Antônio Vidal disse...

Parabéns pela crônica, vi no Diário. É uma homenagem ao pai, à cidade e à família. AO mesmo tempo poética e realista.
Terias uma foto da pipoca com mel? Jà viste ela fora de Pelotas?

Anônimo disse...

Só saber que meus netos vão comer pipoca com mel e seus netos tambem ,que 2 mil pessoas vão ter seu emprego garantido valeu a luta pelo JCPelotas nos seus 80 anos.
Só tenho que agradecer a Deus a familia que eu tenho pois sem ela nada seria possivel...beijos Tatai