sexta-feira, 22 de junho de 2012

A vida e os ciclos

A correria do cotidiano nos remete a uma sensação de fuga. Andamos com pressa, não temos tempo a perder.

Sorrimos bem menos do que deveríamos. Economizamos abraços. Suprimimos a espontaneidade de falar com o coração.


E assim os dias passam, os meses correm e a vida voa. Até que o inesperado bate à nossa porta.

Meu pai foi embora assim, sem aviso prévio. Um infarto o levou na madrugada de 22 de junho do ano passado. No dia em que o Jockey Club completava mais um ano de existência.

Em um universo de 365 dias, é difícil acreditar que tenha sido coincidência. A entidade que ele fez ressuscitar aniversariava. Ele partia como se tivesse cumprido sua missão. E cumpriu.

Nesse momento um ciclo se fechou. No começo nossa reação de incredulidade nos anestesia. É uma forma de defesa, acredito.

A morte é fria, distante, e ainda incompreensível.

Aos poucos os dias passam, nos carregando para mais adiante. Aquela dor aguda se transforma em saudade.

A vida é finita. Temos certeza disso, mas a perda nos atira o balde de água fria na cara.

Temos sinais o tempo todo de seus ciclos. Mensagens cifradas. Recados explícitos para que a sua fugacidade voraz seja compreendida.

Até enfrentarmos a primeira saudade, imaginamos que temos muito tempo pela frente.

Por isso, cada vez que um ciclo se fecha, precisamos ler a mensagem que esse espaço de tempo imprime na nossa história.

Transformar os ensinamentos em combustível para seguir a estrada. No meu caso conviver com aquela pessoa irreverente, cheia de bom humor, e de cabelo despenteado, foi um presente.

Tivemos mais de quatro décadas juntos. Ele foi o cara mais autêntico que já conheci. Cativou, por ser ele mesmo. Sem falácia, com transparência.

Elementos raros no mundo das imagens distorcidas que vivemos.

E hoje, nessa data tão simbólica, tenho esse mosaico de bons momentos. É o meu bálsamo.

Pensando nas mais diversas formas de homenageá-lo, surgiu essa ideia. Se o principal recado do meu pai foi de viver intensamente, nada melhor do que fazer isso. Saborear até a última gota.

Foi assim que ele fez no seu ciclo, e é assim que eu quero me lembrar dele.Por isso, meu desejo para essa data é simples. Faço um pedido a todos os amigos do querido Carlinhos Mazza.

Que cada um viva essa sexta-feira com toda sua força. Celebrem a vida por completo, sem meias palavras.

Tenho certeza de que essa boa energia chegará até ele, onde quer que esteja!

domingo, 17 de junho de 2012

Pequena

Sempre que a data do aniversário da Sofia se aproxima, meu coração começa aos solavancos. Uma mistura de sentimentos me invade.

Tenho vontade de dizer tanta coisa. Mas nada sai.

Talvez seja a possibilidade de não traduzir literalmente a emoção que sinto. Sem saber por onde começar, vou contar aqui uma coisa que me aconteceu.

Fui contratada para fazer a divulgação do disco “Contos de Água e Fogo”, da banda Nenhum de Nós.

Recebi pelo correio alguns CDs e a missão de entregá-los nas rádios, junto com o release.

Dei início à missão. Enquanto dirigia para a primeira entrega, coloquei para ouvir no carro a música de trabalho. No Cd começou a rodar “Pequena”.

Comecei a ouvir e uma sensação estranha me invadiu. Sem ao menos esperar, uma avalanche de lágrimas me obrigou a parar o carro.

Estacionei e ali fiquei. Como se estivesse sentada na poltrona de um cinema, assistindo a um filme dentro de mim.

Nossa pequena estava crescendo.

Lembrei daquele bebezinho frágil, que olhava com intensidade através da incubadora da UTI. No quanto nos falou aquele olhar.


Disse para não desistirmos. Garantiu que éramos invencíveis.

Naquele tempo ainda não sabíamos nada da vida. Ela chegou com sabedoria. Chegou sendo Sofia.

E foi ouvindo a música, debulhada, que entendi isso.

...Me oriento por
Seu inocente amor
Que muito me ensinou...

Entendi que os encontros estão marcados. Até isso acontecer, tudo é preparação.

As pessoas que tocam nossas vidas. Os amores que cruzam nosso caminho. As amizades que passam.

Chegadas e partidas. Tudo uma ponte para o encontro. Tudo é uma coisa só

E essa é a certeza que a Sofia me trouxe. Antes de tê-la ao meu lado, a vida era legal. Hoje, é uma dádiva. É para ser sugada, vivida, dançada.

E então, para dividir com todos os anjos que estiveram conosco nesses sete anos, fizemos esse vídeo.

Que sirva para cada um celebrar a vida. Para viver intensamente o seu grande encontro. E para que possamos estar aqui, com nossa pequena, desbravando a vida!

Edição: Jacques Douglas (obrigado pelo carinho!)