sábado, 28 de dezembro de 2013

As palavras



As palavras são parte da minha alma. Compõem o meu ser. Estruturam cada centímetros do corpo. Oxigenam as minhas células.

As que digo, reafirmam o meu amor. Exalam as dores. Reconfiguram minha insensatez.

As que escrevo, dividem minhas angústias. Autenticam meus sonhos. Sinalizam a estrada.

As que leio, me levam a outros mundos. Traduzem indecifráveis certezas. Avançam sobre um território desconhecido. São meu GPS.

Ler é sempre um mergulho. A mesma sensação que a imersão na água me causa. Paz e leveza atemporal!

Escrever é a viagem. Desbravo comigo os caminhos desconhecidos. Revisito a memória. Reviro minhas saudades. E me acho!

 Nesse ano que fecha as portas escrevi bem menos do que gostaria.

As palavras surgiram de outra forma.


O trabalho consumiu o tempo para as divagações. Os livros, a editora, as assessoria. Frutos profissionais foram mais que positivos.

Mas as minhas palavras ficaram em suspenso. Faltou a fatia da melancia gelada.

Deixei o cotidiano avançar sobre meu passeio interno. Senti falta de conversar comigo. De estar mais nesse pedaço virtual tão descortinado e ao mesmo tempo pessoal.

Por isso eu quero que em 2014 uma chuva de palavras inunde o cotidiano.

Que a alma transborde de pensamentos, dizeres, falta de nexo, descobertas, confissões, desejos e o que mais a junção de letras permitir expressar.

Em todos os tempos verbais, que venham as palavras do novo ano. E que não fique para amanhã, o que deve ser escrito hoje.

O que deve ser dito, que seja dito.


Feliz 2014 e suas palavras!

sábado, 22 de junho de 2013

Desejos mágicos


Quando eu era pequena, ficava imaginando que um gênio da lâmpada iria vir perguntar qual poder mágico eu gostaria de ter.

Tive essa ideia por volta dos seis anos e minha resposta imediata ao homem da garrafinha seria o poder da invisibilidade. Queria poder estar nos lugares, sem ser vista. Nas conversas de adultos, aprontar qualquer coisa e jamais ser descoberta.

Lá pelos nove anos, minha urgência era ver o mundo além das fronteiras da Charqueada. Ansiosamente, a mágica seria de voar pelos céus. Levitando nas nuvens, eu dançaria lá em cima, olhando bem de perto as cores do arco-íris.

A adolescência me fez parar de pensar em coisas de criança. Mas lá no fundinho eu sonhava com um pozinho mágico que me faria a guria mais encantadora do recreio do colégio.

Imagina que falta de originalidade. Típico da idade!

Aos 20 eu queria tocar o mundo com meus pés e não esperei pelo gênio. Peguei minha mochila e tomei o rumo além do Atlântico. Esqueci de vez a brincadeira dos desejos mágicos. Me achava a pragmática, super decidida.

A vida rolou no seu ritmo e aquela ideia se perdeu nos anos seguintes. Até hoje pela manhã.

Dia 22 de junho passou a ser uma data marcante na minha vida. Há dois anos meu pai se foi apressado. Sem despedidas, nem avisos. Evaporou do nosso convívio.

Estranho demais essa tal de morte.

Viver o fluxo da vida sem esse cara que me deu tantas características suas, não foi tão simples assim.

Aos poucos compreendemos, mas nunca nos adaptamos.

E hoje, quando cheguei em casa, me ocorreu essa lembrança. Sentada no trapiche, nessa manhã ensolarada, lembrei do gênio.

Foi lá, olhando para aquela água prateada. Na beira do arroio onde ele pediu para “morar”, onde estão suas cinzas. Me veio na mente aquele gênio!

De imediato recordei as tantas ideias que tive ao longo de cada idade. Afinal de contas, tive uma relação estreita com o esse ser imaginário. Trocamos confidências nunca antes reveladas.

E foi aí que decidi fazer um pedido. Mesmo passando dos 40, achei que o gênio poderia relevar minha alma criança e quem sabe atender.

Sem cerimônia, pedi que ele criasse um telefone para eu ligar para o céu.

Eu queria falar com meu pai. Só uma vez mais!

Contaria que estamos bem, mas que não nos acostumamos sem ele.

Ele ficaria faceiro em saber que a Sofia completou oito anos na terça passada. Contaria detalhes do aniversário. Tentaria traduzir o quanto especial está essa neta mimosa, cada vez mais firme e forte.

Ah, e a mãe! Ele daria gargalhada ao saber que finalmente ela se animou a fazer o Caminho de Compostela. Sim, a mãe virou mochileira. Obviamente eu contaria os bastidores dessa viagem e daríamos muitas risadas.

Sempre nós os dias implicando com a mãe, óbvio!

Imagina quando eu contasse sobre o livro do Nauro. Que aquela história que ele adorava repetir, sobre o naufrágio do Nico, acabou virando um livro. E o livro vai virar filme...

Ele pegaria demais no pé do Nauro, típico dele!

O gênio teria que pagar uma conta bem alta nesse interurbano. Não teria como abreviar nada. Nossa saudade é urgente e infinita. Eu teria tanta coisa para dizer ao meu pai hoje.

A saudade é um sentimento estranho. Ela está sempre ali, mas às vezes cutuca o coração da gente mais forte.

Vez que outra vira angústia. Outras vezes é risada, tema para causos, nos faz até falar sozinho. 

Por isso seria tão bom se nossos desejos mágicos pudessem virar verdade. Pelo menos uma vez, para amenizar um pouco.

Enquanto o gênio não aparece, vou aproveitar esse dia inteiro para lembrar o quanto tive sorte de ter um pai tão especial.

Saborear essa saudade, em vez de sofrê-la!

domingo, 20 de janeiro de 2013

Verdadeiras celebridades

Foto: by Madre Mia

Fim de tarde, clima de verão e energia das cores latinas nos rodeando. O motivo do happy hour era a despedida de um casal pra lá de querido.

Depois de recarregarem as energias na Krypton-Satolep , eles estavam prestes a voltar à vida real, em Recife.

Essa época do ano tem esse encanto. Pelas ruas, restaurantes e esquinas da cidade encontramos rostos desgarrados.

Gente que foi para outros pagos em busca de algum emprego, sonho ou amor. Voltam para rever a família, reconhecer velhos amigos e enxergar o que ficou. Reabastecem as energias para alçar novos voos.

E para recebê-los aqui no centro do nosso universo, sempre tem alguma novidade. Esse ano os forasteiro compatriotas encontraram o Madre Mia.

Um lugar que reúne muito da alma cosmopolita de Pelotas. Tem base na mistura latina, mas sua áurea vai muito além das tapas espanholas ou do cardápio criativo.

Nas paredes estão expostas obras de artistas diversos. Gente que habita esse celeiro de talentos que nos rodeia.

Entre as mesas a diversidade de rostos dá ritmo ao bom gosto musical que ecoa. É um lugar moderno, agradável e cheio da essência da vida.

E foi entre uma tequila frozen de mirtilo e uma hamburguesa de vaca que vi adentrar aquela pessoa. Ela estava acompanhada do genro, filha e netos.

Chegou, chegando, como de costume.

Sempre elegante e com o acessório que não dispensa. Um largo sorriso no rosto. Era Dona Léa, aquela senhora admirável que já foi assunto aqui no blog em 2011.

No alto de seus 85 anos, demonstrava total intimidade com o ambiente multi-color. Levantei na hora para abraçá-la e disse para os amigos que me rodeavam:

- Essa é Dona Léa, uma verdadeira celebridade!

Exalando o carinho de sempre, me retribuiu com um beijo. Sim, sou fã incondicional dela. Dessa alma permeada de vida que ela carrega por trás do batom vermelho.

Abracei e reverenciei sua sempre presente alegria. 

Para mim celebridade é gente que nos inspira. Quem ensina alguma coisa mesmo sem perceber. Aquele que dá a lição simplesmente pelo seu jeito de encarar o temporal.

E nesse mundo de distorções, Big Brothers e Adriane Galisteu, me agarro à liberdade de eleger minhas próprias referências. Gente de verdade, não criaturas pedantes. Espécies carentes que esmolam sentimentos de admiração na capa da revista Caras ou em cópias do modismo.

Por isso elegi esse post para abrir os trabalhos de 2013.

Pra começar bem o ano quero brindar às celebridades de verdade. Essa gente admirável, que devora a vida com o deleite que ela merece.

Pessoas como Dona Léa e outras tantas, que desfilam pelos dias aproveitando do simples ao complexo. 

Gente que brinda sempre. Seja entre as cores do Madre Mía ou na esquina que encontrar um bom motivo.

À todos eles, salud!