terça-feira, 30 de março de 2010

Meus heróis

Quando eu era adolescente sonhava em ser oceanóloga e cruzar os mares do mundo a bordo da Expedição Costeau. Eu era fã de Jaques Yves Costeau e sua trupe de defensores da natureza. Naquela década de oitenta, esse era um assunto ainda raro, e como não existia internet, muito pouca informação chegava às nossas mentes juvenis. Lembro que tinha uma marca de chocolate, que vendia cartelas da coleção do Costeau, com animais aquáticos dos mais variados. Eu juntava e guardava com muito zelo aquele bolo de bichos lindos, entre eles o famoso boto cor-de-rosa da Amazônia, que tinha fascinado o pesquisador. Uma vez minha amiga Lílian, sempre uma cidadã do mundo, morou por um tempo em San Diego e me trouxe de presente um adesivo verde e branco, da Fundação Costeau. Era uma relíquia, que colei com carinho no meu fusquinha 79, cor de cereja. Eu já cursava a faculdade de Educação Física, depois de ter rodado no vestibular da Furg, para oceanologia. Eu rasgava as ruas da cidade cheia de bossa, e imaginava que meu fusquinha era uma espécie de carro-anfíbio da expedição.

Nessa mesma época conheci as aventuras de Amyr Klink, e foi amor à primeira vista. Aquele cara obstinado, tinha cruzado o Atlântico à bordo de um barco a remo, no sabor das correntes. Nossa, que pessoa incrível. Li o seu primeiro livro e sublinhei de caneta marca-texto cada frase impactante. Era uma bíblia da perseverança para mim. Depois disso virei sua fiel seguidora. Inclusive uma vez que ele veio dar uma palestra aqui, no Parque Tênis Clube, fiquei na fila do gargarejo, tirei fotos e obviamente não descolei do cara. Os anos passaram e ele seguiu buscando e realizando sonhos. Típica alma de herói.

Nesse mesmo tempo minhas manhãs de domingo tinham compromisso inadiável com a presença de Ayrton Senna nas pistas do mundo. Como a maioria dos brasileiros, fiquei fã da fórmula um e em pouco tempo discutia até os comentários do Galvão Bueno. As entrevistas do Senna eram sempre permeadas de lições de humildade e bravura.

Ele era o cara!

E estava no ranking dos meus heróis, assim como a Família Schurmann, Renato Russo, Caco Barcellos, entre tantos outros ídolos da minha geração, que me ajudaram a enxergar a vida do melhor ângulo. Me mostraram que eram de carne e osso, tinham chegado lá e seus valores eram verdadeiros. Foram pessoas que com suas atitudes, deram o exemplo.
Hoje faço uma força enorme para pensar em uma lista de cinco nomes de heróis para minha fase de maturidade. Fico pensando também, quem serão os heróis da Sofia. Hoje seu único herói é o papai, mas mais adiante sei que terá seus ícones do mundo.

Mas em um mundo onde o horário nobre exibe o Big Brother e uma cambada de gente vazia, que fala palavrão, prega o preconceito e ainda por cima ganha dinheiro por isso, fico pensando nos futuro heróis da minha filha.

Quem serão eles?

sexta-feira, 26 de março de 2010

Ai vem ela

Não gosto de sentir medo. Acho esse um sentimento covarde. Pode parecer uma obviedade, mas quando ele chega, acho que perdemos de alguma forma nossa força em essência. Sei que ele também ajuda a termos reações rápidas, e muitas vezes decisivas. Mas pelo que me recordo dos nossos meses de hospital com a Sofia, as decisões mais sábias foram tomadas pela sobriedade e esperança.

Mas enfim, vamos ao que interessa.

O verão acabou e o outono já apontou aqui na esquina, com cara cinza e as tais mudanças de temperatura. O reflexo aqui em casa foi imediato. Eu comecei a acordar com rinite e a Sofia já está encatarrada. Quarta-feira fomos à consulta no Dr. Flávio, e pela auscuta no pulmãzinho dela, o sinal amarelo acendeu. Começamos imediatamente um tratamento daqueles, para prevenir complicações típicas dessa época do ano. Até aí tudo dentro da normalidade do nosso cotidiano com a Sofia. Mas quando perguntei ao médico, sobre a vacina da gripe A, ele disse:

- Não vacinaram ainda? Tem que fazer isso imediatamente!

Na hora a tal sensação de medo tomou conta de mim. No ano passado passei meses de angústia, pela companhia constante da sombra dessa tal gripe A, até então desconhecida, mas letal para pacientes com o histórico da minha mimosa. Então, junto com as notícias massificadas pelos veículos de comunicação, apareceu um medinho guardado há quase três anos no meu coração. A sensação de impotência frente a algum mal que poderá atingir um filho. Esse realmente é um sentimento novo, que durante minha vida de filha não sabia que existia. É estranho e gera uma gama maluca de sensações. Então fiquei bem quietinha, sem falar muito no assunto, como se o silêncio fosse afastar esses pensamentos da minha cabeça. Então o inverno passado foi-se, a tal pandemia da gripe de arrasto, e os meus medos voltaram para “caixinha” secreta, bem lá no fundo da alma.

Até que o assunto da gripe retomou a vitrine. Desde a semana passada, quando levo a Sofia no colégio, o assunto recorrente entre as mães é a tal vacina contra a gripe A. Parece que o estado de alerta é geral, entre as leoas de plantão. E eu, obviamente, que tenho uma filha no grupo de risco, saquei imediatamente o meu medo da “caixinha” e tenho convivido secretamente com essa sombra de novo. Já entrei em contato com a clínica que fornece a vacina importada, mas só chega em maio.

Muita procura. Poucas doses. Muitos medos.

Que ótimo, e agora?
A solução do Dr. Flávio foi levarmos a Sofia para vacinar na rede pública. Só que a vacina lá não é a importada, e os efeitos colaterais podem ser maiores. Hoje vou buscar os atestados e ver se consigo me encher de coragem. Vou esperar o final de semana passar. Preciso organizar meu estoque de forças internas e dar um antídoto para esse sentimento chato, angustiante e pesado do medo que me acompanha. Preciso só de um oxigênio, e já estou com meu arsenal pronto, e isso inclui bem um exército de anjinhos amigos que nunca nos deixaram na mão.

*Leia-se, entre o céu e a terra!

Conto com vocês, viu?!

terça-feira, 23 de março de 2010

Carta para minha mãe

Hoje, 23 de março, minha mãe completa 62 anos de vida. Durante esses 41 anos e alguns meses, caminhamos sempre juntas. Ela casou grávida de mim, aos 19 anos, e acho que por termos passado por muitos desafios juntas, sempre fomos muito amigas. Imagina a cena, em pleno ano de 1968, uma jovem loura e linda casando de mini-saia e com um barrigão de seis meses. Acho que por ter nascido no ano da efervescência política, acabei incorporando esses sentimentos na minha personalidade.

Mas voltando a minha mãe, sempre caminhamos juntas. Muitas vezes ela me puxou para frente. Outras tantas eu dei um empurrãozinho para ela seguir na estrada. Mas ela sempre esteve nos momentos mais importantes, com sua presença acolhedora. Com seu jeito prestativo, trazendo uma comidinha mais gostosa, uma meia mais quentinha, ou seja, um detalhe de carinho que sempre fez toda diferença.

Então hoje pensei em escrever um post especialmente para ela. E quando estava começando a traçar as primeiras linhas, achei uma carta que tinha escrito há poucos anos atrás. Foi na época em que engravidei da Sofia, aos 36 anos. Dei para ela de presente de Dia das Mães, em maio de 2005. No final das contas a Sofia nasceu um mês depois, prematura. E durante os infindáveis meses naquela UTI, seu suporte foi essencial. Hoje, quando vejo ela e a Sofia tão amigas e amadas, tenho a certeza de que nosso laços serão eternos. E ao reler esse texto de 2005, percebi que o que eu queria dizer a ela hoje, já tinha sido escrito. E por isso divido aqui hoje, nessa data tão especial, mais essa janelinha da minha alma. Parabéns mãe, por ser assim, tão mãe!

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Carta para minha mãe - maio/2005

Mãe,

Finalmente chegou esse dia: passei de filha à mãe!
Sei que tudo na vida vem na hora certa e sinto que hoje a Sofia chega no momento mais feliz da minha vida. Desta forma me sinto segura para mostrar para ela o mundo lindo que acredito existir. Sei que durante esses 36 anos em que fui só filha, tive uma missão especial nesta “posição”. Sabemos bem quantas passamos juntas e o quanto seguramos várias pontas em momentos delicados.

Hoje, ao lado do Nauro, sinto que encontrei o que sempre buscava: uma pessoa para dividir meus sonhos e construir meus alicerces para toda vida. A Sofia veio como uma confirmação desse momento, e tenho certeza, vai nos dar muitas alegrias. Ao mesmo tempo olho, para vocês dois, meus pais, e sinto que estão finalmente no caminho seguro e feliz. Sei que todas as turbulências dos últimos anos serviram para acertar o rumo, fortalecer os laços e separar o “joio do trigo”.

Hoje somos todos mais felizes !

Nesse nosso primeiro Dia das Mães, em que também vou "ganhar" presente, acho que temos muito a celebrar. Além de comemorarmos nossas conquistas, temos que celebrar o quanto é bom estarmos juntos, esperando com tanta emoção mais uma ‘menina’ para compartilhar dessa vida linda. Nesse cartão, não vou fazer como os de tantos anos... “desejar isso ou aquilo...”.

Hoje, tenho certeza que temos tudo que desejamos na vida e sei que Deus nos privilegiou em ter esses laços tão fortes e seguros. Portanto, hoje é dia de curtir tudo isso. É dia de agradecer. Obrigado!

Feliz Dia das Mães pra gente!

Com amor,

Gabi

domingo, 14 de março de 2010

Recheio

foto: Nauro Júnior




O prazer por saborear o recheio deve vir de infância. Dia desses mandei umas bolachinhas “Passatempo” na merenda da Sofia e voltaram soltinhas. Ela lambeu todo recheio e deixou as coitadas das bolachas peladas. Fiquei matutando sobre aquele ato infantil, mas já tão cheio de significados.

Daí na sexta-feira passada buscamos a Sofia no colégio, e a convidamos para fazer um happy hour em um lugar que ela adora. Chama de “coqueirinho”, porque tem um exemplar da espécie, de plástico verde e com côcos artificiais, dando boas vindas aos clientes. Então sentamos os três nas mesinhas do Cruz de Malta, que tem vista para a avenida Dom Joaquim. Para quem não nasceu em Pelotas, essa é uma das avenidas que corta a cidade e onde se aglutinam dezenas de jovens sarados e famílias com crianças no final do dia. Alguns vão para tomar um mate no final do dia e outros para “expor a figura”, como diziam naquela novela indiana da Globo. Mas enfim, mal sentamos e passa um daqueles guris bombados, todo lustroso, com músculos por todos os cantos do corpo. A barriga um dia deve ter sido tanquinho, mas agora mais parecia uma lavanderia. Além disso, corria com um cabelo estrategicamente descabelado e com um bronzeado SOS Malibú.

O Nauro na hora seguiu com os olhos aquele exemplar da mesma espécie, e comentou:

- Bahh, esses caras passam o dia na academia e depois vem se fazer que estão nessa forma porque dão uma corridinha no final do dia!

Eu ri e comecei a reletir. Me dei conta que desde os tempos de guria, tipos como aquele nunca me chamaram a atenção. Os meus namorados sempre tiveram cara de normal. Daqueles que quando a gente chegava em um restaurante, a mulherada não se coçava na cadeira pra tentar dar uma espiadela no moço em questão. Mesmo que não tenha um currículo tão extenso de namorados, a maioria foi escolhido pelo recheio e não pela embalagem. A escolha se estende às amizades e mesma que tenha muitos “pastéis de vento” à minha volta, os meus amigos de fé tem como grande qualidade a receita dos seus recheios.

Falei isso e começamos a falar exatamente sobre a importância do recheio. Muitas vezes o prato se apresenta com uma cara ótima, mas na primeira garfada a gente sente que aquela pimentinha em excesso vai dar trabalho mais adiante. Em outras situações comemos aquele petisco com cara de gordurento, mas que tem um temperinho caseiro único, que dá todo o charme. Tem também aquele lanche pasteurizado, que além de caro não alimenta nada, mas que o marketing do negócio acaba sempre nos puxando pra lá.

Assim são muitas das relações que nos cercam no cotidiano. E como a vida é uma refeição para ser saboreada com calma e prazer, decidi ser mais seletiva nas provas que ando fazendo. Tenho descoberto sabores exóticos que me cativaram. Afinal de contas, o recheio é tudo!


Manja che te fa bene!

quarta-feira, 10 de março de 2010

Sobre o encontro...

Gente, depois desse post dos fantasmas quero dar um tempo nessa história de abrir gavetinhas da alma.

Ufaa, fiquei moída!

O retorno da história é que fui ao encontro com os fantasmas e não foi tão difícil quanto imaginava. A casa a que eu me refiro no texto realmente não existe mais. Encontrei um lugar estranho, sem calor humano e até com os tantos resquícios da história apagados por uma maquiagem global. Uma pena!

Mas é o ciclo natural da vida e afinal de contas uma casa tem a cara de seus donos. Vou cuidar da minha que é muito legal e que me faz feliz demais!

Então, falando de papos mais amenos... só passei para indicar um post super divertido no blog do Nauro. Pra quem não conhece, é o meu maridão. Ele escreveu sobre carros cor-de-rosa. O escrito acabou na capa da Zerohora.com o dia todo, ontem. Adivinhem? Choveu gente enviando foto de carro a lá Penélope Charmosa, pelo Rio Grande do Sul a fora. Está muito legal. Leiam e divirtam-se!

http://www.zerohora.com/retratosdavida

sábado, 6 de março de 2010

Fantasmas


Foto tirada aos cinco anos, quando aprendi a andar
de bicicleta, no cenário da minha infância

Cheguei à conclusão de que a maturidade não nos trás só rugas e flacidez, mas serenidade para pensar as coisas por diferentes ângulos. A sabedoria dos orientais está baseada nisso, e não é a toa que quanto mais velhos, mais respeitados eles são. Acho que depois dos 40 começamos a engatinhar nesse universo, que pode ter mais prós do que contras, dependendo da evolução desse amadurecimento.

Tem gente que chega aos 50 com cabeça de 18, querendo beber a vida em um gole. Geralmente sofrem mais, porque em alguma das esquinas da vida, se dão de frente com o espelho, e daí não suportam olhar aquela figura refletida. Com as novas tecnologias a serviço da estética, esse se tornou um campo movediço, onde algumas vezes as transformações externas não acompanham as internas. A coisa é totalmente invertida e muita gente em vez de procurar uma terapia, ou um trabalho voluntário, gasta seu tempo e dinheiro com excesso de butox. Nada contra as cirurgias plásticas e melhorias na lataria, longe disso, mas a discrepância entre motor e lataria não podem extrapolar. Senão o Fusca perde seu charme de originalidade e a Ferrari vira lugar comum. Dá pra entender?

Mas esse prefácio abre caminho para uma das melhores coisas que o passar dos anos nos brinda. A coragem para declarar e enfrentar nossos fantasmas. É aquela velha história do espelho, só que quando isso acontece e enxergamos nele bem mais que o visível aos olhos, saímos ganhando. Eu tenho meus medos e mágoas, como todos, e por pensar com carinho neles acabei descobrindo que encará-los de frente é um desafio, mas também pode ser a solução.

Como esse blog nasceu com a missão de ser um divã-virtual, e percebi que escrever me ajuda a exorcizar esses medos, abro aqui uma porta secreta da minha alma. Esse passo também me dá medo, mas me dou ao direito, já que aos 40 anos estamos com um pé na incensatez da juventude e outro na sabedoria dos maduros. Pra resumir, deixo de lado os receios e me jogo aos anseios. E a partir dessa decisão, resolvi encarar de frente um fantasma que só aparece nos meus sonhos e pesadelos mais íntimos.

Em 2003 deixei junto com meus pais, a casa onde nasci e passei a maior parte da minha existência. Meus pais chegaram naquele lugar em um efervescente inverno de 68. Ela com 19 anos e grávida de mim, e ele um guri de vinte e poucos anos, que encarou o desafio precoce de formar sua prole. Ali escrevi 34 anos da minha história. As paredes daquela casa secular, guardaram os meus segredos de menina e minhas saborosas descobertas adolescentes. As raízes da figueira que testemunha séculos, serviu de casa para minhas primeiras bonecas. Fiz comidinha com as folhas e brinquei com os gravetos caídos do bambuzal. Nas águas daquele arroio que muda de cor a cada estação, lavei a alma das primeiras decepções amorosas. E nos cômodos imensos da charqueada, me enxerguei pela primeira vez como mulher. Uma vida mágica, naquela casa que se assemelhava às descritas por Isabel Allende nos seus romances. Mas na estrada da vida não existe ficção, e um belo dia vi acontecer ali, uma daquelas situações que a gente sempre vê na família ao lado, mas jura que nunca vai acontecer na nossa.

Minha avó querida, que sempre morou conosco, faleceu em 2001. Com a ausência da matriarca, a dor que invadiu nossas histórias não foi só da saudade. A divisão de bens trouxe junto a divisão de laços. Com isso, deixamos àquele cenário que povoou meus sonhos de infância de um dia para o outro. Meus pais sofreram muito com todas as mudanças: externas e internas. O peso que sempre demos aos laços de amor, essenciais e valorosos, deixou feridas expostas. Foram tempos difíceis e silenciosos. E como não acontece só nas novelas, a vida real trouxe uma dolorosa e traumática ruptura familiar.

Junto com a ausência física daquele lugar, sepultei pessoas que foram parte da minha história. E não digo isso porque somos uma família de italianos, mas porque éramos uma família de fato e sou muito definitiva nas minhas decisões. Nada jamais justificaria a opção pelos bens materiais. Ainda mais quando na balança estão sentimentos imensuráveis. Natais compartilhando a mesma felicidade, conquistas celebradas com abraços sinceros e tristezas abrandadas com os laços de sangue. Engoli em seco e sofri muito, sempre com essa gaveta da alma lacrada. Para agüentar, tomei como decisão deixar aquela parte da vida para trás. Desses tempos, guardo apenas um simbolismo. Um único móvel que meus pais tiveram direito de levar, e que por carinho me deram de presente. É uma linda penteadeira antiga que acomodei em lugar de honra da minha casa. Tenho poucas e raras fotos de minha avó. O arquivo que guardo, está em um backup secreto, guardado às sete-chaves, dentro da memória afetiva do meu coração.

Nunca mais voltei naquele lugar, mas confesso que muitas noites acordei de sobressalto, sonhando que estava em algum dos meus cantos preferidos de infância. Alguns amigos de fora, que vieram visitar a cidade, já quiseram ir conhecer a casa, que hoje é ponto turístico. Mas sempre consegui me esquivar, com desculpas discretas, que convenciam a eles, mas não a mim.

Hoje a noite o Rogerinho, um amigo querido, vai festejar seu aniversário lá. Todos os anos a festa acontece no mesmo lugar, e há exatos sete anos invento desculpas superficiais para não ir.
Hoje decidi que vai ser diferente. Resolvi marcar um encontro com meus fantasmas. Sem aviso prévio, deixando a vida acontecer. Quero levar minha filha amada para conhecer o lugar onde a mamãe foi muito feliz. A decisão veio de forma branda, talvez seja sinal desse tal amadurecimento. Lembrei de uma frase de algum poeta que não lembro agora, e que tinha em destaque em uma agenda escolar, aos 17 anos. Dizia:

“Descobri que tenho saudades não daquele lugar, mas daquela felicidade!”.

Hoje sei que aquela bifurcação da vida fez com que eu chegasse até aqui. Nesse meu mundo de hoje, acimentado pelos dois amores da minha vida: Nauro e Sofia. A nossa palafita tem cada pedacinho de nós três, e foi construída com a nossa história. Tudo exatamente como Deus planejou. Por isso agradeço a Ele e a sua sabedoria, que mesmo quando parece escrever a coisa errada, está nos levando para o nosso destino.

Então, que venham os fantasmas e suas respostas!

quarta-feira, 3 de março de 2010

(Dês)assistência

Esse tal mundo globalizado trouxe muita coisa boa para as nossas vidas. Esse mesmo texto que escrevo sentada na cama, com o ar-condicionado ligado, no século XIX seria escrito pela minha Voinha em uma escrivaninha de mogno, com uma caneta tinteiro em uma mão e um leque na outra. Hoje, essa mesma cena poderia estar acontecendo em qualquer canto, fosse em um banco da praça ou no topo do Aconcágua (Se o 3G da vivo não se fresquiar, é claro!).

Com a tecnologia dos dias de hoje, a comodidade da comunicação passou a ser imensurável nas nossas vidas. Mas tem uma coisa complicada nisso tudo. Como todo bônus tem seu ônus, viver no mundo moderno faz com que alguns sentimentos novos e estranhos nos acompanhem de perto. Nos últimos tempos tenho percebido uma sensação coletiva de desassistência. Sei lá se essa palavra consta ou não no dicionário, mas é exatamente essa a sensação que tenho em muitos momentos burocráticos da vida. Depois de 41 anos, pela primeira vez estou movendo uma ação na justiça. Sempre achei que existiam formas racionais de resolver as coisas e que nada seria substituído por uma boa conversa olho no olho. Mas esse é um privilégio que o mundo tecnológico nos furtou.

Na semana passada quase cheguei às raias da loucura falando com um desses robôs-humanos contratados pelo Credicard. Já estou movendo uma ação judicial contra eles, e queria apenas conseguir encerrar meu cartão de vez. Depois de resistir a várias investidas da técnica aplicada de “como enlouquecer e desrespeitar seu cliente em menos de cinco minutos”, não consegui o que queria. Todos os empecilhos foram colocados pela robótica treinada. Só faltou ela me pedir a data do meu batizado e a idade do padre naquela época. De resto perguntou tudo e mais um pouco para poder comprovar que eu, era eu mesma. No final me disse:

- Sinto muito senhora Gabriela, mas não vou poder efetivar o seu pedido!

Conste nos autos do processo que isso já fazia mais de 26 minutos de ligação, com uma tensão em nível elevado e palavras sutis que gostariam de dizer bem mais do que o dito. Quando me dei por vencida, exausta pela surra de tele-marketing que acabara de levar, a robótica me diz:

- Credicard agradece a sua ligação e tenha um bom dia!

Eu não pude acreditar. Como assim? Ela bebeu??!

Não resisti e sai da casinha. Peguei o celular e me transformei no incríevl hulk dos episódios de antigamente e gritei:

- E a senhora tenha um péééééééééssimo dia, se possível com dor de cabeça e pra completar que na hora de ir pra casa desabe um temporal em São Paulo e tu fiques presa no trânsito por cinco horas!!!!

Bom gente, depois dessa manhã calamitosa meu dia praticamente acabou. Parecia que eu tinha levado uma surra. Fiquei triste, sentida. Daí comecei a pensar nesse tal sentimento que me invadiu. É a tal desassitência. E se não consta no dicionário vou defini-la aqui:

Desassitência – é o contrário da palavra assistência, que tem origem no verbo assistir que, em sua forma transitiva direta, significa ajudar, auxiliar. Em outras palavras, a assistência é o ato de prestar auxílio, ajuda, para alguém.

A desassistência é o contrário disso e é um mal dos tempos globalizados, ainda sem cura!

terça-feira, 2 de março de 2010

Eliane Brum

O texto que publico abaixo é de uma mulher a quem muito admiro. Não apenas pelos seus prêmios literários e jornalísticos, mas pela forma que enxerga a vida. Já li todos seus livros e muitas de suas crônicas, mas essa em especial me chega no momento preciso. No mesmo dia em que a Sofia começa o colégio. Como já comentei aqui no post "Cordão umbilical", um dia muito especial nas nossas vidas.

Ontem tirei a tarde de folga para curtir com ela. Mas parece que nós as duas sabíamos que precedia a data de hoje. Tentamos fazer com que nada tivesse acontecendo, mas não conseguimos. Passamos a tarde pensativas e contemplativas. A noite o Nauro foi para o quarto dela, e nós as duas dormimos abraçadinhas. Precisávamos disso!

Agora pela manhã, quando pensei em escrever um post sobre isso, recebi do Nauro essa bela crônica de despedida da Eliane Brum. Como nada nessa vida acontece por acaso, ao ler cada parágrafo dessa despedida, encontrei sentimentos meus. Essa vida é mesmo incrível e ter coragem de reiventá-la, é parte de saber vivê-la.

Torçam por (todos) nós e curtam essas sublimes palavras de Eliane Brum!

beijos,
Gabi
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Escrivaninha Xerife
Minha nova vida precisa de gavetas e da coragem de assumir as cicatrizes
ELIANE BRUM


Esta coluna é inteiramente sobre mim. Aviso na primeira linha, que é para nenhum leitor reclamar que estava desavisado. Se achar que não vale a pena, pode parar por aqui e pular para outra.

Desde pequena, eu sonho com uma escrivaninha Xerife. Não sabia que se chamava xerife a escrivaninha dos meus sonhos. Descobri agora. Esta escrivaninha de madeira é cheia de gavetinhas e escaninhos de vários tamanhos e tem uma tampa. Quando você para de trabalhar, você fecha e ninguém sabe o que há lá dentro. Não tenho a menor ideia de onde eu possa ter visto uma dessas na minha cidade, lá no interior do Rio Grande do Sul. O fato é que eu sempre achei que essa era a única escrivaninha que um escritor poderia ter. Por causa das gavetinhas e, especialmente, por causa da tampa.

É mágico. Você está lá, escrevendo, todo escancarado e, de repente, você fecha. E até chaveia. Seus anjos e principalmente seus demônios ficam lá dentro, sem risco de se dependurarem no lustre, esconderem-se em algum lugar onde você não os ache ou mesmo assombrar o resto da família. Tive várias escrivaninhas ao longo da vida, de fórmica à penúltima, toda modernosa, feita com madeira de demolição.

No sábado, comprei minha última, a minha própria Xerife. Por que só agora? Porque só agora a mereci. Decidi que vou me enforcar nas cordas da liberdade. Para isso, precisava me reinventar com tudo aquilo que já era meu. Para marcar este ato, queria transformar algo da matéria volátil dos sonhos em existência concreta. A escrivaninha dos devaneios da minha infância materializou-se, com tudo de incontrolável que existe quando nos arriscamos a desentocar os sonhos – com uma vara que é sempre meio curta – e os expomos às intempéries do real. Foi um ato de profundo simbolismo para mim, que adoro rituais de passagem. Um dia antes da compra, na sexta-feira, deixei a redação da revista ÉPOCA, depois de dez anos. Poderia continuar ali por mais 20 (se continuassem me querendo, claro), mas achei que estava na hora de inventar uma nova vida para mim.

Deixei Porto Alegre e a redação do jornal Zero Hora, onde trabalhei por 11 anos, em janeiro de 2000, para vir para São Paulo e para a ÉPOCA. Estava bem confortável lá. Mas há um momento que, pelo menos para mim, o conforto vira desconforto. Na ocasião, me perguntavam por que eu deixaria tanto para ir para uma cidade maluca. Eu estava em um ótimo momento. Tinha acabado de ganhar um prêmio Esso (que para os jornalistas é muito importante), tinha uma coluna de reportagem (A Vida Que Ninguém Vê) que eu amava, adorava a cidade, tinha mais amigos do que conseguia dar conta, meu próprio apartamento quitado etc etc. Eu gostava de tudo, mas estava curiosa com a possibilidade de criar uma nova história para mim. Respondia: estou indo porque não quero saber como será a minha vida daqui a cinco anos. E fui.

Agora, completei dez anos incríveis na ÉPOCA. Fiz reportagens que transformaram a minha vida (e, espero, algumas outras), perambulei por Amazônias desconcertantes (elas são várias e sempre escapam), viajei pelas muitas periferias de São Paulo e testemunhei pequenos grandes milagres de gente. Hoje, sou povoada pelos personagens extraordinários com quem cruzei nesta última década. Sou uma Eliane muito mais rica agora do que quando cheguei. E tudo o que vivi dará sentido à nova Eliane que virá. Não foi uma decisão intempestiva. Ela vem acontecendo dentro – e fora de mim – há um bom tempo. Há cinco anos tenho trabalhado nas férias e finais de semana em projetos paralelos, como documentários, livros, oficinas e palestras. Queria experimentar coisas novas e abrir outros caminhos para fora de mim. Outras maneiras de estar no mundo. Tenho uma convicção comigo: temos uma vida só, mas dentro dessa, podemos viver muitas. E eu quero todas as minhas.

Em 2008, comecei a escrever sobre a morte, de várias maneiras, em minhas reportagens na ÉPOCA. Olhar o rosto da morte, para mim, era desatar o nó que ainda me impedia de viver uma vida mais viva. Desde pequena, eu tenho esta característica. Quando tenho medo de alguma coisa, vou lá e faço. Quase perdi algumas partes do corpo por causa disso. E certamente perdi algumas porções invisíveis de mim mesma. Ao fazer a principal reportagem desta série, quando acompanhei uma paciente de câncer até o fim da sua vida, perdi um naco da minha alma de supetão. Levei um tempão para parar de sangrar, como quem acompanha esta coluna sabe.

Mas, um dos meus muitos apelidos é “Tixa”, de “lagartixa”. Há quem faça fantasias sobre a origem dele. Mas é bem menos picante. Passei a vida deixando a cauda em sustos pelas esquinas de mundo. Sempre acabo me regenerando, ainda que leve tempo. Todos somos lagartixas em alguma medida, apenas que eu abuso um pouco dessa vantagem evolutiva. Minhas incursões no universo da morte deram-me maior clareza sobre a natureza da vida. Algumas pessoas comentavam que eu devia ter algum problema para ser tão mórbida. Bobagem. Morbidez é outra coisa. Não se fala da morte por causa da morte, mas por causa da vida. Lidar bem com a certeza que todos temos de morrer um dia, mais cedo ou mais tarde, é fundamental para viver melhor. E para compreender a natureza fugaz e preciosa da vida.

A vida rugiu com mais força dentro de mim depois dessas várias reportagens sobre a morte. A última delas, que encerra um ciclo, sairá em breve na revista. Faço 44 anos em maio. Fiz uns cálculos e descobri que preciso me apressar se quiser conhecer o mundo inteiro – e eu quero. E também para escrever o tanto que sonho. Como já disse mais de uma vez, escrever não é o que faço, é o que sou. E estava na hora de comprar minha escrivaninha Xerife e mudar de cenário. Vou continuar fazendo reportagem. Apenas de um outro jeito, num outro tempo. Sou repórter até os confins da minha alma – e um pouco além. Se conseguir escrever ficção, como também sonho, só será possível pelo tanto de vida real e personagens de carne e osso que conheci nestes últimos 21 anos de reportagem. Só o real é absurdo. A ficção é sempre possível.

Estou com medo, muito medo. Volta e meia choro com saudade de uma vida que já não há. Mas eu não tenho medo de ter medo. Deixo um emprego seguro, numa revista onde respeitam o que sou e o que faço, com um bom salário e todos os benefícios, para me entregar ao vazio. Sei que tudo pode dar errado, sempre pode. Mas se der, eu invento outro jeito de seguir adiante. Esta é outra convicção que tenho: prefiro fazer as coisas do meu jeito e cometer meus próprios erros. Tanto quanto os acertos, os erros também devem nos pertencer. Esta nova vida que começa hoje vem sendo construída há muito, mas só no final do ano passado descobri que a hora era agora. Não sei como foi. Nem se houve um momento exato. Lembro de dois pequenos episódios, apenas. Num deles eu corria para algum lugar com o João, meu marido, quando ele interrompeu meu passo marcial e disse: “olha”. Eu olhei para todos os lados e nada vi. Até que, com a ajuda dele, localizei uma florzinha diminuta no meio do concreto. Nós nos acocoramos e ficamos olhando o tanto de detalhes que ela tinha. Como era especial e linda e única. Aprendi isso com o João, que se esquece de tudo para passar intermináveis minutos vendo a forma de uma flor ou de uma nuvem ou de uma fatia de bolo de chocolate. Nunca vi ninguém enxergar tanta beleza no mundo quanto ele. Somos tudo o que somos. Mas as pessoas que amamos exacerbam algumas partes de nós, para o bem e para o mal. E o João tem este efeito sobre mim, de me tornar o melhor do que sou. Naquele instante, percebi que corria tanto para fazer as tantas coisas paralelas que tinha inventado, que estava esquecendo daquilo que sempre deu sentido à minha reportagem, à minha vida: estava esquecendo de olhar de verdade.

O outro episódio aconteceu no final do ano. Eu estava com os meus pais na casa de praia que eles alugam a cada verão. E ficava olhando para eles. Me dava enorme prazer ver os dois se mexendo. Observar o jeito que cada um funcionava com relação a si mesmo e naquele casamento tão amoroso. (Eles andam de mãos dadas depois de 56 anos de casados e o pai dá flores pra mãe no aniversário de “conhecimento”). Num certo momento, fiquei olhando para o cabelo da mãe, o cabelo do pai, o jeito que o vento batia neles. E descobri que não podia mais continuar numa vida que eu não tivesse tempo para olhar o cabelo deles se mexendo com o vento. Quando voltei para São Paulo e para a ÉPOCA, soube que tinha chegado a hora de partir. E agora lá vou eu. Não sei bem para onde, mas sei que é para mais perto de mim mesma.

Comecei então a procurar minha escrivaninha. Entrei no Mercado Livre, o site da internet que vende tudo, e coloquei na busca: “escrivaninha antiga”. E aí veio de todo o jeito e de toda época, com pés palitos, forma de bambolê, e também a minha, que descobri que se chama Xerife. Havia vários exemplares, mas gostei particularmente de duas. Uma era do Rio de Janeiro, o frete seria caro. A outra morava em São Paulo. Apostei nesta. O dono me deixou dar uma olhada nela antes de comprar. E lá fui eu na quinta-feira com o João num galpão da Barra Funda. Ela era uma escrivaninha viva. Olhei para ela, ela olhou para mim, e eu soube que era a “minha”. Como na história do Harry Potter, em que é a varinha mágica que escolhe o bruxo – e só há uma varinha, única e singular, para cada bruxo –, a minha escrivaninha era assim, minha. Nasceu antes de mim e pertenceu a outros donos porque precisava me esperar. Examinamos, eu e o João, ela inteira. E descobrimos que ela tinha mais cicatrizes do que nos prometeram. E alguns moradores indesejados. Numa das gavetinhas, havia um ninho de cupins. Nas costas, ela tinha sido quebrada em algum episódio de violência ou mau humor. Mas eu nunca fui uma boa negociante. As coisas práticas não têm muito efeito sobre mim. A escrivaninha também me receberia com mais rugas e feridas fechadas e abertas do que talvez esperasse. Nenhuma de nós nasceu ontem. Ambas queríamos – e precisávamos – nascer de novo. Aceitei as cicatrizes da minha escrivaninha como parte da história de sua vida antes de mim. E fechei o negócio. Ela queria ir embora pra casa comigo já, eu senti isso. E o João também. Mas eu ainda precisava fazer o depósito e acertar o frete. Enquanto isso, o vendedor providenciaria um exterminador de cupins. Ao contar para a Maíra, minha filha, sobre a escrivaninha, eu dizia, toda empolgada: “ela tem cupins, mas também tem uma alma dentro dela!”. Com seu senso de humor peculiar, Maíra comentou: “Se tem alma, não traz para casa!”.

O problema é que eu tenho um fraco por almas. Venho de uma família de mulheres que falam com os fantasmas que vagam pela casa com a maior sem-cerimônia. Dava até pena do meu tio-avô, um homenzinho pequeno que passou a vida inventando objetos mirabolantes e deu a si mesmo um nome de passarinho. Quando ele arrastava os chinelos pelo assoalho, era despachado pela sua viúva: “Vai-te embora, Graúna, já disse que não te quero aqui!”. Para ele, a morte não mudou nada. A mulher continuava mandando em seu melancólico espectro.

Hoje é o primeiro dia da minha nova vida. Tenho que fazer um rearranjo completo na minha cabeça programada em mais de duas décadas de vida de funcionária. Não sigo mais uma lógica de segunda a sexta. Posso escrever às 6h da manhã de domingo, como faço agora. E ir ao cinema no meio da tarde de segunda-feira, como pretendo. Minha semana não terá mais finais e começos. Posso ficar acordada à noite e dormir de dia. Posso almoçar à meia-noite e tomar café ao meio-dia. Posso apenas ouvir a chuva batendo no telhado. Posso permanecer olhando para o teto por horas a fio. O tempo é meu. Esta é a grande mudança. Vou perder dinheiro, segurança, carteira assinada, benefícios, férias remuneradas, décimo-terceiro. Em troca, retomo a propriedade do meu tempo. Me preparei para viver com pouco. Criei minha filha, comprei apartamento, não tenho um real de dívida. Só tenho agora que manter o meu corpinho. E ele é bem barato. Três pratos de feijão o deixam todo feliz.

Mantenho esta coluna exatamente aqui onde está. Ela faz parte do meu projeto de liberdade. Queria muito continuar, não sabia se queriam que eu continuasse. A ÉPOCA e a Editora Globo quiseram. Sou grata por isso. Assim como pela forma extremamente respeitosa com que a ÉPOCA e a Editora Globo trataram minha saída e meu desejo de reinventar minha vida. Eu adoro escrever para vocês. E amo a internet. Então, toda segunda-feira estarei aqui, como sempre, logo de manhã, para pensarmos juntos sobre essa confusão que é a vida do mundo e a de todos nós. Agora, vou abrir minha escrivaninha Xerife. Estaremos, eu e ela, com todas as gavetas de nossas almas escancaradas. De peito aberto, no vazio. Vamos ver o que conseguimos fazer juntas.

Torçam por mim! (Por nós!)


Jornalista, escritora e documentarista. Ganhou mais de 40 prêmios nacionais e internacionais de reportagem. É autora de Coluna Prestes – O Avesso da Lenda (Artes e Ofícios), A Vida Que Ninguém Vê (Arquipélago Editorial, Prêmio Jabuti 2007) e O Olho da Rua (Globo).