sábado, 31 de dezembro de 2011

Carta para 2011

Eu queria tanto me despedir de ti 2011, mas agora chegamos aqui e não consigo te dizer adeus. Cá estamos nós, os dois na estação. Plataforma vazia, só eu e tu.

O trem já vai partir. Não consigo te pedir que vás.

Passei os últimos dias dizendo a todos o quanto tu fosses difícil. Dor, saudade, lágrimas, cinza, medo. Vontade de te ver de longe, nas lembranças do passado.

Mas eu estava sendo injusta.

Hoje me dei conta do equívoco, e em tempo peço desculpas. Minha filha teve saúde e descobriu o mundo das letras. Eu tive bastante trabalho, ganhei novos amigos e revi alguns velhos conceitos.

Tua metade guarda meus últimos momentos com meu pai.

Sendo assim, tu és o meu tesouro mais valioso de memória afetiva. Na outra metade a sensação de perda me ensinou muitas coisas.

Compreendi que na dor o tempo é um aliado. Um ombro amigo é um bálsamo. E as lágrimas limpam angústias e medos. Lubrificam a alma.

Aprendi que para um inverno implacável, o melhor lugar é um colo de mãe. Na vida à dois o melhor caminho é sempre a verdade. E a melhor escolha é sempre a que te fizer sorrir

Entendi que perdoar é difícil. Que mesmo querendo fazer, é preciso ter força. É necessário abri mão um pouco de nós mesmos.

Por isso meu querido 2011, acabei me apegando a ti. A esse mundo de lições que me ensinasses, mesmo sem eu saber que estava aprendendo.

Obrigado pelas dores, saudades e verdades.

Nessa nossa despedida singela, quero acima de tudo te dizer o quanto valeu a pena. Não sou mais a mesma pessoa que brindou o reveilon passado. Tenho certeza.

A vida mudou. Eu mudei.

Antes de nosso abraço final, quero te fazer um pedido:

- Que teu amigo 2012 nos traga mais chegadas do que partidas.

Obrigado, e siga em paz!

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Mosaico de vida

A cozinha da nossa casa é o meu lugar preferido. Das peças que compõem esse castelo que acolhe nossos sonhos, é lá que me sinto mais forte.

Tem duas coisas que me encantam. Uma delas é a vista que o janelão de vidro nos proporciona. Nas noites de lua cheia é como se fosse a porta do paraíso. A outra é o piso de ladrilhos, formando um mosaico de cores, feitios e sensações.

Quando estávamos finalizando a obra, naquele momento em que qualquer prego custa um contado tostão, fomos presenteados pelo querido Rudelger com os tais ladrilhos hidráulicos. Marca da arquitetura pelotense, além de lindos, são um pedaço da nossa terra.

Foi ele quem deu a ideia de fazermos um mosaico no piso da cozinha, já que a miscelânea de peças pedia algo impactante. O Nauro e eu passamos uma manhã tentando compor uma figura harmônica.

Os dois sentados no cimento cinza da obra, cobertos de pó. Mudamos uma centena de vezes as peças de lugar. Lembro que chegou uma hora em que a mistura de imagens nos deixou mareados.

No final olhamos para o resultado e nos emocionamos com a beleza.

Nossa cozinha tinha a nossa cara. Uma mescla de formas, cores e desenhos. Assim como enxergo nosso jeito de galgar a vida. Temos histórias, personalidades e "formas" distintas.

Dia desses li no blog da querida Juliana Spanevello, um post dela fazendo uma retrospectiva do ano de 2011. Esse foi um ano cheio de conquistas para ela.

E assim como a Ju, cada um que lê estas linhas tem o seu balanço. Escrevi para ela que para cada um de nós o ano deixa uma marca diferente.

Para mim foi o ano que perdi meu pai. Junto foram mais alguns amigos. Para ela, um marco de tantas maravilhosas conquistas profissionais. Cada um com a sua enorme soma de sentimentos, compondo a figura.

E todas elas estão impressas no relevo da nossa alma. Como eu disse pra Ju, não importa o acontecimento, mas sim que estamos escrevendo nossas histórias.

E cada história é feita de diferentes momentos: tristes, alegres, descobertas, encontros, despedidas...

E olhando ontem para o meu lugar preferido da casa, enxerguei uma parte da nossa vida. Cada ladrilho é como se fosse um pedaço de nós.

Uma obra de arte, com suas belezas, tristezas, cores e encantos. Assim como essa jornada que cumprimos pelas bandas da terra.

Desejo que a gente não esqueça nunca de olhar bem de perto para cada figura que construiu. A diversidade das peças é que faz o encantamento do desenho.

Feliz mosaico de vida para cada um de nós!

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Começar o recomeço

Ando sem coragem de pisar por aqui. Para deitar no divã-virtual é preciso abrir as comportas dos sentimentos. Corro o risco de uma inundação.

Essa época de Natal é como um teste de resistência para nossas dores. Antes eu chorava até em propaganda de supermercado. Agora desabo na primeira música melequenta de Papai Noel de camelô.

Um paradoxo de sentimentos me assola. A situação é crítica companheiros!

Não sou da tribo que curte reclamar da vida. É preciso acima de tudo, respeitar a sua preciosidade. Mas o ano de 2011 fez uma marca indelével no relevo da minha alma.

A ausência de um ser que amamos é estranha. A falta cotidiana do jeito daquela pessoa que habita nossa história é quase incompreensível.

Os dias passam, faço listas e mais listas. Ocupo minha cabeça e procuro atordoar minha rotina. Mas um mínimo rastro de ócio, e me vejo nessa nova perspectiva.

Esse ano tudo mudou.

Perder meu pai foi como me perder um pouco. Mas sem dramas, eu entendo a complexidade da vida. O causo é que depois que uma peça do tabuleiro se vai, precisamos reinventar o jogo.

A nova configuração da nossa existência exige profunda compreensão.

A presença da morte em um ano, nos faz ter medo de encontrá-la novamente. Regamos nossos amores quase que com insanidade, com medo do dia em que não os teremos.

Mas repito, isso não é triste, é apenas intenso.

E sei que temos uma oportunidade em cada dor. A verdadeira chance de enxergar a raridade da vida.

Com essa certeza, acordamos com mais vontade para sacudir nossos tapetes. Arejar a alma sempre é a melhor escolha.

Coloco aqui minhas dores, saudades, inseguranças, medos e tudo mais que puder ser sacudido, deitado ao sol. Quero tirar o mofo, chorar sem culpa, escrever o que vier.

Só assim vou conseguir me olhar no espelho e encontrar o novo caminho. Quero começar o meu recomeço!

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

29 de outubro


Nasci às 19h10 de um dia 29 de outubro do ano que não terminou. Minha mãe, no alto de seus 19 anos, encarou um parto normal, na raça. Coisa que não se vê mais hoje em dia.

Ela conta que a Casa de Saúde Santa Tereza não tinha obstetrícia na época, e por isso deu a luz no quarto. Enquanto ela fazia força, driblando as contrações, uma torcida de parentes e amigos assistia o momento da sacada.

Cena pra lá de insólita. Era um dia de primavera como não se faz mais hoje em dia. Enquanto isso, em algum lugar do país, estudantes desafiavam a ditadura com a cara e a coragem. O ano de 1968 estava em ebulição e eu chegava sem passaporte.

Enquanto fervia a revolução estudantil, minha mãe olhava para aquela "carinha de joelho", tirada a fórcepes, e achava lindo o que via. Como não existia ultrasonografia, no portão de desembarque todos esperavam pelo Rafael.

Quando aquela polpa rosada apontou em direção à parteira, os olhares surpresos perguntaram para minha mãe qual seria o nome da menina.

Ela pensou por um instante e disse:

- Gabriela, em homenagem ao anjo Gabriel, o mensageiro!

Depois dessa inspiração ela disse que estava com desejo de comer uma canja. O tio Rubenzinho foi encarregado de materializar o pedido da parturiente.

Reza a lenda que ele buscou um bem servido prato no tradicional Restaurante Gago, muito conhecido na época. Enquanto isso meu pai se encarregava de fumar um charuto com o Dindo Bebeto, como era de tradição.

Depois dessa chegada triunfal, só me restou ter uma infância também atípica. Saímos do hospital e ali começou a minha história.

Pode não parecer muito longe, mas nasci em uma geração de transformação. A década de 70 seguiu quebrando paradigmas, revolucionando uma vida que até então parecia ser linear.

Quando paro pra pensar nas delícias da minha infância, me dou conta de que o tempo de ontem era verdadeiramente mais lento. Tive a sorte de brincar sem vídeo-game, computador ou qualquer coisa que emitisse barulhos artificiais.

O auge dos meus brinquedos modernos foi o tal do Manequinho, que tomava mamadeira e fazia xixi. Ganhei do tio Ricardo.

Mas antes disso tive o meu jipe vermelho, as fazendinhas feitas com batata e palitos, o jogo de sapata, esconde-esconde e outras deliciosas brincadeiras que hoje raramente ouvimos falar.

Assim se passaram os tranqüilos anos da minha infância, supervisionados pela “Mãe Cema”, que nos cuidava enquanto minha mãe fazia a faculdade. Difícil resumir esse tempo tão rico em poucas linhas. Mereceria um livro.

Veio a adolescência e com ela os primeiros conflitos. Confesso que não achei nenhuma graça nessa fase, exceto pela trilha sonora que nunca mais se repetiu. Se pudesse pular, teria feito de bom grado, desde que pudesse levar meus discos do Legião Urbana debaixo do braço.

Meu primeiro namorado era um chato. Dele ganhei o primeiro beijo e a primeira decepção. Chorei mais por pena de ter perdido meu tempo com ele, do que por qualquer outra coisa.

Depois do primeiro tombo fiquei mais esperta e não entrei em canoa furada tão facilmente. Fui mais seletiva e aprendi rapidamente as regras do jogo. Mesmo assim, muitas lágrimas escorpianas inundaram meu travesseiro.

Na verdade a fase de juventude foi recebida com aplausos. Ter carteira de motoristas, viajar sozinha para Garopaba e administrar o meu próprio salário, foram conquistas incríveis. Nessa época éramos guiados pelo sabor do vento e a liberdade nos dava asas.

Incrível como nesse pedaço da vida a gente acha que a barriga sempre vai ser de tanquinho, o cabelo vai resistir a qualquer experiência química e que filtro solar é bobagem. Todos acham, é inevitável!

Mas por isso o tempo é sábio e com o rodar do relógio nos aponta nossos vacilos.

Difícil ser adulto, eu sei, mas sem dúvida é muito melhor. Reclamamos de muitas coisas, mas a maturidade é o melhor dos presentes. Com ela enxergamos a vida, por dentro e por fora. A imensidão das galáxias que habitam nosso universo interior.

Saímos da superfície e mergulhamos no mar dos grandes sentimentos.

Priorizamos um amor parceiro e enxergamos nossos pais com compreensão. Descobrimos que o amor por um filho é o sentimento mais generoso que existe. Queremos dar, simplesmente amar.

E com essa fase adulta, quando alcançamos as quatro gerações, começamos a correr riscos.

Invariavelmente passamos a ter perdas. Primeiros nossos avós, depois nossos pais. O choque da finitude bate a nossa porta. Taí a parte ruim da maçã.

Esse é meu primeiro aniversário sem meu pai. Passei a semana choramingando. Como disse uma amiga: vivi intensamente o meu inferno astral. Vai ser o primeiro 29 de outubro sem aquela voz me dizendo: "Fili, parabéns, aniversariante!"

Era assim que ele fazia. E vou sentir essa falta!

Pra completar, tudo aconteceu essa semana. Emoções concentradas e minha coluna em frangalhos.

Procurei um ombro amigo, uma acupuntura e por fim uma massagem. Com essa receitinha básica me preparei para receber os 43 anos de vida.

A Tatá coloriu a casa com as flores do nosso jardim e eu fui fazer as unhas.

Vou passar em casa, quietinha, deixando que os abraços cheguem com o vento. Quero comemorar em silêncio, olhando mais pra dentro do que pra fora.

A fase é contemplativa. Quantos dias 29 de outubro ainda me restam? Não quero dramas, mas a vida parece que começa a escorrer das nossas mãos com rapidez.

Qual a receita para segurá-la?

Sou otimista, nunca fumei, odeio ginástica, tomo água, acredito em Deus, tô aprendendo a perdoar, tenho medo de altura, não uso batom, gosto de ler, como salada, sou fiel, uso cinto de segurança, estou ficando surda, amo praia e, obviamente...adoro melancia.

Então cá pra nós, que venham mais 43. No mínimo!

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Mundo das Letras II

Quando a Sofia entrou para o colégio falei aqui das minhas inseguranças no ingresso daquele mundo novo. A minha borboleta ganhava asas e os desafios diários extravasavam os limites da nossa segurança doméstica.

Escolhemos uma escola com nome de poeta. Esse simbolismo me deu uma sensação boa, meio mística. Como não se sentir atraída por um nome que povoou meus encantos literários?

Então decidimos seguir a filosofia do Mário Quintana. Como ele mesmo pregou, a resposta certa, não importa nada: o essencial é que as perguntas estejam certas.

Os primeiros passos daquela nova aventura contaram com um anjo da guarda chamado carinhosamente por seus discípulos de “Profi Michele”. Aquela guria novinha, com cara de amiga da minha irmã, conquistou minha confiança e despertou profunda admiração.

Consegui enxergar naqueles olhos amendoados a certeza de que minha filha estava bem guardada. A doçura e firmeza de uma profissional de primeira linha foram essenciais nesse processo de rompimento umbilical.

Junto com essa entrega, tive várias crises. A cada cena pouco civilizada no engarrafamento do colégio, dúvidas me assolavam. Me perguntava se o colégio estaria caminhando de mãos dadas com os valores que pregamos em casa.

Incertezas mil, nos mais pequenos detalhes do cotidiano escolar.

Como entender um colégio que tem a filosofia de que o importante é ser “o melhor”? Em tempos de globalização, muita competição e pouca gentileza, sentia falta da singeleza nas entranhas dos corredores.

Mas aos poucos fui me adaptando e entendendo os prós e contras da escola. Ao longo desse primeiro ano a figura dessa professora, tão jovem e tão experiente, foi fundamental.

Para amenizaram o contraponto desse mundo novo, conversei, refleti e esperei a poeira baixar. Vi muitos profissionais apaixonados pela pedagogia circularem pelas paredes coloridas daquele mundo estudantil.

Mas aquele rostinho seguro da primeira professora da Sofia, foi a chave desse primeiro passo do mundo que gira.

No começo desse ano, de novo o frio no estomago. Minha sensação de acolhimento estava diretamente ligada a uma pessoa, e não ao ambiente em si.

Fui para reunião de apresentação dos professores com a respiração em suspenso. Sentei no auditório e aguardei as tradicionais falas e recados do início do trimestre.

Feitas as primeiras apresentações, surge uma pessoa colorida, com sorriso rasgado no rosto. Entre os cachos escuros e a pele branca, se percebia um brilho intrigante no olhar.

A professora se chamava Karine e antes de finalizar o protocolo pedagógico pediu a palavra.

Disse que queria que soubéssemos que ela tinha total entendimento da responsabilidade que lhe chegava a partir daquele momento. Falou que pensou em uma forma de traduzir para nós, pais, essa certeza.

Foi aí que tirou de um saquinho várias pedrinhas coloridas. Explicou que aquele pequeno tesouro simbolizava os nossos filhos. Pediu que cada um retirasse uma pedra e repetisse para ela o nome da criança.

Olhei para aqueles olhos brilhantes, e disse emocionada:

- Sofia, esse é o meu maior tesouro!

Ela sorriu e sem precisar falar nada, me deu a senha de que mais uma vez o anjo certo tinha caído na minha rede.

A Karine abriu as portas de um novo mundo para os nossos filhos. Apresentou as letras e todo o significado que a leitura tem aos nossos ávidos aprendizes.

Semanas atrás, tivemos a última reunião de pais, antes da formatura dos nossos pequenos. Na platéia uma legião de pais embasbacados com o progresso dos filhos.

Essa pessoa de sorriso largo, ensinou bem mais do que o alfabeto. Ela soprou a alma de cada um. Coloriu seus talentos e ajudou a subir o degrau mais simbólico da vida: o da liberdade.

Mostrou através de sua sensibilidade, os verdadeiros valores que importam na vida. Trabalhou as diferenças e evidenciou a importância de cada um individualmente.

Mais do que entender que somos de várias cores, classes e estilos, ela ensinou aos nossos filhos o quanto é importante o respeito. Aprender todo mundo aprende, mas sentir não é para todos.

Terminada a reunião não tive coragem de traduzir tudo que queria dizer. Fiquei muda, engasgada e emocionada.

Decidi por não falar e tentar escrever. Como a Karine ensinou aos nossos filhos, cada uma tem seu talento, e aprendi que fala não é para mim.

Sai dali e minha cabeça viajou por cada mudança da Sofia nesses meses de transformação. Olhei para a filha que tinha e para aquela menina decidida que estava sentada na cadeirinha do banco de trás do carro.

Minhas dúvidas e críticas a alguns valores da escola continuam existindo. Mas a esperança de que os administradores aprendam com esses exemplos que eles têm no seu quadro de funcionários, permanece.

Quem sabe um dia esses “anjos” não conseguem mostrar que o importante não é ser o melhor, mas sim o mais feliz.

A vida é rápida demais para se gastar toda energia na busca do pódium mais alto. Talvez lá de cima não se consiga contemplar o horizonte com a mesma magnitude.

A pedrinha que ganhei na primeira reunião de pais continua na minha carteira. Hoje tenho a certeza de que meu tesouro foi lapidado com carinho.

Não que ela tenha mudado sua essência, jamais. Mas aquele brilho no olhar que enxerguei na “Profi Karine” em março, estava nos olhos da minha filha quando arrancamos o carro para casa.

Afinal de contas, tudo realmente vale a pena, se a alma não é pequena. Salve o poeta e as professoras de verdade!

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O Dindo e os gansos


Quantas pessoas vocês conhecem que nadam com os gansos?

Acredito que a maioria responda que, nenhuma. Mas eu conheço e esse cara singular é o meu Dindo Bebeto. Para entender isso, que a princípio parece uma maluquice, é preciso saber um pouco mais sobre essa pessoa no centro da foto acima.

Imagine uma Belina carregada de malas, crianças e uma vianda de fazer inveja a farofeiro profissional. Assim partíamos nos anos 70, de Pelotas rumo à Montenegro, onde moravam Tia Carmem e nossos primos.

Cada aniversário era a mesma caravana. Uma verdadeira operação, com o carro entulhado de coisas, parando a cada novo pedido de xixi. Quando chegávamos na cidade o Dindo começava o festejo.

Tirava para fora do carro foguetes e começava uma verdadeira festa de ano novo fora de época. Assim avisávamos à “parentada” que a turma do Bebeto estava chegando.

Essa é só uma das inúmeras lembranças inesquecíveis desse meu padrinho e tio muito especial. Não conheço uma criança da nossa geração que não tenha uma história preciosa protagonizada por ele. Por certo, guardada na caixinha das pérolas de sua infância.

O Dindo era amigo do meu pai desde jovem. Eram da pá virada. Aprontavam tudo e mais um pouco juntos. Foi ele que apresentou o meu pai para mãe. Nsmorava a tia Vera, e desse casamento nasceram os meus três queridos primos: Bel, Otávio e Marta (Pata Amada).

Como sou a filha mais velha, quando nasci meu pai não teve dúvidas na escolha do padrinho.

- O Bebeto, claro, é mais que um irmão!

Durante toda vida sempre nos divertimos demais ouvindo as histórias hilárias dessa dupla, que não veio ao mundo a passeio. Entre os dois eu vi as mais lindas demonstrações de amizade e carinho.

O Dindo sempre beijou meu pai no rosto. Era a pessoa a quem meu pai mais ouvia. Na madrugada em que meu pai faleceu repentinamente, o Dindo foi dos primeiros a chegar na Unimed. Me deu o abraço mais apertado que pôde e perguntou:

- Cadê o Carlinho?

Entrou na sala de enfermagem e a primeira coisa que disse foi:

- Como é que tu faz uma dessas Carlinhos? Tu, o meu amigo!

Foi a cena mais triste e linda que já vi na minha vida. Se é que esse antagonismo pode ser compreendido.

Depois de um tempo, disse que precisávamos arrumar o meu pai. Que ele não estava bem daquele jeito. Começou a conversar como se meu pai estivesse ali.

Com a ajuda do Nauro arrumou a boca, o cabelo, ajeitou-o melhor na maca, e seguiu conversando. Não tive coragem de seguir participando daquele momento.

Quando chegamos para o velório, já no cemitério, olhei novamente para o meu pai. A expressão de dor e tensão daquele corpo que havia me impressionado na Unimed havia desaparecido.

Um rosto plácido e um ar de paz irradiavam da cena fúnebre. Não tenho dúvidas de que as palavras ditas e sentidas ocuparam um espaço entre dois mundos. Um amor entre amigos, além do céu e da terra.

Na sexta-feira passada o Dindo sofreu um AVC hemorrágico. Estava ótimo, na casa da namorada. Sentiu-se mal, e em um piscar de olhos o derrame aconteceu. Foi imediatamente atendido.Desde então trava uma brava luta pela vida na UTI do HU São Francisco de Paula.

Os boletins médicos já oscilaram entre melhoras e pioras. Desde ontem ele está em coma induzido, na tentativa de estabilizar o quadro. Temos rezado, pensado coisas boas, feito correntes de boas energias, tudo o que acreditamos que possa ajudar na sua recuperação.

Ele é um homem forte, sempre levou uma vida saudável. Tem tudo a seu favor.

Por isso, quando penso no Dindo fecho os olhos e mentalizo aquela cena tão única. Acontecia no arroio em frente a sua casa, na Marinha Ilha Verde.

Ele colocava os pés de patos e mergulhava no arroio em qualquer estação. Saia nadando e atrás dele um bando de gansos, criados desde pequenos por ele. Seguiam arroio a fora, em total sintonia.

Essa cena que mais parece de filme, é o mais belo retrato dessa pessoa que descrevo. Um ser genuíno, original. Por isso tenho pedido muito para que tudo dê certo. Quero tanto que ele continue com a gente!

Segura firme Dindo, nós e os gansos te esperamos aqui para muitas aventuras!

*Na foto: Gorda, Bel (esquerda), Dindo, eu e o Mão (direita), em 1975, em alguma festa da nossa infância, na Charqueada São João.

O Dindo e os gansos

Quantas pessoas vocês conhecem que nadam com os gansos? Imagino que a maioria responda que, nenhuma. Mas eu conheço e esse cara singular é o meu Dindo Bebeto.

Para entender isso, que a princípio parece uma maluquice, é preciso conhecê-lo um pouco mais.

Imagine uma Belina carregada de malas, crianças e uma vianda de fazer inveja a farofeiro profissional. Assim partíamos de Pelotas rumo à Montenegro, onde moravam Tia Carmem e nossos primos.

Cada aniversário era a mesma caravana. Uma verdadeira operação, com o carro entulhado de coisas, parando a cada novo pedido de xixi. Quando chegávamos na cidade o Dindo começava o festejo.

Tirava para fora do carro foguetes e começava uma verdadeira festa de ano novo fora de época. Assim avisávamos à “parentada” que a turma do Bebeto estava chegando.

Essa é só uma das inúmeras lembranças inesquecíveis desse meu padrinho e tio muito especial. Não conheço uma criança da nossa geração que não tenha uma história preciosa, protagonizada por ele, guardada na caixinha da sua infância.

O Dindo era amigo do meu pai quando eram jovens. Foi o meu pai, quando já namorava a mãe, que apresentou a Tia Vera para ele. Dali saiu um namoro e como fruto os meus três queridos primos: Bel, Otávio e Marta (Pata Amada).

Como sou a filha mais velha, quando nasci meu pai não teve dúvidas na escolha do padrinho.

- O Bebeto, claro, é mais que um irmão!

Durante toda vida sempre nos divertimos demais ouvindo as histórias hilárias dessa dupla, que não veio ao mundo a passeio. Entre os dois eu vi as mais lindas demonstrações de amizade e carinho.

O Dindo sempre beijou meu pai no rosto. Era a pessoa a quem meu pai mais ouvia.

Na madrugada em que meu pai faleceu repentinamente, o Dindo foi dos primeiros a chegar na Unimed. Me deu o abraço mais apertado que pôde e perguntou:

- Cadê o Carlinho?

Entrou na sala de enfermagem e a primeira coisa que disse foi:

- Como é que tu faz uma dessas Carlinhos? Tu, o meu amigo!

Foi a cena mais triste e linda que já vi na minha vida. Se é que esse antagonismo pode ser compreendido.

Depois de um tempo, disse que precisávamos arrumar o meu pai. Que ele não estava bem daquele jeito. Começou a conversar como se meu pai estivesse ali.

Com a ajuda do Nauro arrumou a boca, o cabelo, ajeitou-o melhor na maca, e seguiu conversando. Não tive coragem de seguir participando daquele momento.

Quando chegamos para o velório, já no cemitério, olhei novamente para o meu pai. A expressão de dor e tensão daquele corpo que havia me impressionado na Unimed havia desaparecido.

Um rosto plácido e um ar de paz irradiavam dali. Não tenho dúvidas de que as palavras ditas e sentidas ocuparam um espaço entre dois mundos.

Na sexta-feira passada o Dindo sofreu um AVC hemorrágico. Estava ótimo, na casa da namorada, quando se sentiu mal e o derrame aconteceu. Foi imediatamente atendido e desde então trava uma brava luta pela vida na UTI do HU São Francisco de Paula.

Desde então as notícias já oscilaram entre melhoras e pioras, mas agora ele está em coma induzido.

Temos rezado, pensado coisas boas, feito correntes de boas energias, tudo que acreditamos que possa ajudar na sua recuperação.

Ele é um homem forte, sempre levou uma vida saudável e tem tudo isso a seu favor. Por isso quando penso no Dindo, imagino aquela cena tão única, que acontecia em frente a sua casa, na Marinha Ilha Verde.

Ele colocava os pés de patos, mergulhava no arroio em qualquer estação, e os gansos que ele criava desde pequenos saiam nadando atrás dele, arroio a fora.

A cena inusitada é o mais belo retrato desse ser maravilhoso, que quero muito que continue com a gente.

Segura firme Dindo, nós e os gansos te esperamos aqui, para curtir muitas coisas boas!

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

O caderno


Quando a minha Voinha completou 87 anos, eu dei de presente para ela um caderno em branco. Era o dia 5 de abril de 1999. Nossa relação era muito forte e a proximidade de perdê-la, me fez pensar em uma forma de congelar sua história. De tê-la comigo pra sempre.

O cartão que acompanhava o pacote dizia:

“Voinha querida, gostaria que esse presente fosse usado para celebrares a tua vida. Gostaria que escrevesses tudo que tua alma transpira, e com essas linhas revivesses cada capítulo da tua história – tão especial pra mim”

E ali, naquelas páginas cheias de relatos, ela me deixou sua melhor herança. O livro de capa preta me foi entregue depois que ela faleceu, aos 91 anos de idade. Dentro, vários cartões e recortes, com significativas passagens da sua trajetória.

Esse é o meu tesouro, que guardo com amor e carinho. De vez enquando abro suas páginas e me delicio lendo os capítulos de uma vida começada em 1912.

A letra cursiva perfeita, o português antigo, a fé e devoção à Deus, marcas registradas dessa pessoa tão especial e que me fez muito feliz. Tudo isso está ali, bem vivo nesse nosso canal de ligação atemporal.

Mas contei isso para chegar em outro assunto. Foi lendo o mais recente lançamento da minha autora preferida, que me dei conta de uma coisa interessante. A sensação de que algumas coisas são escritas para gente.

Em julho fui levar a Sofia ao médico, em Porto Alegre, e como sempre passei na Fnac. Dei uma olhada nos lançamentos e eis que salta aos meus olhos o novo livro da Isabel Allende.

Fresquinho, saído do forno. A versão ainda em espanhol, com capa reluzente: “El cuaderno de Maya”. Não tive dúvidas, comprei.

Já no ônibus de volta pra casa comecei a ler. A história é longa, mas o que quero contar é que foi escrita em um caderno que a avó da Maya deu pra ela. Exatamente para isso, para que escrevesse a sua vida e fortalecesse ali o elo entre as duas.

Fiquei anestesiada. Tenho sempre essa sensação com a Isabel Allende, de uma ligação direta, meio sem nexo. E isso já me acompanha há anos.

Quando li “A Casa dos Espíritos”, eu vivia em uma delas. Era adolescente e habitava uma moradia construída em 1810, com senzala e dezenas de cômodos. Não preciso dizer o quanto me senti na casa da Isabel, inúmeras vezes!

E não foi só dessa vez. As noites intermináveis de UTI, ao lado da Sofia, muitas vezes me fizeram lembrar suas palavras escritas em “Paula”. Ela descreveu a sensação de querer mover as montanhas pela vida de um filho. Senti profundamente.

E é essa sensação absurda, de comungar da mesma sintonia com alguém que não habita o nosso universo é maluco. Estranho, mas que me faz bem. Acho que é como uma viagem imaginária, onde me conecto com Isabel Allende, a minha Voinha e quem mais me inspirar.

Nesse momento acredito que nossos espíritos estão interligados.

Ainda não acabei de ler o livro. Maya ainda não terminou sua aventura pela ilha de Chiloé. Assim como eu, ainda não finalizei a minha.

Mas essa “coincidência” me fez buscar na gaveta o caderno da minha avó. Abri o baú das lembranças e o segurei com ternura, como se eu pudesse sentir aquelas mãos firmes, de longos dedos. Folhei as páginas impregnadas de vida daquele personagem. Uma mulher real, que viveu a vida sem ficção.

O bom é que me vi ali, em deliciosos capítulos da vida da minha Voinha. Foi muito bom ter feito parte dessa história real. E de alguma forma escrevo aqui algumas páginas do meu caderno. E como disse minha amiga Isabel Allende...

Y en ese largo y paciente ejercicio diario de escribir he descubierto mucho sobre mí misma y sobre la vida.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Dona Léa


O inverno mais cinza das últimas décadas não dá trégua. Mas mesmo assim as pessoas casam, engravidam e os filhos nascem. O frio não quer saber de nada, muito menos do nosso estado de espírito.

E assim as folhinhas do calendário mudam na estação infinita.

Até que chegou o dia 19 de agosto. Sexta-feira e frio de rachar. A agenda social previa o chá-de-fraldas da Beloca. Pela anfitriã valia qualquer esforço. A mãe dela é minha amada comadre Eunice, uma pessoa pra lá de especial.

Sorte do Joaquim, o nenê que habita a barriga da Beloca e que deu a sorte de ter uma avó-coruja como ela. Com esse histórico emocional nos enroupamos animadas e partimos para o tal do chá.

Obviamente que chá-de-fralda é igual em qualquer lugar do planeta. Até na tribo Kaiapó deve ter o mesmo itinerário. Entre presentes e empadinhas falamos amenidades e trocamos receitas de vida doméstica.

No meu caso a tarde foi uma delícia, além dos salgadinhos crocantes conheci a Nídia. Ela é filha de um amigão da minha Comadre, e de cara a sintonia já rolou. Foram listas intermináveis de assuntos, todos deliciosos como as bandejas que passavam.

Como todo chá que se preze, a gente enche o “pandulo’ e quando menos espera já é hora de ir embora. Tai o segredo do encontro.

E naquela de despedidas pra lá e pra cá, surge uma pessoas que jamais passaria despercebida. O cabelo bem alinhado, maquiagem no ponto e uma bolsinha equilibrada no antebraço.

Vamos combinar...a verdade é que tem que ter muita energia para equilibrar uma bolsinha no antebraço em um dia infernal do inverno pelotense. Só a Dona Léa para encarar uma dessas, e vocês já vão saber o porquê.

Ela se aproximou da nossa mesa para dar um tchau e começou a desfiar um rosário de alto astral.

Nesse meio tempo, minha mãe comentou o quanto ela era bem disposta. Relembrou que tinha perdido um filho há uns anos, em um acidente de moto.

Só por esse currículo ela já teria todo direito a largas olheiras e algumas rugas de tristeza. Mas esses sinais não estavam naquele rosto alegre, quase juvenil. Perguntei qual o segredo para aquele ar tão leve. Ela me olhou nos olhos com calma, e disse:

- Minha filha, eu não dou direito à tristeza! Quando ela pensa em chegar eu pego minha bolsa e vou para o calçadão. Depois de ver vitrines, conversar com as pessoas e ouvir um pouco de cada história, não há como voltar com a mesma cara!

Receita comum, quase como a de um arroz. Resultado indescritível, o mesmo que sentimos quando provamos o prato que tem sabor de infância. Simples, mas imensurável!

Ela é viúva, mora sozinha, e me disse que quando está de baixo astral convida o Julio Iglesias para dançar. Coloca os discos a tocar bem alto e canta com ele os clássicos que não a deixam esquecer a força do amor.

A outra receita dessa jovem de 84 anos é fazer viagens de terceira idade. Foi em uma dessas que conheceu o namorado. Mas se engana quem pensa que um homem era o que queria para alegrar seus dias.

Dona Léa adora uma boa companhia. Mas volta e meia dá um jeito do consorte voltar para sua terra natal. Ela retoma sua rotina e convence o sortudo de que a saudade acende o amor.

Tanta sabedoria não estaria trajando uma roupa qualquer naquele chá de agosto. Este espírito vibrante obviamente reluzia no salão em um casacão de lã azul piscina.

Ela contrastava naquele mar de roupas em tom bege, passando pelo marrom e terminando no preto. Cheguei à conclusão de que nos vestimos como nosso espírito nos dias de inverno. Sem dúvida.

Mas aquela tarde de agosto mudou minha vida. Depois de conhecer Dona Léa decidi repensar meus conceitos de comodismo. Não vou deixar o inverno se arrastar durante longos meses de penúria na minha alma.

É isso aí, amanhã se a tristeza bater vou me tocar para o Calçadão. Vou ver vitrines, conversar com as pessoas. Só não garanto que acabe na loja de CDs procurando pelo Julio Iglesias.

Aí também é demais né Dona Léa??!!!!

domingo, 7 de agosto de 2011

Uga-uga



A fase do baixo-astral imperava até que um puxão de orelhas sacudiu o cotidiano morno. Eu curtia dias oscilantes, entre o trabalho, afazeres domésticos e a digestão da perda.

Não faz nem dois meses que meu pai partiu. Desde então estou de mala e cuia na casa da mãe, junto com a Sofia. Nossa presença tem sido o suporte necessário para ela se reencontrar.

Para completar o cenário, o inverno mais frio e cinza das últimas décadas deu as caras. Nesse contexto me esforço para pelo menos disfarçar que estou bem.

Só que se tem coisa que eu nunca soube, foi fazer cara de uma coisa e sentir outra. Então as olheiras não desaparecem nem com o mais eficiente reboco.

Me olho no espelho e procuro encontrar vestígios que levem até mim. Não lembro mais o dia em que me arrumei e achei que estava bonita. Essas coisas são relativas, mas a gente sempre tem um dia que ‘se acha’.

Cadê o meu dia, cadê minha auto-estima?

Mas como dizem as frases que estampam nossas agendas juvenis, ‘quem tem amigos, tem tudo na vida’. Foi na base do joelhaço que duas amigas queridas me puxaram para um papo-cabeça.

A dupla há dias me convidava para tomar um mate, um café, um champanhe, um conhaque ou um copo d´água. Eu sempre saia pela tangente, com a certeza de que o melhor lugar seria a minha concha interior, em meio a lembranças e saudades.

Até que semana passada ela torpedaram um decreto no meu celular. Recebi uma mensagem que instituía um encontro na quarta-feira, às 20h, na casa de uma delas.

Li, e sem a menor vontade de ir, respondi que tudo bem, mas que não estava com vontade de beber nada. Isso já traduzia a minha disposição para o encontro.

No dia marcado tomei um banho, lavei os cabelos gosmentos e me entupi de roupas já que a noite era assombrosamente fria. Liguei o costumeiro piloto-automático e segui a passos lentos.

Quando cheguei, um ambiente acolhedor me esperava. Lareira, uma mesa linda, founde, vinho e umas carinhosas pantufas para deixar marcado o acolhimento do corpo e da alma.

Entre um naco de filé e outro, provei diferentes molhos e enfáticos conselhos. Cada uma, a seu modo, mostrou um mar de possibilidades que eu estava deixando passar levada pela correnteza diária.

O desânimo estava me fazendo sucumbir ao que mais prezo: a alegria de viver. Viver um luto, tudo bem. Mas deixar que os dias me sufoquem de tédio não.

A Paula me disse uma coisa que nunca mais vou esquecer. Que quando a alma está triste a gente deixa o corpo de lado. Fica tudo pra depois.

Os pelos invadem a nossa vaidade e esquecemos que existe a depilação. As unhas e cutículas seguem se proliferando, mas não lembramos que existe a manicure. Ela definiu como “a síndrome da unha comprida”.

E assim vamos caminhando sem cantar. Os dias passam como capítulos apressados de uma novela sem graça. Nos tornamos seres das cavernas com olhos de tristeza.

Assim eu estava, vivendo a tal da síndrome, totalmente imersa nela.

A Jajá me lembrou do quanto é importante celebrar a vida. Lição que aprendi com meu pai, e que vivo repetindo nos textos desse blog. Mas me dei conta de que minha teoria estava longe da prática.

O founde de chocolate chegou na mesa de toalha florida, e com ele provei o doce sabor de um puxão de orelhas bem dado. Coisa boa ter amigos para acender a lanterninha de emergência da minha consciência.

Sai de lá pensando um milhão de coisas. No dia seguinte, depois de deixar a Sofia na sala de aula, a Jajá me puxou para um cafezinho na cantina do colégio.

Reforçou a lição de quarta-feira e listou alguns pontos eficientes para impulsionar meu recomeço. Lembrei de minha avó Nóris, a quem carinhosamente chamo de Chochó. Ela sempre soube transformar as tristezas da vida em bons momentos.

Minha mãe conta que meu avô estava em um câncer terminal, internado na Beneficência Potuguesa. A data do aniversário de casamento deles se aproximava.

Ela ligou para um buffet que era o mais prestigiado da época. Contratou um jantar delicioso, louças primorosas e um serviço de primeira.

Meus avós brindaram a data em meio a suportes de soro, baixelas de prata e um amor imensurável. Ele se foi alguns meses depois, mas levou consigo a verdadeira essência do bem viver.

Então depois dessa lição não tive dúvidas. Acordei sábado com uma lista de metas a cumprir: depilação às 10h, manicure 11h30 e banho de luz às 12h. Isso só pra começo de conversa.

Já estou me sentindo mais leve. Não sei se foram os quilos de pelos e cutículas que não carrego mais comigo, mas a verdade é que começo a ressurgir das cinzas.

Chega de carregar a tristeza, agora ela vai caminhar ao meu lado. E tenho certeza de que vamos nos divertir juntas. Cada momento transformador tem a sua mensagem e começo a ler os ensinamentos desse.

Não posso fechar os olhos para cada dia que se apresenta, todinho para ser vivido. Então adeus ‘síndrome das unhas compridas’. Estou de volta, totalmente renovada.

Deixo a caverna de lado e troco o modelito de oncinha por uma calça jeans. Saiam da frente porque a fase “Uga-uga” acaba de acabar!

domingo, 17 de julho de 2011

Saudade


Demorei muito para começar essas linhas. Não sabia como traduzir esse sentimento novo que me acompanha. Saudade eterna.

Não conseguia nem pensar nisso. Parecia que se eu escrevesse, ia ler, e se lesse, saberia que é realidade. Maluco isso, mas é exatamente assim.

O peito da gente fica anestesiado. Se não nos distraímos com o cotidiano, ele dói. Corremos o dia todo e quando paramos um pouquinho, vem aquela sensação de novo.

Decidi então me enfiar no trabalho. Fiz mil coisas durante as últimas semanas, mas o tempo não passa. Já me disseram que o luto é assim. Tem seus altos e baixos.

Mas acho que chegou a hora. Então vou tentar.

Perder meu pai num piscar de olhos foi muito forte. A vida corria seu rumo na maior normalidade. Toda família ia bem obrigado.

Até que o telefone rasgou a madrugada daquele 22 de junho. Do outro, lado minha mãe desesperada, me dizia uma frase que não fazia o menor sentido:

- Minha filha, estou aqui na Unimed, teu pai faleceu de um infarto fulminante!

Daí para frente foi como se eu entrasse em uma nave, sem saber para onde iria. Os dias que se seguiram, os abraços, as lágrimas, a saudade sem fim.

Perder nossos pais é como perder parte da gente. Somos muito deles. Temos tudo deles. Não sei como ser eu daqui pra frente. Falta uma parte de mim.

Eu sei que todo mundo fala no tempo. Eu acredito que será um bom amigo. Mas a verdade é que uma coisa muito forte aconteceu. Por mais que o tempo passe, nada será como antes.

Sei que meu pai está bem. Acredito nisso, de coração. Ele está em paz, em um lugar muito especial e uma nova jornada começa por lá.

Sei também que tive um enorme privilégio em ter caído por aqui como sua filha. Ele foi o cara mais autêntico que eu já conheci.

Tinha um coração do tamanho do mundo e um carisma que aplacava platéias de todos os estilos. Generosidade era sua marca registrada.

Ajudava gente que não acabava mais. Divertia as mais distintas rodas e era admirado desde a turma dos pés descalços até os magnatas.

E tratava todos com a mais exata igualdade.

Mas posso garantir que curti muito esse pai. Me diverti demais com esse amigo e admirei com todo o meu coração esse ser humano que convivi por 42 anos.

Fico feliz com isso. Sei que nossa relação de pai e filha foi das mais sinceras. Fomos muito completos. Cumprimos nossa missão, ambos!

Por isso tudo, procuro me distrair com a vida que segue. Mas parece que a saudade está escondida debaixo da cama. Quando me deito para dormir ela pula e me sufoca.

O mais engraçado é que um dia antes da partida, escrevi aqui no blog sobre o sentimento de perda. Nada é por acaso nessa vida, depois dessa não tenho mais dúvidas. Os sinais estão por aí, o tempo todo.

Como é que pode? Tudo o que eu escrevi naquelas linhas, fizeram mais sentido ainda. Agora tenho que esperar o tempo me ajudar a senti-las de fato.

Preciso encontrar aquela vontade de viver intensamente que falei no texto. A história segue.

Tenho que descobrir como transformar a saudade em alegria!

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Por enquanto...

Mudaram as estações, nada mudou
Mas eu sei que alguma coisa aconteceu
Tá tudo assim tão diferente

Se lembra quando a gente, chegou um dia a acreditar
Que tudo era pra sempre,
Sem saber, que o pra sempre, sempre acaba

Mas nada vai conseguir mudar o que ficou,
Quando penso em alguém só penso em você
E aí, então, estamos bem

Mesmo com tantos motivos
Pra deixar tudo como está
Nem desistir, nem tentar, agora tanto faz
Estamos indo de volta pra casa


*Meu pai querido partiu para ver outras paisagens na madrugada de quarta-feira(22). Por um tempo ainda vamos ter que nos acostumar com a caminhada sem aquele jeito singular de rir da vida. Mas são tantas coisas boas que guardo na memória e no coração, que vão servir de combustível para vivermos cada dia com intensidade!

Volto em breve, quando as palavras começarem a sair de novo...

terça-feira, 21 de junho de 2011

Bruxinha boa

Foto: Nauro Júnior

Um blog-divã é um lugar para todos os sentimentos que habitam o nosso coração. Aqui divido as delícias e dores do meu cotidiano. Mas desde domingo, uma dor em especial não conseguia se transformar em palavras: a perda.

Depois de um sábado inundado pela alegria da Sofia com o seu aniversário, o domingo nasceu triste. Acordei com a notícia de que a nossa querida amiga Neca tinha partido às 8h10 daquela manhã chuvosa.

Contei aqui, em vários textos, a minha admiração por essa pessoa tão especial (“Tão rara” - fevereiro de 2010, “Um lar” - julho de 2010 e “Fênix” – março de 2011.)

O último deles contava da visita que fizemos para ela em março, no Hospital Moinhos de Ventos, a Kiki e eu. Passamos um dia alegre juntas e deixei com ela a medalinha que acompanhou a Sofia durante a sua luta.

Ela segurou firme e pregou na camisola, bem grudada contra o peito. Era a imagem de Nossa Senhora, que foi nosso amuleto durante a doença da Sofia. Ficou lá, cuidando dela.

Até que chegou a hora. Depois de 14 anos de brava luta ela se foi. Difícil saber o que dizer para nós mesmos nessa hora em que nos deparamos com a finitude da vida.

Sentimos uma saudade estranha. Tão ampla e profunda que não cabe na gente. Passei aquela tarde sentada naquela sala estranha do cemitério pensando em tudo que nos rodeava.

Como é estranho imaginarmos que um dia seremos nós. É uma coisa inusitada demais, não cabe na lógica. E choramos por tudo. Pela amiga que se foi. Pelos medo de perder nossos amores. Pela fugacidade dos nossos momentos aqui. Tão bons!

E para amenizar tantas incertezas, a gente sabe que deve pensar que não é um fim. Eu sei que ela foi para um lugar de paz, onde as dores do câncer não serão mais companheiras.

Mas a ausência para sempre é por demais estranha.

Por isso hoje eu não tenho muito o que dizer. Vou guardar na memória aqueles olhos azuis brilhantes, tão cheios de vida. E no coração as tantas lições de amor à vida que ela nos deu.

E para quem não conheceu essa pessoa rara, achei nos meus arquivos uma foto que traduz exatamente quem foi a Neca.

Era o aniversário da Luisa, minha sobrinha, em 2009. Uma festa à fantasia, e todos os amiguinhos foram à carater. No meio da tarde, eis que chega a Neca. Cheia de energia, vestida de de bruxa.

Uma bruxinha boa, que esteve aqui por um tempo. Nos ensinou muitas coisas, inclusive que o tempo não para. Contaminou todos que cruzaram o seu caminho com a força indelével da vida.

Por isso meus amigos, usufruir cada momento é para hoje. E para homenageá-la, o minímo que podemos fazer aqui é viver intensamente nossas histórias. Com alegria, é claro!

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Ciclo


A vida é feita de ciclos. Neste sábado um deles se completa. O começo foi em um dia frio de junho.

Era o dia 18 de junho de 2005. Aquele sábado amanheceu com um ar estranho. Alguma coisa no ar.

Não sei exatamente como descrever. Mas os dias que marcam nossas vidas pra sempre, costumam ter essa bruma indelével e inexplicável.

Naquela tarde fria e cinza o Nauro e eu entramos de mãos dadas no HU São Francisco de Paula. A única coisa que fizemos antes foi passar na igreja. Pedimos a Deus que tudo desse certo

Eu estava com 32 semanas de gestação e num piscar de olhos não senti mais a Sofia se mexer. Sem aviso prévio, ela veio ao mundo às 18h54, em uma cesárea de emergência.

Ali foi o marco divisório da minha vida.

Do hospital só saímos definitivamente no dia 17 de setembro. Naqueles meses, muitos sentimentos se misturaram entre os prognósticos médicos. Amor, medo, ansiedade, fé, amizade, esperança. tudo muito intenso. Um reboliço de emoções.

Entre as paredes azuis daquele hospital, tive o maior aprendizado da minha vida. Ali entendi o quanto a vida é rara. E o quanto somos abençoados a cada nova oportunidade.

Também entendi o significado dos anjos. Aprendi que os milagres existem e começam dentro de nós. Eles brotam do amor incondicional. Do invisível, que muitas vezes nos ronda e não enxergamos.

E hoje tudo voltou na minha mente. Na hora do almoço, a Sofia me olhou e disse:

- Mamãe, eu vou ter saudades dos meus cinco anos!

O tempo congelou por alguns segundos na minha cabeça. Eu segurei a mãozinha dela e disse que também iria.

Que sentia saudades de cada ano que passei com ela. De cada momento nosso nessa deliciosa aventura. E que sabia, que depois dos cinco anos, um novo mundo começava a desabrochar.

Não me contive, obviamente. Chorei que nem sempre choro: abundantemente.

E amanhã, quando acordarmos, no sábado do dia 18 de junho de 2011, um ciclo vai se fechar e outro começar.

O Nauro dessa vez estará em uma expedição, navegando pelo Oceano Atlântico, a bordo de um navio. A vida voltou ao seu rumo. Mas mesmo além mar, estaremos pertinho os três. Como sempre estivemos.

E quando aquela carinha iluminada abrir os olhos, eu quero dar um abraço bem apertado, e dizer que eu sou muito feliz de ser a sua mãe. Sua guardiã!

Vou agradecer mais uma vez, a todos os anjos que passaram na nossa vida até aqui. Tiveram inúmeras caras e nomes. Diferentes profissões e intenções. Mas todos souberam entender em algum momento, o quanto somos agradecidos à Deus e a vida por termos a Sofia.

Nesse sábado, 18 de junho, o céu vai estar cinza de novo. O inverno frio mais uma vez. Mas as páginas dessa história, tenho certeza, cada vez mais cheias de vida. Coloridas como a alma da aniversariante do dia!

Obrigado Papai do Céu, por esse presente dos céus!

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Mundo das letras


Ontem participei da reunião de avaliação do primeiro trimestre na escola da Sofia. No ano passado a pauta desses encontros era outra.

Ouvíamos sobre as novidades dos nossos pequenos ao circular pelo meio escolar. Falávamos dos avanços cotidianos com os primeiros passos no mundo dos relacionamentos sociais.

Naquela época eu me emocionava muito ao perceber que nossa borboleta criava asas. Com seu jeitinho singular começava a voar além dos limites da nossa palafita na beira do Arroio Pelotas. Escrevi aqui no blog sobre o emaranhado de sensações que rondavam meu coração de mãe (Cordão umbilical).

Foi um tempo de êxtase para ela e de alguma dor maternal para mim. Uma mescla de medos e expectativa. Rompíamos ali um outro cordão umbilical. Ela estava pisando no mundo de todos, não mais no seu universo particular.

Com o passar dos meses e a conduta afetiva das professoras Michele e Ju, tudo foi se acomodando no meu coração. Foi um ano de muitas coisas legais.

A Sofia deu um salto de maturidade impressionante. Mas como diria Chê Guevara, sem perder a ternura jamais!

O ano de 2011 chegou com a expectativa da nova professora e de como seria esse momento de encontro com as letras. Hoje em dia o “pré” já prepara nossos filhos para a primeira série de forma absolutamente intensa.

Nem pense em comparar as nossas cartilhas de "a-e-i-o-u" com a pedagogia dos tempos de hoje. Eles aprendem como mágica. Essas cabecinhas estimuladas pela tecnologia da informação estão bem além das fronteiras do nosso pensamento.

Até aí, a teoria é sabida por uma mãe jornalista. Alguém que se julga esclarecida e que está sempre ligada nos novos acontecimentos do mundo.

Ledo engano!

Na semana passada fui comprar um novo aparelho de 3G e enquanto eu fazia os trâmites com a vendedora a Sofia aguardava impaciente na cadeira.

Olhava curiosa para a loja do outro lado da rua e balbuciava alguma coisa. E num piscar de olhos, me olhou e disse:

- Mamãe, olha o que está escrito lá: L-OOOOOOO-C-AAAAAA-D-OOOOOO-R-AAAAAA!

- Como assim Sofia? Quem te disse isso?????!

- Eu li mamãe...

Ela leu? Fiquei pasma. Paralisada.

Simplesmente aquela história de fazer desenhos coloridos e aprender a dar laço no cordão do tênis não era mais tudo que continha no universo da pré-escola.

E foi aí que começou a cair a ficha.

Essa história começou a fazer sentido ontem, enquanto a professora Karine explicava ao grupo de pais da turminha do “Avançado A" todo processo de alafabetização que estavam vivenciando.

A minha primeira constatação foi de que eles estão muito além do meu imaginário materno. Já enxergam o mundo através da escrita. Totalmente!

E vocês sabem o que isso significa?

Tudo, simplesmente tudo e muito mais. Em um mundo que voa com a velocidade da luz, ler é entrar em uma nave com destino ao universo.

É o passo mais definitivo de nossos pequenos para além das nossas fronteiras domésticas. O roteiro inclui as imensuráveis possibilidades que um conjunto de letras possibilita.

E foi essa constatação, em meio as explicações da "Profi Karine", que romperam no meu coração uma barragem de lágrimas descontroladas. Em suma, foi pagando o maior mico durante a reunião de pais, que constatei que minha borboleta agora voava alto.

Em meio a emoção e o medo, puxei meu lencinho de papel da bolsa e cortei mais um cordão umbilical que teimosamente eu insistia em segurar.

Nessa montanha-russa maternal, foi muito bom contar com uma professora tão especial como a Karine. Que permeia essa tarefa magnífica com amor, carinho e firmeza, em cada uma das etapas.

O conhecimento rompe todas as fronteiras do universo. Mas é preciso doçura para abrir essas comportas. Esse é o profundo significado de ser um professor.

Até então a Sofia lia através de imagens e construía seu universo de sonhos e imaginação. Agora enxerga infinitas formas de construir seus sonhos, desejos e de seguir sua estrada.

E foi por isso que chorei ontem na reunião.

Olhei para minha princesa, no alto de seus cinco anos de idade, e entendi ali o poema de Kalil Gibran.

Realmente nossos filhos vêm através de nós, mas não são nossos. Podemos outorgar o nosso amor, mas não nossos pensamentos. Compreendi o meu papel de arco, que lança a flecha para a vida.

Meu desejo de mãe é que muitas palavras transformadoras escrevam uma bela história na estrada da Sofia. E que a sabedoria que ela leva no nome, construa pontes infinitas de sonhos e magia.

E com os acordes de uma estrofe de Toquinho, eu me despeço. Sem lágrimas, mas com sorrisos!

E o futuro é uma astronave
Que tentamos pilotar
Não tem tempo, nem piedade
Nem tem hora de chegar
Sem pedir licença
Muda a nossa vida
E depois convida
A rir ou chorar

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Palavras estranhas


Sabe aquelas palavras da língua portuguesa que a gente acha bonita, mas nunca usa?

Não sei por que, mas eu tenho a minha listinha de “palavras estranhas”. São chamadas assim por não serem corriqueiras no nosso diálogo. Por soarem diferente ao falar. Em alguns casos não usamos até porque o significado causa dúvida ao interlocutor.

Enfim, por tudo e por nada, são estranhas. Simplesmente estranhas. E costumamos não usá-las.

Pois bem, na minha lista delas está o verbo “titubear”. Diferente do seu significado, o dicionário não poupa objetividade para resumi-lo:

v.i. Cambalear, vacilar sobre as pernas: bêbado que titubeia.
Hesitar, exprimir-se com indecisão

Todos nós temos momentos de indecisão, dúvida, mas titubear é algo além disso. É realmente quando vacilamos sobre as pernas.

Mas e daí?

Daí que há duas semanas fiz a assessoria de imprensa do show do Fábio Júnior aqui em Pelotas. É sempre o mesmo esquema. Faço credenciamento da imprensa, acompanho a entrada do pessoal, organizo a coletiva e o atendimento de pessoal no camarim.

Em se tratando de Fábio Júnior, participei pela manhã de uma reunião com o secretário particular dele para me repassar todos os detalhes da missão. Tudo milimetricamente orquestrado: coletiva, atendimento das fãs e show.

Para registrar o momento ele me solicitou a contratação de um fotógrafo. Chamei o Felipe Nyland para a pauta e na hora certa tudo começou a funcionar, conforme o cronograma do secretário.

Mesmo que eu não concorde, o Fábio Júnior continua levando uma legião de mulheres ao delírio. De todas as faixas etárias, classes sociais, uma coisa impressionante.

Mesmo com botox na bochecha, com o cabelo cada vez mais ralo e sem bunda, como sempre foi. Mas isso são mistérios do mundo feminino que não vou entrar no mérito agora.

Eis que, depois da coletiva, as fãs afoitas começam a adentrar ao sagrado camarim. Era um ambiente impessoal, iluminado por uma lâmpada de cor azul onde as mulheres entravam sorrindo e saiam histéircas.

Vá entender!

Mas assim que a fila com cerca de 20 pessoas acabou, o Felipe sai lá de dentro. Me olha com uma cara apavorada e conta que o bonitão tinha dado um tapinha na bunda de uma morena.

Estávamos os dois dando risada do causo, quando avistamos o tal secretário do Fábio Júnior tendo um “lero” com a morena. Era uma conversa em tom baixo, quase confissional, mas cheia de argumentações.

Na hora nos demos conta de que o bonitão tinha enviado o seu fiél escudeiro para trazer de volta a escolhida da noite. O papo seguia e nós os dois de olhos cravados na cena.

Eis que olhamos para os lábios da popozuda e enxergamos sair aquela frase:

- Pois é, mas é que eu sou casaaaaaada...

Uma coisa meio melosa, quase como uma sentença. Na hora dei um cotovelaço no Felipe e caímos na risada. Ela parou pensou, e depois de alguns segundos infinitos...evaporou na multidão.

Na hora me veio à cabeça a melhor definição para cena: a morena titubeou!

Ela cambaleou nas piores intenções, vacilou sobre as pernas, ficou bêbada de vontade, mas por fim, depois de hesitar, exprimiu-se com indecisão e disse que era casada.

Ela definitivamente TITUBEOU!!!

A cena seguinte foi ela sentada na primeira fila do show, com uma dúzia de amigas na volta. Foi seu momento de glória. Ela estava quase dando autógrafos para as menos sortudas, que além de não terem ido no camarim, não ganharam o tapinha na bunda e não tiveram a oportunidade única de titubear frente a um convite irresistível do Jorge Tadeu.

Depois disso tudo, o show finalmente começou. Público animado, mulherada gritando e eu fui ficando. O repertório era de interpretações de músicas da Marina Lima, Tim Maia, tinha até Kleiton e Kledir.

Eu tinha dito para o Nauro que assim que acabasse a função do camarim iríamos para casa. Era sexta-feira, estava frio e a Sofia na casa da minha mãe.

Mas não é que o show começou a ficar bom. Ouvi as duas primeiras músicas, veio a quarta, o intervalo...

A verdade é que naquela noite o meu bom gosto musical também titubeou. Pode acreditar!

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Doce alma



Na terça-feira passada fui convidada pela equipe do HU São Franciso de Paula, onde a Sofia nasceu, para assistir a uma palestra. O médico pediatra Luís Alberto Mussa Tavares, do Rio de Janeiro, estaria falando sobre os direitos dos bebês prematuros.

Como de costume, quando soube que ele se dedicava a essa tão nobre causa, fui direto ao google para saber um pouco mais sobre essa pessoa. Pude perceber, já à primeira “lida”, que se tratava de alguém especial.

Autor de vários livros, é uma médico que fala com a alma.

Fizemos um primeiro contato por mail e apresentei a ele nosso Instituto Abrace (www.instutoabrace.org.br) onde está nossa história com o Mundo de Sofia.

Na terça-feira cheguei quase na hora da palestra, e não tive tempo de me apresentar. O Dr. Luis começou a falar enquanto mostrava em um power point fotos de prematuros e poemas de sua autoria.

Já de começo, nas primeiras palavras, começou a se emocionar. Eu também. A cada palavra, comparação, constatação, percebia que estava diante de um ser humano e tanto.

O seu trabalho é todo voltado a dismistificar os “decretos” da medicina. Ele escreveu a Declaração Universal de Direitos do Prematuro (http://slidesha.re/F88Iq) . Tem um olhar atento aos profissionais que participam de cada décimo de vida nas UTIs. Olha para o todo. Enxerga o bebê, a mãe, o pai, o ambiente, a história, a vida.

Mostrou para ao auditório lotado, que o prematuro sente dor, e precisa ser tratado com o máximo de cuidado. Para quem não sabe, a medicina acreditava que isso não acontecia.

Foi muito bom ouvir de alguém que veio de longe e estuda profundamente o assunto, o que impiricamente defendemos na prática.

Ao final da palestra eu obviamente estava em lágrimas. Fui abraçar aquele hobin hood da medicina e falar da minha satisfação em conhecê-lo pessoalmente. Com receptividade mútua, combinamos de trocar novos contatos.

Antes mesmo disso acontecer, recebi da Mariana (acadêmica de enfermagem), irmã da querida Paula Blaas, um poema feito pelo Dr. Luis, após sua estada em Pelotas.

Divido aqui com vocês um pouco da visão desse home de alma doce:

O doce mais doce de Pelotas

Voce já provou dos doces de Pelotas?
Gostou?
Ja reparou como são feitos com cuidado e atenção?

A impressão que a gente tem é que são preparados para sua boca, para seu degustar...
Como são ternos, como seu paladar é marcante...
O Pastel de Santa Clara, o Bem-casado, o Bom bom de Morango, a Queijadinha, o Beijo de Mulata...

Ah, sim, claro...
São bem gostosinho também...
Vale até a pena escolher alguns deles pra levar pra casa...
Garantia de sucesso...

Mas os doces de Pelotas, os verdadeiros, os doces mais doces dessa terra gaucha voce já conhece?
Já provou?

Ja visitou o Hospital Universitario São Francisco de Paula?
Ja conversou com a Rejane, nutricionista responsavel pela coordenação das açoes amigas da criança no Hospital e pela costura geral das normas de amamentação naquela casa?

Ja recebeu um abraço da Mariana, academica de Enfermagem que tem se dedicado ha 2 anos ao trabalh o com as puerperas e com seus bebes em aleitamento?

Ja sorriu para a Carla, Assistente Social que vislumbra a criança e seu entorno e percebe a importancia do vinculo como elemento apoiador de primeira grandeza?

Ja parou para escutar Dr. Gil que aos 41 anos de magistério tem o vigor de um menino e a avidez de um verdadeiro idealista?

Ja provou da gentileza e receptividade do Dr. Silvio que percebendo a importancia das ações cuidadoras de proteção e apoio à mãe e ao bebe tem dirigido aquela casa com apoio incessante à causa do acolhimento?

Ja experimentou conversar com toda uma equipe que trabalha ali naquela casa e se emocionar varias vezes?

Ja reverenciou a história de Sofia e da Gabriela e do Nauro? Ja leu o Diario de Sofia? Ja marejou seus olhos diante da magestade materna da Gabriela e de seu exemplo para nossa especie?

Já visitou dona Adelma na Enfermaria para ajuda-la no procedimento da translactação? Ja falou com a mãe da Adelma, avó do pequeno Lázaro, mamiferozinho gaucho de olhos claros e sucção promissora?

Já ouviu falar da Casa da Gestante?
Já passou pela sua cabeça que a equipe inteira trabalha com ordenha manual, não usa bombas mecanicas e fazendo assim se permite coletar mais de 14 litros de leite materno por mes?

Ja entrevistou a mãe do Pedro, auxiliar de enfermagem que sofreu uma cesariana com 31 semanas de gestação e que bdepois de ter usado formula por copinho por 3 longos meses reassumiu aleitamento exclusivo com o qual permanece ate hj?
Amigo?

Tem certeza que vc já provou dos doces de Pelotas?
Do sabor seu materno?
Da sua coloração lactea?

Já se sentiu acolhido por uma equipe de um Hospital que não poderia ter outro nome que não São Francisco?
Ainda não?

Eu te asseguro que voce não sabe o que está perdendo.
E como se não bastasse a doçura inesgotavel da Rejane e sua turma voce pode ter ainda a feli cidade de conversar com a Maria Amália e com a Jamile, que tornam o doce mais doce e fazem o frio pelotense transformar-se em calor e aquecimento verdadeiramente aconchegantes.

Então, meu amigo, minha amiga...
Nada contra o Pastel de Santa Clara, o Bem-casado, o Bom bom de Morango, a Queijadinha, o Beijo de Mulata...

Mas quando voce for a Pelotas, eu recomendo:
Não se esqueça de provar seus doces mais doces...
Voce não vai conseguir parar de provar e se fartar deles...

Aos amigos do Hospital Universitario São Francisco de Paula representados nessa mensagem pela querida Rejane, meu agradecimento, minha reverencia e minha desde já saudade grande.

Com carinho,

Luis Tavares,

Campos, RJ.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Diálogo


Terça-feira, 11h35min do dia 12 de abril de 2011. Em uma estrada de chão batido do bairro Areal. Eu dirigindo. Ela na cadeirinha.

- Mamãe, eu tava pensando uma coisa...como seria legal a vida se ninguém nunca morresse né?!

- É verdade Sofia, seria maravilhoso!

- Daí mamãe, o Cacá e a Cacú, não iam ficar velhinhos. E o Vô Nauro e a Vó Perci nunca iam morrer né?

- Ah, seria o máximo mesmo Sofia. Mas então, nesse caso tu terias que ter cinco anos pra sempre, né?

- ........ (silêncio)

- O que foi, tá pensando?

- É mamãe, eu pensei outra ideia. Então, eu acho que seria melhor, se eu crescesse até os sete anos. Daí, depois disso, todo mundo continuaria do mesmo tamanho, sem morrer nunca.

- Ah, que ótima ideia Sofia. Então se fosse assim eu congelaria aos 44 anos. Ia ficar uma mamãe novinha pra sempre? Adorei...

- ...... (silêncio)

- ...que maravilha...e o Vô Cacá então, nunca ia ter cabelo todo branco. Se ele está recém começando a ter uns fiozinhos, ia ficar sempre bonitão. Ele iria amar!!!

- ...Espera aí mamãe. Eu tava pensando uma coisa...E a tua Voinha que já morreu??? Como ela ia fazer pra me conhecer se ela já foi á pro céu?!

- ...... (silêncio)

- Hein mamãe, como?

- Bom Sofia, eu acho que a Voinha já te conhece, e não é de hoje. Ela deve ser a comandante dos anjinhos da guarda que moram lá no céu. E cada vez que a gente pede ajuda para o anjinho, ou para eles nos cuidarem, é ela que está organizando tudo por lá e nos manda algum bem eficiente para dar conta do recado. Nesse caso, eu acho que ela poderia continuar lá em cima, cuidando de todos nós, tu não achas?

- É, pode ser...

- E tem outra coisa minha mimosa, tu podes ter certeza absoluta de que a Voinha já te cuidou muitas vezes enquanto a mamãe descansava. Pode acreditar!

- Eu sei mamãe!

(chegamos em casa)

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Carinho bom


Hoje é comemorado o Dia do Jornalista. Acordei sem saber da data, até ver pipocar um verdadeiro entrelaçamento de mensagens entre colegas no twitter

Logo depois abri o site do G1 e vi a tragédia que acabava de acontecer em uma escola no Rio de Janeiro. Um louco abateu crianças como um verdadeiro massacre que só assistimos na ficção. Fiquei perplexa e triste.

O jornalismo é também a notícia mais surreal. E assim passei o dia. Mais para triste do que feliz. Lá pelo final da tarde recebi um telefone com prefixo 51. Logo vi que era da capital.

Do outro lado da linha a voz do Beto, um velho amigo dos tempos em que fazíamos o jornal "O Pescador", na colônia de pesca Z-3. Naquele tempo eu era uma estudante, ele um líder da comunidade.

Com amáveis palavras ele queria me parabenizar pelo dia. Fiquei muito feliz com a lembrança e olhei para nós dois hoje com orgulho. Eu jornalista, ele vereador.

O sol já coloria o horizonte quando um mail pulou na minha caixa de entrada do outlook. Era a Greice e seu jeitinho todo especial. Li e me debulhei em lágrimas. Divido abaixo com você esse último capítulo do meu "Dia do Jornalista".

----- Original Message -----
From: Greice Pich
To: Satolep - Gabriela Mazza
Sent: Thursday, April 07, 2011 5:59 PM
Subject: Dia do Jornalista

Tem gente que gosta de ler.

Tem gente que gosta de escrever.

Tem gente que gosta de ler e de escrever.

Tem gente que lê tragédia e consegue escrever sobre amor. Tem gente que lê sobre amor e faz da vida uma tragédia.

Há os que escrevem por escrever... e constroem poemas.

Muitos têm muito a dizer...mas não conseguem escrever. E há os que quando escrevem, perderam a oportunidade de ficar sem algo a dizer.

Assim é vida de jornalista.

E hoje, Gabi, nessa pequena homenagem que eu mesma criei e escrevi quero te parabenizar pelo profissionalismo, pelas palavras doces, pelas histórias que insistes em contar. Por transformar experiências em belos poemas, por escrever quando se têm algo a dizer, por retratar a tragédia de forma bela.

Marta Medeiros deve ser tua fã, pois escreve como tu!

Bjs!
Te adoro!

=======

----- Original Message -----
From: Satolep - Gabriela Mazza
To: Greice Pich
Sent: Thursday, April 07, 2011 6:05 PM
Subject: Re: Dia do Jornalista

Amiga querida, me deixasses em lágrimas!! Que coisa mais linda!!! Essas palavras doces e sinceras encheram meu coração de alegria, em um dia em que a notícia amanheceu cheia de tristeza com o assassinato das crianças do Rio. Obrigado por cada uma delas, na sua grandeza e significado. E obrigado por me lembrar o quanto tenho prazer em ser jornalista!

super beijo...e com a tua permissão, essa vai pro blog!

Gabi

sábado, 2 de abril de 2011

Eu e meus fuscas



Rodei muitos quilômetros de juventude a bordo de um fusca. Ou melhor, de vários fuscas.

O meu primeiro carro, aos 18 anos, foi um fusca bege, ano 60, que tinha pára-choque de aço. O coitado nasceu em plena ditadura militar, mas comigo viveu momentos de intensa liberdade.

Dei a ele a honra de testemunhar episódios inesquecíveis e tenho certeza de que também teve um final de vida digno. Mas, como já era esperado, durou o tempo de três estações e muitas histórias.

Lembro de uma vez, que levei uma fechada de uma F1000 e resolvi sair em disparada atrás do motorista, num surto de vingança. Em meio aqueles minutos de desvario insano, a minha co-pilota disse:

- Mas Gabi, tu ta louca, ele tem um caminhonetão, vai destruir o teu carro!!!

E eu cheia de grau, no alto daquela fase em que nos achamos imbatíveis, revidei:

- Ahhhh não, mas o meu fusca tem para-coque de aço!!!

Santa inocência e enorme inconseqüência. Juro que hoje sou uma motorista bem mais pacífica e consciente.

Mas voltando a uma noite estrelada de verão dos anos 90.

Naquele ano, o point do momento era um barzinho na Praia do Laranjal. Como de costumes, nos reunimos no apartamento da Andrade Neves, onde morávamos minha irmã e eu. Era lá o centro do nosso universo juvenil.

Com aquele calor gostoso de dezembro, todos os caminhos levavam para um show do Procurado Vulgo (a banda do momento!) no tal barzinho da praia.

Cabelo desalinhado, ombros ardidos do sol da tarde, brilho nos lábio e lá fomos nós, acotoveladas no fusquinha bege, rumo aos melhores momentos da vida.

Já no caminho o coitadinho começou a passar mal. Tossiu, engasgou, começou a tremer. Mas segurou firme até uma rua de areia mais próxima à orla da Lagoa dos Patos. Ele não iria nos deixar na mão.

E foi em frente a uma casa branca, de muro verde, que meu primeiro fusquinha veio a óbito. Ali, exatamente naquele lugar, o seu motor fundiu de vez. Nos despedimos para sempre.

Depois dessa notícia triste, a noite só foi recompensada pela carona de volta. O falecimento do pobre fusca serviu de gancho para conhecer um gatinho da festa, que teve pretexto para me levar em casa e acabou virando meu namorado alguns dias depois.

Como sempre fui politicamente correta, no caso do fusca bege decidimos doar seus órgãos para um ferro-velho das redondezas. O mecânico disse que a pobre carcaça não serviria para mais nada, além de boas lembranças ou uma floreira de jardim.

Optamos pelas lembranças.

Com a venda das peças, meu pai deu entrada no mais especial de todos os meus fuscas, o “Cerejinha”. Na verdade esse era meu e de minha irmã. Ganhamos juntas e dividíamos as despesas e o uso desse encantador modelo 1979.

Pela fase das nossas vidas, foi ele quem presenciou os melhores momentos das nossas descobertas. Voávamos as tranças para todos os cantos, sempre lotado de gente.

Era a unidade móvel oficial da nossa parceria.

Por mais que caprichássemos no perfume, sempre chegávamos nas festas com aquele cheirinho de motor, que entrava pelas ventarolas da frente. Típico de fusca!

Entre as peripécias do cerejinha, teve uma vez que o motor pegou fogo, em pleno centro. A minha irmã gritava e batia na casa de uma mulher para pedir água.

A inútil criatura só dizia que o nosso carro ia explodir, e não dava a bendita água. Até que um cidadão de bem estacionou o carro ao lado, e em dois segundos apagou o fogo com o extintor.

Que susto!

Lembro do radinho dele, que só pegava AM. Então saíamos para noite ouvindo as rancheiras daqueles programas noturnos. Era o embalo para nossas baladas na sequência, movidas à Legião Urbana, U2 e muita música boa.

Com o passar dos anos chegou o dia em que minha irmã casou e foi morar em Jaguarão. Eu comprei a parte dela e fiquei de majoritária no cerejinha. Rodei mais alguns sonhos, até que o coitado pediu aposentadoria por tempo de trabalho.

Nada mais justo.

Cumpriu com êxito a sua missão na terra. Foi testemunha dos melhores momentos de muita gente que conviveu com ele. Ah, se foi! Muitas passarão os olhos nessas linhas e terão mais episódios do cerejinha pra contar. Aposto!

Depois desse, comprei um fusca verde desmaiado. Era uma cor meio indefinida. O motor era bom, tinha cara de novo e devia ser ano 1981, ou mais. Teve muita serventia, mas viveu mais o lado prático do cotidiano.

Esteve comigo nos tempos da faculdade e cruzou muitas vezes as estradas de chão batido rumo à colônia Z-3. Eu fazia um jornal experimental para colônia de pescadores e obviamente o meu fusca era nossa condução oficial.

Um sábado por mês eu parava o verdinho em frente ao Diário Popular e pegávamos os exemplares do “O Pescador” recém impressos e lotávamos o porta-malas do fusca. Dali, seguíamos para Z-3 distribuir os jornais de casa em casa.

Foi um tempo bom. De grandes amigos e muito aprendizado!

Mas com a despedida do verdinho, um vazio ficou dentro do meu peito. Quando casei com o Nauro ele só ouvia lamentações sobre a saudade que eu senti dos meus fuscas. Chegou até a me dar um fusca marrom, chamado de “Choquito”, mas que em pouco tempo quebrou o cabeçote e nos deixou a pé.

Hoje, duas décadas depois do meu primeiro fusca, tudo parece diferente.

Compramos recentemente um fusquinha. Com o fato de moramos pra fora e termos um carro apenas, o vai-e-vem do cotidiano acaba dificultando as coisas.

O “negócio” envolveu um iphone e mais alguns trocados. Por ai vocês já imaginam o estado do tal fusquinha. Ele é azul calipso e tem vidro com insulfilm. Para culminar, é rebaixado e tem uma daquelas direções minúscula, que mais parecem um pires.

Então, como a tal da Rural do Nauro é quase que para enfeite porque não funciona, o remédio foi comprar esse fusca para ele ir e voltar da faculdade à noite.

Até aí tudo bem, ele andava esporadicamente no fusca e eu sempre no nosso Palio.

Mas como na semana passada nosso carro novo ia chegar, e o Palio era parte do pagamento do zero, tivemos que entregá-lo à concessionária.

Então, durante uma semana, ficamos dividindo o uso do fusquinha azul calipso.

Eu não sei se é a idade, ou o tempo que muda nossos interesses. Ou também se aos 20 anos a gente não tem nada na cabeça mesmo, mas eu passei um sufoco danado com o tal fusca.

No primeiro dia que dirigi, até achei um quê de romantismo. Aquele cheirinho de óleo, os bancos estofados como antigamente, sei lá. Mas depois dos primeiros dez quilômetros, eu já comecei a pedir penico.

Minha coluna ficou em pandarecos. O barulho do motor, aliado ao vento na cara, me dava uma baita dor de cabeça. Sem falar no cheiro a óleo que me fazia sentir levando uma borracharia nas costas.

- Socorrooooooooooooooooo!!!!

Mas como tudo na vida, foi uma catarse necessária.

Foi bom me dar conta de que cada fase tem seus símbolos e que hoje, aos 42 anos, eu quero mais é ter o fusquinha nas boas lembranças dos meus vinte e poucos anos.

Na sexta-feira, quando o cara da San Marino ligou para avisar que podíamos buscar o carro novo, dei pulos de alegria. Fomos todos bem faceiros receber o mais novo membro da família.

Sentei naquele carro novinho, confortável e agradeci. Agradeci por todos os meus fusquinhas, porque sem eles, eu nunca teria chegado até o tal do “Idea”.

Tenho certeza de que se não tivessem sido os meus fusquinhas e suas histórias incríveis, a vida hoje não teria a mesma graça. E eu certamente não seria quem eu sou.

Tudo na vida tem seu tempo. Até os fuscas!

sábado, 19 de março de 2011

Fênix


Uma querida amiga está no hospital. Ela luta contra um câncer há alguns anos. É jovem, bonita, tem um marido que ama e uma filha que ilumina seus dias.

Acompanhamos nesses anos a sua brava batalha com imensurável admiração e orgulho. Aquele corpo franzino, já derrubou vários decretos da medicina com sua alma de leoa. Simplesmente rasgou os prognósticos que afirmavam, sentenciavam e assustavam.

Não foi uma nem duas vezes. Foram várias.

Agora ela está lá de novo. Naquele quarto inóspito, com cheiro de álcool gel e cores pastéis. Os decoradores de hospitais acham que são cores próprias para esses momentos.

No caso da nossa querida amiga, isso é um ledo engano. Ela merece paredes cor de carmim, flores multicoloridas em um vaso vistoso e lençóis de cama tão bonitos quanto os seus olhos azuis.

Sua alma é assim.

Um tempo atrás escrevi sobre a admiração que tinha por essa pessoa. Foi em fevereiro de 2010, no post “Tão rara”. Naquela época as coisas ficaram complicadas. E mais uma vez ela deu a volta por cima.

Conversando agora há pouco no telefone com minha irmã, decidimos ir à Porto Alegre passar um dia com ela na semana que vem. Quero levar na mala a medalha de Nossa Senhora que ganhei de uma vizinha-amiga.

O amuleto acompanhou essa querida vizinha quando o marido sofreu de um câncer complicado. Daí, quando a Sofia estava no hospital, ela achou por bem me dar.

Era véspera da cirurgia. Situação mais que crítica. A Sofia com menos de dois quilos, com infecção hospitalar e sem chance de esperar mais um dia para se operar.

Completando o quadro da dor, eu estava internada em um quarto do mesmo hospital, infectada por outra bactéria gravíssima, com mil e um cuidados.

Na entrada do bloco cirúrgico o Nauro entregou a medalha na mão de uma das enfermeiras que seguiu com ela e recomendou que trouxesse de volta. A Sofia e a medalha!

Durante a anestesia, ela teve uma parada cardiorespiratória. O médico ficou dois minutos massageando aquele minúsculo corpinho. Quando estava quase desistindo, a Sofia voltou. E o mais incrível: sem seqüela neurológica.

Por isso hoje, quando falei com minha irmã, não tive dúvidas. Preciso passar a medalhinha a diante. E para quem tem alguma dúvida de que milagres existem, eu conto que nesse instante tem uma menina peralta, de cinco anos, dando cambalhotas em cima da cama.

Amiga Neca, segura firme que estamos chegando na quarta-feira para passarmos o dia juntas. Vamos dar boas risadas e colocar a medalhinha bem perto do teu coração.

A força da vida é algo inexplicável. E a medicina cada vez mais se curva para essa verdade que transforma os destinos.

Teu poder de fênix é a maior prova disso!

terça-feira, 1 de março de 2011

Tempo

Fiquei um tempo longe do blog. Não tirei férias do trabalho. Ser autônomo tem dessas coisas. Algumas vantagens, mas também a necessidade de administrar o tempo no revés do calendário.

E já que tive de continuar na labuta, optei por me dar um tempo. Nessa pausa íntima, fiquei bem quietinha, espiando as frestas do cotidiano. Deliciosos momentos comuns, que no correr dos dias nos escorrem pelas mãos.

Olhei para a Sofia no mágico reboliço das primeiras férias de sua vida. As tardes andando no balanço de corda, os banhos de arroio, os cabelos dourados irradiando a grama verde. Vi o quanto cresceu minha pequena. Já não é mais nossa bebezinha. Enxerga o mundo. Questiona. Nos pega de surpresa.

- Como surgiram as estrelas mamãe?

E lá vamos nós, as duas para a internet. Eu com receio da imprecisão, recorro à tecnologia. Expliquei a ela que a mamãe não sabe de tudo, mas que por sorte, hoje temos o Google para dar uma mãozinha (ou azar!).

Também tive tempo para ver mais de perto as características tão próprias do meu marido. A força bruta que em um dia de folga vira cimento e constrói uma churrasqueira é também de pura sensibilidade. São dele as mesmas mãos que mergulham a máquina fotográfica no detalhe do dia que se esvai.

Vem da alma esse olhar que congela instantes magníficos do cotidiano. Muitas vezes não tenho tempo de apreciar essa metamorfose tão singular. Tão ele.

Enxerguei com carinho, os cantos do nosso espaço. Essa casa feita de retalhos da nossa história. Repleta de cores e símbolos, de gente que passou mas ficou. Como disse nosso amigo Sancler, mais parece cênica.

E foi caminhando por esse cenário tão nosso que vi o quanto o jardim plantado em grande parte pelo Nauro e pela Sofia, já dá frutos. Comi o primeiro caqui que nasceu no calor desse verão.

Vi os brotos de pitanda e o florir prematuro do maricá. Sinal de inverno rigoroso, como dizem os antigos. Teve gosto da mais pura felicidade.

Encontrei tempo para tardes ociosas e bolo morno. Li alguns livros que estavam a minha espera na estante. Viajei pela literatura de Isabel Allende, descobri novos autores e me peguei sonhando em um dia publicar uma obra minha.

O verão já está com cara de outono. Amanhã recomeçam as aulas da Sofia. O cotidiano vai atropelar muitos detalhes que temos a sorte de enxergar mais de perto quando estamos desconectados.

Como tudo na vida, tem os dois lados da moeda. A correria começa e com ela nosso radar fica atento, apontado para todos os lados. Nos debruçamos em semear, arar a terra para plantar mais sonhos. É um ciclo e cumpri-lo está na nossa essência.

Que venham então os assuntos da vida e sirvam de inspiração para nossos deliciosos encontros por aqui. Nesse espaço virtual, onde tudo é permitido. Desde não saber como nascem as estrelas, até a liberdade para daqui se ausentar!

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Esperança


Há algumas semanas um pensamento não sai da minha mente. Ando divagando sobre aqueles que lutam contra um câncer. Sobre a batalha dessa brava gente.

Ele não está longe. Ronda as casas e as famílias. Espreita a felicidade alheia. Assombra sonhos. Abrevia futuros.

Posso vê-lo em rostos bem próximos. Em pessoas que admiro. No meu pai que tanto amo. Em amigos virtuais e reais.

Cada um de nós tem a sua lista de rostos nesse instante.

Ele chega sem avisar e desorganiza a ordem natural. Coloca à prova. Faz a queda de braço.

Em alguns corpos está adormecido. Em outros mostrando sua empáfia. Se impõem na angústia de olhos jovens. Questiona. Deixa incerteza no amanhã.

E enquanto esse turbilhão me faz perder o sono, vi um documentário impressionante no GNT, The Gerson Miracle. É uma história instigante.

O Dr. Max Gerson foi um médico judeu que descobriu a cura para essa implacável doença em 1928. O tratamento é alternativo e a cura se dá através de uma dieta de sucos de frutas orgânicas e da desintoxição por inoculação de café orgânico.

Depois disso assisti a vários vídeos e depoimentos no youtube. Fiquei impressionada. Fiquei esperançosa. Quem sabe não é um caminho.

Um jeito de reinventar tantas histórias.

Enquanto isso, peço ao tempo que tenha calma. Que não dê passos largos. E que novas ideias se apressem.

É o mínimo que esses tantos implacáveis guerreiros de hoje merecem. Que a esperança seja então a bola da vez.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Alex Atala


Fotos: Marcos Vilas Boas

Nos últimos cinco anos o Nauro e eu nos debruçamos em construir a nossa lista de desejos todo dia 31 de dezembro. Quem já veio aqui em casa viu um papel todo rabiscado, colado na lateral da geladeira.

O ritual é sempre o mesmo. No final da tarde do último dia do ano, fazemos um mate, sentamos na sala, e começamos a avaliar os itens riscados nos 364 dias anteriores.

É comum sair alguma briga. Eu por exemplo achando que um sofá novo para sala é prioridade e ele defendendo a compra de uma lente melhor para o nosso equipamento fotográfico.

E assim passamos pelo menos uma hora em meio a debates e risadas. O conteúdo dos desejos da lista varia. Vão desde coisas simples e possivelmente banais, até ousadias, ou quem sabe “sonhos”.

Não sei se é psicológico, ou se Freud teria alguma explicação, mas a coisa funciona bem.

Só para situar e até mesmo contabilizar os resultados: ambos tivemos casamentos anteriores e quando ficamos juntos tínhamos meia dúzia de quinquilharias para juntar, além das tais escovas de dentes.

Eu, além do meu fusquinha, ainda cheguei com uma fatura do Credicard com parcelas a perder de vista. Ele tinha um barco velho e um tal sofá preto horroroso, mas cheio dos valores sentimentais (custei a convencê-lo a desapegar da tal relíquia, mas ano passado consegui - ufaaaa!)

E assim foi nosso começo de vida.

Realmente não sei que mágica fomos fazendo ao longo dos anos, mas quando olho para trás vejo que alguma estrela brilhou no nosso céu.

Nos primeiros anos contamos muito com a sorte e alguns chutes na lua. Um bom exemplo foi a forma com que compramos nosso terreno (que aos poucos cresceu). Em um mesmo ano (2004) ele ganhou dois concursos de fotografia nacionais.

Com a grana dos prêmios, arrebatamos nosso chão. Tá certo que o artista é talentoso, mas se eu não tivesse inscrito as fotos...nada feito meu amigo!

E assim seguimos até a lista de 2011, da qual quero falar.

Este ano elencamos muitas coisas práticas, como pintar a lareira, colocar um portão eletrônico na porteira, comprar uma geladeira nova, enfim, necessidades materiais.

Mas a melhor parte da lista são os desejos que enchem a alma, e é deles que eu mais gosto. Um dos meus sonhos para esse ano é jantar no restaurante do Alex Atala, em São Paulo.

Sou louca por gastronomia e a cada ano fico mais encantada com a relação da comida com a vida. É uma coisa mesmo de tempero dos sentimentos, sabor de lembranças, olfato da memória. Sei lá o que, mas mexe por dentro.

Um dos livros que mais me encantou foi o “Afrodite”, da Isabel Allende. Eu já era fã de carteirinha, mas quando ela se jogou em uma verdadeira incursão sobre a comida e os sentimentos, não resisti.

E foi aí que comecei a colecionar vontades ligadas à gastronomia. Hoje me delicio assistindo a programas de chefs malucos, certinhos ou exóticos. Adoro filmes relacionados a vida e comida.

E foi por isso que o meu grande desejo de 2011 está relacionado a esse contexto. Já resolvi:

- Este ano vou jantar no D.O.M. e bater na cozinha do Alex Atala para conhecê-lo pessoalmente.

Não sei ainda que mágica vou fazer, mas a verdade é que antes do dia 31 de dezembro deste ano vou ter o prazer de riscar esse item da lista. Podem acreditar!

Enquanto isso não acontece, deixo aqui uma foto desse cara fantástico, que revolucionou a culinária moderna e seu restaurante está entre os 50 melhores do mundo.

Mas não se preocupem, ele não atende assim como está nas fotos Esse foi um ensaio para a Revista Trip.

(Se bem que não seria de todo mal...ahahahahahah!)

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Esplendor dos contrários


Foto: Paulo Rossi
Ontem no final do dia eu estava especialmente cansada. Ando numa semana puxada, cheia de probleminhas de trabalho, que andam deixando meu estômago enrolado.

No final do dia fui buscar a Sofia na aula de tênis, e com aquele lindo fim de tarde ela me pediu para dar um último mergulho na piscina. Aproveitei a deixa e pedi cervejinha bem gelada, no bar do clube, acompanhada de uma porção de iscas de peixe à milanesa.

Era tudo o que eu precisava para achar o epicentro da minha tempestade naquela quarta-feira.

Dei um afobado gole de cerveja. Ela parecia ter fermentado especialmente para aquele momento. As iscas de peixe estavam crocantes e, com o molhinho de pimenta, fizeram me sentir em uma propaganda da CVC.

Tudo estava de cinema, até que o meu celular tocou.

Do outro lado um marido impaciente, reclamava que estava cansado, louco para ir para casa. Como só temos um carro e moramos lá onde o Joãozinho perdeu as meias, tive que editar o roteiro desse filminho.

Tirei a Sofia da piscina sob protestos, sequei, vesti e abandonei as minhas iscas (que só em descrever já me deixam com água na boca) e fui buscá-lo no jornal.

Embarcaram no carro ele e minha enteada. Antes de pegar o rumo das casas, ele me diz:

- Vamos dar uma passadinha ali na Balsa?!

Para quem não é de Satolep, esse é o nome de um bairro na zona do Porto, onde ficam pequenos estaleiros de barcos. A intenção, revelada no decorrer do percurso, era ver se a nossa lanchinha estava pronta, depois de uns reparinhos no motor.

(Agora uma pausa para localizar os leitores no tempo.)

O Nauro tem um fascínio, que não sei explicar, por duas coisas: indiadas e parafernálias. Eu não posso dizer velharias, porque a definição viraria contra mim. Ele brinca que é por isso que se casou comigo, já que tenho míseros seis meses a mais do que ele.

Mas a verdade é que desde que casamos ele já comprou uma lista interminável de cacareco. Sempre com argumentos incríveis e convincentes. Não sei como!

E isso entre veículos de água e terra. Por sorte nunca pintou um teco-teco modelo Santos Dumont de barbada. Melhor nem dar a idéia!!!

Nesse currículo de veículos - que de preferência dêem muito trabalho e pouco uso - posso citar: uma moto Java do tempo das cavernas – acho que era do Fred Flinston, um reboque velho que foi praticamente “içado” de Novo Hamburgo até Pelotas, uma Kombi a diesel que quase virou floreira do jardim, além da Rural bipolar, que só liga quando está de bom humor. Esta, no momento, repousa na nossa garagem se querem saber!!!

E como com os barcos não poderiam ser diferentes. Voltemos então ao longo dia ontem...

Deixei-o no tal estaleiro para que trouxesse de volta, ao aconchego do nosso trapiche, a lanchinha nova. Ela é fruto de um câmbio, feito há alguns meses, por outro barco, o Inca

*Nota da redação: não é fácil compreender esse emaranhado de “aquisições”, seria necessário fazer uma verdadeira árvore genealógica das quinquilharias, para melhor compreensão dos leitores.

Cheguei em casa, fiz o jantar, comi, coloquei a camisola...e nada. Até que lá pelas cansadas ele liga:

- Oi meu amor...fiquei empenhado, a lancha parou aqui na boca do Arroio Pelotas!

Pronto, pensei, o programa ficou completo!

Mas ele só queria avisar para eu não me preocupar. Já tinha acionado o socorro do nosso vizinho Diego, que iria rebocá-lo. A estas alturas os mosquitos faziam procissão pelas redondezas.

Quando chegou, eu já estava quase dormindo. Mas não me contive quando vi a cara dele. Chegou faceiro, animado, como se estivesse vindo de uma festa.

Dei uma risada e percebi que aquilo que a meu ver seria um problemão, pra ele foi pura diversão.

Ele curte o “ficar empenhado”. O legal é exatamente isso, a busca pela solução. Catar um mecânico tarde da noite, achar um barco pra rebocar, puxar um canivete do Magaiver, engraxar a roupa limpa e, se bobear, ainda fazer uma canoa com meia dúzia de juncos pra chegar em casa.

É uma coisa incompreensível, mas é a mais pura tradução do meu marido. O legal é exatamente achar graça dessas diferenças. Esse é o verdadeiro esplendor dos contrários.

Com o convívio, percebi que a gente passa muito tempo buscando a perfeição no casamento. Perde-se muito tempo e se gasta muita energia inutilmente. Na verdade, o bom dessa comunhão, é o diferente.

Imagina se fossemos iguais? Não ia ter graça.

Além do mais teríamos que adquirir mais alguns hectares de terra para guardar a sucata que arrebataríamos por aí afora!!!

(Desculpa meu gordinho, não resisti!! Ahahahahahahha)