segunda-feira, 30 de novembro de 2009

E fez-se a luz...

Uma das minhas maiores amigas completa hoje 40 anos. Para mim se chama Moby, mas de batismo é minha xará: Gabriela.

Nos conhecemos desde pequena, porque ela é prima do Diego, que é meu vizinho desde as fraldas, aqui na zona do Areal fundos. Na adolescência nos afastamos por um tempo e quando nos vimos novamente, ela, com 17 anos, já carregava nos braços a Olívia.

Somos bem diferentes, mas temos muitas coisas em comum.

Testemunhamos juntas as descobertas e conflitos mais importantes de nossas vidas. Rimos e choramos em vários momentos. Sempre soubemos ouvir uma a outra. Mesmo a mais velha sendo eu, é dela que sempre saem as palavras mais maduras. E eu, com aquela cara de colegial, acato suas sábias observações.

Já tivemos passagens hilárias no nosso diário de memórias. Nos demos a mão nos momentos de maior dor de nossas vidas. Ela cuidou da Sofia por mim no hospital, quando minhas forças estavam acabando. Cuidou de mim, quando as forças acabaram. Cuidou do Nauro quando eu não podia mais cuidar de nada.

Dela escutei a frase que precisava para iniciar a revolução mais decisiva da minha vida. Daquelas frases que ficam grudadas na nossa alma e detonam uma série de descobertas interiores. Frases duras que só os amigos de verdade conseguem verbalizar com carinho.

Nossos encontros são sempre regados a chimarrão, sol e muita comida – independente da estação e das condições climáticas. A Moby é totalmente color, e eu absolutamente cáqui. Ela não pisa na rua sem lambuzar um batom marcante na boca e eu, com sorte, me atiro em um brilho rosado. Mas com tudo isso temos muito em comum.

Dividimos sonhos, somos loucas pelas nossas filhas e nossa amizade sempre foi regada por dois ingredientes que germinam afeto: respeito e admiração.

Há dois anos atrás, minha amiga querida passou por momentos de escuridão. Algumas circunstâncias fizeram com que sua vida parasse por algum tempo. Um turbilhão de coisas paralisou o contato com o mundo aqui fora. Nesse período foi como se ela estivesse no exílio. Senti saudades e me questionei por mais de mil vezes se eu não tinha como fazer alguma coisa para tirá-la daquilo.

Até que um anjo luminoso apareceu e fez-se a luz. Um médico fantástico que a trouxe de volta para as cores que tanto gosta. E como acontece em todas as tragédias, podemos escolher em ser vítimas ou sobreviventes delas. Ela por sorte, escolheu sair ainda mais forte. Saiu de salto alto, é claro, linda e loura.

E hoje comemora essa data que tanto gosta com um brilho a mais naquele par de olhos verdes. Já que a vida começa aos 40, um brinde a minha amiga Moby e bem vinda à vida!

sábado, 28 de novembro de 2009

O tal brilho

Ontem, na hora do almoço, combinei com a Sofia que depois de sua tradicional sesta da tarde arrumaríamos a casa com os enfeites de Natal. A notícia já fez um sorriso diferente colorir aquele rostinho lindo. Subi para trabalhar, enquanto ela tentava dormi o mais rápido possível, ansiosa com a notícia.

Pelas 17h, a Talita desceu as caixas e sacolas das nossas bugigangas natalinas e começamos as três a redescobrir os enfeites guardados há um ano. Incrível, mas eu consigo esquecer totalmente das coisas ensacadas e quando abro as caixas, parece que estou vendo os arranjos pela primeira vez. Isso deve ser genético, porque a cada novo Papai Noel que abríamos a Sofia brilhava os olhinhos e escolhia cuidadosamente um lugar de honra na casa. Assim passaram-se algumas horas.

Foi uma tarde deliciosa, de muita sintonia com o tal espírito natalino que nos invade nessa época. Eu não sei exatamente como funciona esse mecanismo e os antropólogos, sociólogos, e demais estudiosos devem ter mil e uma explicações técnicas. Mas no frigir dos ovos o negócio é que nessa época a gente parece que enxerga com mais clareza o tal brilho da vida. Momentos como esse, simples até, revelam um profundo encanto.

Minhas lembranças viajaram para os tempos em que eu era criança, lá na Charqueada, onde a montagem da árvore de Natal era um evento esperado ansiosamente. Lembro de sairmos com a minha avó querida, a Chochó, para escolher o pinheiro do ano. Ela comprava árvore mesmo, de verdade, e eu achava aquilo o máximo. Uma vez, veio aquele monstro pinheiro em cima da Karman Guia amarela dela. Uma cena totalmente filme americano. Depois nos reuníamos no salão e abríamos o tal baú dos enfeites. Eram horas mágicas, onde pareci que o mundo parava e aos poucos íamos transformando a vida em um conto de fadas. Delicadamente montávamos o cenário da fábula e nos sentíamos personagens dela.

Incrível sensação essa, que o tempo e a vida adulta vai nos tirando aos poucos. Vem a chegada da adolescência, depois a juventude e encontramos coisas estranhas para ocupar nosso mundo interior. Até que os anos passam e o sopro de vida aparece nas nossas sementes. Felizmente nossos filhos chegam e nos fazerem reviver tudo de novo. E foi pensando nisso tudo, que terminamos de enfeitar nossa casa. Com luzes, velas, presépio, árvore de Natal e Papai Noéis por todos os cantos. No final, depois da Talita ir para sua casa, sentamos as duas na sala e a Sofia suspirou de alegria:

- Mamãe, como tá linda a nossa casa!

Olhei para aquele rostinho de anjo e vi um brilho lindo e único. Me enxerguei naqueles olhinhos, como nos velhos tempos do pinheirinho da Chochó.

Fantástico e delicioso esse ciclo natural da vida. Fui dormir com a certeza de que alguma coisa brilhou aqui em casa, além das luzinhas natalinas.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Experiências químicas

Quem me conhece sabe que volta e meia acontece algum fato inusitado no meu cotidiano. É assim desde a infância. A lembrança mais remota que tenho foi ao quatro anos, quando a mãe me mando buscar um costureiro no closet dela e me deparei com uma ovelha gritando “Méééééé´” para o espelho. Imaginem o tamanho da ovelha duplicada pelo armário, cheio de espelhos. Contabilizem aí o trauma da criança. Até porque quando voltei chorando minha mãe achou que era fiasco, me sapecou algumas palmadas e mandou que eu voltasse lá, porque não tinha como um “bicho grande” estar no espelho. A história virou tradição na família e me rendeu anos de medos noturnos.

Acho que essa é a lembrança mais remota de causos desse tipo. Depois disso tiveram dores de barrigas em lugares que não tinha sinal de banheiro, brigas de trânsito hilárias e até a venda de um Fusca que acabou apreendido. Mas é assunto para mais adiante.

A mais recente aconteceu em um sábado de novembro, não lembro exatamente qual. O Nauro estava em Porto Alegre para o encontro dos jornalistas da Central do Interior e eu aqui, com o sábado inteirinho pra mim. Adoro sábados, é meu dia da semana preferido, ainda mais se não tenho nenhuma obrigação agendada. Então acordei, fui à feira comprar a geléia de morango da Mari (que será hospede do mezanino em breve!). Passei na farmácia e voltei pra casa com alguns DVDs debaixo do braço. Programinha perfeito para um sábado cinza, com cara de inverno. Aqui ao lado de casa, na Charqueada Boa Vista, uma movimentação intensa desde cedo, de alguma festa empresarial.

Então almoçamos e a Sofia foi logo assistir seus filminhos, bem faceira. Eu aproveitei para colocar a vida em dia. Fiz as unhas com toda calma do mundo, ouvindo meu CD preferido da Legião Urbana. Depois decidi dar um jeito naquele tom amarelado que meu cabelo tinha adquirido após algumas mechas mal sucedidas.

*Em tempo: Eu insisto em fazer experiências químicas desde a adolescência. Algumas amigas devem lembrar da receita de chá de camomila, leite e água oxigenada, que deixava o cabelo com um fedor horroroso e que nos melecava até a raiz do cabelo, literalmente. Pois então, mais de duas décadas depois eu ainda insisto em fazer esse tipo de porcaria. Se for nos meus arquivos do banco de dados, o percentual de eventos dessa natureza bem sucedidos ainda deve ser o de 0,37% alcançado em 1988. Foi quando consegui fazer uns reflexos dourados com um mistura de iogurte, limão e pingos de H2O2, que hoje seria proibido pela ANVISA.

Mas voltando a tarde de sábado até então perfeita. Depois de pés e mãos feitos, decidi colocar um tonalizante para unificar o tom tricolor da cabeleira. Estava me achando com aquelas caras de dançarinas de funk, sabe?! Pensei até que daria para escolher um nome de fruta, mas dadas as delineações corporais, o máximo que conseguiria seria uma “Gabi-bananinha”. Pelo comprimento da pessoa, óbvio!!!

Então avisei a Sofia que iria estar no banheiro com a porta fechada e fui ao trabalho. Umedeci o cabelo e lambuzei a cabeça daquela mistura gosmenta. Coloquei uma touquinha plástica e nunca foi tão fácil aplicar o tal Casting. Olhei no relógio para marcar os 20 minutos e fui assistir o Caldeirão do Huck. Estava frio e resolvi até pegar um edredon para ficar mais aconchegante. Me distraí, e quando vi já era tempo de correr para o banho. Avisei novamente a Sofia e me fui para o chuveiro. Caíram três pingos de água e o danado do chuveiro quase desligou. Daí me dei conta que estávamos com a conta da água em atraso e que possivelmente tivessem vindo cortá-la na sexta-feira.

- Não, isso não pode ser! ; pensei.

Chamei novamente a Sofia, coloquei um maiô e disse para ela carregar duas toalhas porque eu teria que tomar banho no cano da rua urgente, e ela seria minha assistente. Saí na porta e um golpe de vento já me deu o recado de que não seria nada fácil a missão. Ela, coisa mais mimosa, sentadinha na escada, me metralhando de perguntas sobre a inusitada situação. A mamãe de maiô, com a cabeça toda marrom, tomando banho na rua. Como assim? Daí eu disse para ela ir se acostumando, que quando crescesse iria encarar muitas frias como aquela. Ah, tem que preparar!

Foi aí, ao ligar o cano, já na segunda tentativa, que me deu o tamanho do desespero. Dessa vez caíram dez humildes gotinhas de água. O suficiente para tinta nojenta escorrer nos olhos e atingir as minhas lentes de contato. Os olhos começaram a arder sem parar. Comecei uma gritaria histérica e corri para uma poça de água no chão, já que não tinha mais alternativa de qualquer líquido potável ao entrono. Agachei que nem a Schimia (nossa “cã” oficial!) e comecei a tentar livrar os olhos daquela ardência terrível, em uma cena no mínimo hilária. Depois de alguns minutos de pavor, consegui enxergar a Sofia e pensei, estou salva. O que fazer então, já que não tinha qualquer resquício de água na volta.

Foi aí que levantei o pescoço e me deparei com o Arroio Pelotas, esbanjando suas águas turvas e históricas para todas as margens.

- Ah não, mas com esse frio é demais!!!; pensei.

O tempo passando, a tinta coçando e me fui de maiô e tolha para beira do arroio. A correnteza não convidava para um mergulho e depois de reavaliar a necessidade real, visualizei um balde velho em cima do barco do Nauro. Não tive dúvidas, subi no barco, enchi o balde e atirei aquela água barrenta por cima da tinta melequenta. Que cena linda! Imaginem se o pessoal da festa ao lado resolve espiar pela cerca o motivo da gritaria. Imaginem o mico.

Depois de repetir a dose mais três vezes, já com o corpo gelado, voltei para o aconchego do lar. Ufa, são e salva.

Com aquele cheiro de tonalizante exalando pelos poros resolvi me olhar no espelho.

- Socoooooooooooooooorro!!!!!, gritei.

Não sei se foi a demora na retirada da tinta ou a água barrenta do arroio, mas meu cabelo ficou cor de “capincho”, como bem definiu o Nauro. Depois de alguns dias como se fosse um periquito belga, e já com o fornecimento de água regularizado, comprei uma tinta castanho claro e voltei as minhas origens. Dessa vez pra garantir, fiz a experiência química na casa da mãe. Supervisionado por ela, é claro!

Nota da redação: a cor de cima está saindo a cada nova lavagem e o periquito belga dá sinais de vida. Ninguém merece!

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Incondicional

Algumas palavras da língua portuguesa são lindas. Sempre quando leio livros, paro no meio do texto pensando nas palavras bonitas que acho no caminho. Muitas delas ficam guardadas, a espera de uma oportunidade para usá-las em algum material jornalístico que produzo.

Comparo a vida como uma viagem muito divertida e nada planejada.


E como está longe de ser um pacote fretado da CVC (sorte nossa!), a gente nunca sabe qual o destino do nosso avião. Se vamos encontrar um céu de brigadeiro, ou se tem alguma turbulência no caminho. Muito menos de está previsto algum pouso forçado no mar.

E foi esse o itinerário que nosso avião fez em meados de 2005. Eu tinha 36 anos e exibia uma barriguinha charmosa de 32 semanas. Dentro dela guardava meu tesouro mais precioso. Era uma manhã de sábado qualquer e o único compromisso daquele dia era o aniversário da Miriam Marroni à noite - com quem eu trabalhava na época. Eis que me acordo sem sentir qualquer movimentação da serelepe Sofia. Daí até a cesárea de urgência foram algumas horas.

Foi aí então, que no dia 18 de junho de 2005, nosso avião fez um pouso forçado no mar. O Comandante sabia com destreza usar os instrumentos manuais, e lá do céu instruiu Dr. Flávio e Dra. Graça para que tudo saísse perfeito. Depois disso todos sabem o que sucedeu nos nossos três intermináveis meses de UTI, no Hospital São Francisco de Paula, em Pelotas. Muitas vezes comentamos, o Nauro e eu, que nos sentíamos como se estivéssemos à deriva, sem saber em que ilha aportaríamos.


Relato isso para chegar até a palavra mais bonita da língua portuguesa: incondicional. Foi durante os meses que passamos na luta pela sobrevivência (de nós os três!), dentro daquele hospital, que entendi a beleza dessa palavra. Foi lá que conheci na prática o que a literatura por mais que se esforçasse não conseguia me traduzir.

Incondicional.

Foi o amor incondicional de nós dois, como casal, que nos fez ter forças nessa jornada.

Foi o amor incondicional do Dr. Flávio pela medicina, que o fez buscar soluções para diagnósticos insolúveis.

Foi o amor incondicional da Sofia pela vida que nos fez entender o profundo significado desta dádiva. Por ter aprendido isso, é que curtimos cada minuto do aqui e agora, incondicionalmente.

Incondicional é sem dúvida a palavra mais linda da língua portuguesa.

P.S.: E se o Comandante permitir, queremos colocá-la em prática por muitos e muitos anos ainda!!!

A tal crônica dos 30 anos

Mexendo nos meus alfarrabos achei aquele escrito que fiz pouco antes de compeltar 30 anos. Mais de uma década atrás. Que loucura! Nem vamos contabilizar o tempo senão o meu divã-virtual vai precisar receitar algum tarja preta. Mas a verdade é que essa crônica, na época publicada no Diário Popular, rendeu identificação com muitas amigas. Lembro da Lelela (Daniela Ferreira, hoje morando em SP) que um dia me falou que guardava na carteira. Como publiquei aqui a dos 40, resolvi catar a dos 30 já que meu universo infinito tem uma variedade bem ampla de gerações. Coisa boa, amigas dos 20 aos 80 ensinam muito sempre!

Divirtam-se!


A sede dos Trinta


Pensei que seria diferente, que meu guarda-roupa seria povoado por tailleurs elegantes e scarpins distintos. Meu banheiro exalaria perfumes doces e minhas unhas seriam finas e longas realçadas por um marrom nobre. Nossas fantasias juvenis são incríveis mesmo.

Tão incríveis que continuam construindo diariamente nossos sonhos e fantasias de um futuro que nos surpreende sendo o presente. Lembro-me que aos 15 anos imaginava se não haveria um meio de se saber como seria nosso rosto aos 30 - que mágica seria esta que nos transformaria em pessoas "adultas".

Hoje, 30 anos depois de revoluções e lutas, sinto-me feliz . Meu cabelo ainda não tem aquele corte channel imaginado para tal idade, mas minhas Havaianas relaxam meus pés e ocupam menor espaço na sapateira do guarda-roupas. Minhas calças jeans já tem lugar cativo no armário e minhas unhas curtas conseguiram a honra de passar pela manicure a cada dois meses e saem revigoradas por um tom areia, muito bonitinho. O cabelo continua o mesmo, depois de algumas “experiências químicas” é claro, mas com aquele eterno ar indefinido.


Meu banheiro já evoluiu um bocado: na prateleira principal dois cremes, um para o dia, outro para noite – o difícil é lembrar de colocá-los. Como imaginamos coisas entre os anos de nossas vidas. Na verdade cada dia que passa faz com que vivamos outro capítulo das novelas de nossas idades. Na infância começamos como um “Sítio do Pica-pau Amarelo”, temos fantasias coloridas e sempre com um final feliz. Quando começamos a adolescência, nossas vidas viram uma novela das seis: problemas comuns aos olhos do mundo, mas insolúveis para nossas cabecinhas ainda desmioladas. Aos 20 achamos que já aprendemos tudo que a vida tinha a ensinar, levantamos o nariz e desafiamos qualquer pobre mortal com nossas teorias sem prática – ao melhor estilo de uma novela das sete.

Finalmente o horário nobre. Chegamos aos trinta com um pouco de receio, mas muita sede da prática. Finalmente nos sentimos no lugar certo, na hora exata. Olhamos para trás com ares de quem percorreu o deserto e encontrou uma máquina de coca-cola.

Resta-nos agora descobrir onde comprar a fichinha para saborear o delicioso líquido gelado e matar a sede dos trinta !

terça-feira, 24 de novembro de 2009

As gurias e a mesa da cozinha

A personagem desse texto não faz sentido para muita gente, apenas para quem teve o prazer de ser coadjuvante da existência deste móvel, de quatro patas, comum nas cozinhas do mundo inteiro, mas muito especial para nós: “as gurias”.
Realmente a mesa da cozinha do apartamento da Andrade Neves não tinha nada de especial. Era de madeira comum, com o tampo de azulejos bege, tinha de um lado um banco com encosto de madeira e do outro duas cadeiras, longe de serem confortáveis. O segredo de ser tão especial era a cumplicidade com nossa juventude pulsante. Ali sentávamos (nós, as gurias) para sonhar, chorar e curar as bebedeiras da noite anterior, regada a velha e saborosa sopinha de legumes.
Foi sentada na cadeira desconfortável da mesa da cozinha que descobri o quanto era feliz, só porque o colega bonitinho da faculdade tinha me ligado pra sair. Foi lá também que descobri que eu era a pessoa mais infeliz do mundo, só porque a minha franja era crespa e a moda era cabelo liso, escorrido (* naquele tempo não existia chapinha)
Foram tantas as nossas histórias na mesa da cozinha, que extravasaria uma crônica e viraria livro de contos. Foram muitos os cafés passados na hora para começar o papo da sexta-feira, até chegar a hora da “produção”, e olha que a coisa era demorada. Enquanto uma das gurias ia tomar banho, as outras seguiam o papo na cozinha, já trocando o café por uma cervejinha e planejando as “pautas” da noite.
Nossa cúmplice, a mesa da cozinha, só descansava quando o bando, já com alegorias e adereços, partia Andrade Neves a fora rumo a mais uma noite de muitas emoções (*naquele tempo se podia ir a pé para qualquer lugar!). Depois de protagonizarmos nossas sessões de amor ou desilusão, começava o retorno. A volta era sempre em conta-gotas, as primeiras a chegar geralmente “faziam cera” até a chegada das últimas e começávamos a contar tudo que tinha acontecido e o que “não tinha acontecido”. Todas sentadas na mesa da cozinha.
Foi alí que cheguei as melhores conclusões da minha vida. Foi alí que dediquei seis meses de devoção ao pão integral e onde compartilhei um sentimento que a vida adulta nos rouba: a leveza. Com o tempo perdemos essa espontânea sensação que permeia nossas descobertas juvenis.
As gurias que sentaram na volta da mesa da cozinha estão espalhadas por aí. Cada uma seguiu seu rumo, sua profissão, seu caminho. Estão sentadas em outras mesas, de outras cozinha, construindo suas histórias e a de seus filhos. Eu também segui o meu caminho mas ainda convivo de perto com “aquela mesa da cozinha”. Ela faz parte do mobiliário da casa da minha mãe e testemunha a bagunça que minha filha Sofia faz com os primos Pedro e Luisa a cada encontro. Em alguns anos vai estar escrevendo a história deles. É o ciclo natural da vida e das mesas das cozinhas de todos os cantos do mundo. Mas até hoje, quando sento nela, relembro daqueles momentos tão especiais da vida, onde éramos simplesmente as gurias !

A linha da onça

Cheguei a uma conclusão. Acho que as mulheres se dividem entre as que amam ou odeiam roupa de oncinha. Cheguei a esta conclusão no sábado, depois de ir ao casamento de um prima.

Nós mulheres somos totalmente vulneráveis em alguns temas polêmicos como silicone, bronzeamento artificial ou tatuagem. A gente não tem a opinião formada e dependendo da retórica podemos mudar. Mas em alguns temas acho que a paixão por determinado simbolismo nos separa, nos segmenta.

É o caso das roupas de oncinha. E olha que elas estão vindo com tudo no verão. Para meu desespero, mas para alegria da minha mãe e duas tias muito queridas.

Elas estavam as três enfiadas nas suas onças, felizes da vida, se achando lindas e de fato...muito elegantes no tal casamento. Eu obviamente preferi um modelito básico, mais suave. Mas todas nós nos divertimos e dançamos muito.

Mas como entender isso? O sentido que aguça nosso gosto ou “desgosto” por certas identificações. Não sei e por isso estou aqui dividindo com o meu divã virtual essa dúvida cruel. Qual a linha tênue que divide o amor e o ódio pelas roupas de oncinha?

Será que Freud faria relação com soltar a fera que existe dentro de nós? Socorro! Nesse caso prefiro ir direto para o zoológico, mas blusa de oncinha nãooooooooooooooooooooooooooo!!!!

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

A vida aos 40...

Quando completei 30 anos escrevi uma crônica falando sobre aquela idade, tão mágica. Ao mesmo tempo em que temia chegar às três décadas, tinha um certo fascínio por aquele número que nos abria as portas para vários mundos. O tempo continua me ensinando. Hoje, depois de completar 40, resolvi pensar melhor sobre aquela crônica de anos atrás e escrever sobre essa tão esperada esquina da vida!



A vida aos 40...

Acho que se Balzac vivesse nos dias de hoje, certamente iria transferir sua versão ideal de mulher para as quarentonas. Se aos vinte anos não sabíamos nada da vida e nos achávamos um misto de mulher-maravilha e Joana D´arc, aos trinta pensamos que sabemos tudo, e almejamos no mínimo alcançar o topo do Aconcaguá. Mera ilusão!

A vida aos trinta é como olharmos um raio-X. Nossa tolerância diminui e só queremos reciclar o que não nos satisfaz. É a hora da virada, de trocar seis por duas dúzias, e querer mais, muito mais da vida. Na verdade, aos trinta nos deparamos com um grande e enorme espelho. Ai resolvemos mudar! Renovamos, melhoramos, trocamos o corte de cabelo, o perfume e às vezes até o marido. Olhamos para trás e pensamos em tudo e todos. Choramos, nos despedaçamos e por fim, chegamos à conclusão de que ainda é muito cedo.

Começamos então a preparação para o verdadeiro ápice da vida. Reconstruímos nossos desejos. Reavaliamos nossos sonhos e revitalizamos nossa vontade de alcançá-los, com métodos práticos e viáveis. Enquanto isso uma briga diária com aquela parte do corpo que acusa. Que nos aponta. Que nos impede de colocar as blusinhas de mil anos atrás. Nossa barriguinha jamais será a mesma. As famosas “bordas de catupiry” chegaram para ficar e não tem “choquinho” ou drenagem linfática que resolva. É fato, e daí?!

Ao mesmo tempo o rosto transparece aquele ar de mulher. Um misto de suavidade e astúcia. Começa também uma intensiva de cremes noturnos, sempre com a ilusão de que as marcas do tempo vão ser “atenuadas”. Na maioria das vezes o ritual dura uma semana e os cremes mofam na prateleira do banheiro. Mas tudo bem, mesmo assim o placar é largamente favorável e temos como vantagem o gosto apurado por um programinha mais cult. Seja um DVD caseiro ou uma aventura em Três Coroas. Nosso espírito continua aventureiro e agora temos a vantagem de ter como bancá-lo.

Finalmente a data se aproxima e nossa vontade é de fazer um festão para esperar o mito. O implacável e tão esperado aniversário de 40 anos é como um marco na vida de uma mulher do século XXI. Temos experiência e autonomia suficientes para transformar nossos sonhos em realidade. Temos sensibilidade para entender o valor de nossos pais e paciência para compreender a intolerância de nossos filhos. Temos um parceiro escolhido a dedo para saborear nossas conquistas e dividir a melhor fatia do bolo. Ou, a autonomia para não querer esse parceiro.

Então é isso, chegamos finalmente ao topo do Aconcágua! Agora temos condições de ver a amplitude do caminho percorrido. Olhamos para trás com satisfação e para frente com tranqüilidade. Sabemos o quanto é importante celebrar cada momento da vida. Chegou a hora da festa e a melhor coisa a fazer é pegar aquela taça linda de cristal, tirar o sapatos e saborear cada bolhinha de champanhe, ouvindo uma música suave e olhando para o céu estrelado de primavera. Enfim, aaborear a vida!

(Nada disso sem antes tomar o velho e bom Engov, porque a ressaca é coisa para quem ainda não sabe as “manhas” da vida!)

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

O porquê do “Adoro melancia”

Bom, começo minha terapia "bloguiana" explicando o porquê da escolha do nome "Adoro melancia" para o meu blog. Estou relutando há mais de um ano em ter meu espaço sideral no mundo virtual. Meu marido já listou todos os benefícios possíveis do poder terapêutico desta ferramenta, mas eu resistia. Até que as primeiras vitrines de Natal me alertaram para a proximidade do fim do ano. Algum neurônio neurótico avisou aos meus sentimentos, e em poucos dias eu já estava a flor da pele. Aquela melaçada de final de ano, sabe? Choro com música natalina, lembro da infância, enfim...Bom, aí tudo que acontecia era motivo de reflexão.

Até que numa manhã de segunda-feira, tomando banho (mais tarde falo sobre isso, mas adoro ter ideias e tomar decisões tomando banho!) decidi que ter um blog seria mais que uma terapia, mas uma forma de guardar fases. É, porque mesmo aos 41 anos sou uma pessoa cheia de fases. Muitas delas engraçadas, outras estranhas e algumas incompreensíveis. Pensei que se escrevesse sobre tudo que surge na minha “caixola”, talvez começasse a entendê-la melhor. Acho que mais ou menos o motivo que pelo menos sete em cada dez blogueiros resolve começar a fazer esse tal diário virtual. Pra que e para quem a gente escreve exatamente eu não sei. Hoje acredito que seja pra mim. Mas se mudar de idéia aviso aqui tá!?

Mas e o nome? Depois de desvendar a chave do self-service tecnológico de como criar o layout do blog, fiquei pensando no nome. Me vieram as coisas mais esquisitas na cabeça. Queria algo que me identificasse, que fosse uma tradução literal da minha pessoa. O mais perto disso que cheguei foi minha paixão por melancia, desde pecurrucha. Então para quem esperava grandes explicaçãoes, sinto muito. É só pra ir acostumando. A coisa aqui é assim mesmo. Nada é tudo e tudo é nada. Assim como quando mordemos uma melancia!

Bem vindos!