quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Experiências químicas

Quem me conhece sabe que volta e meia acontece algum fato inusitado no meu cotidiano. É assim desde a infância. A lembrança mais remota que tenho foi ao quatro anos, quando a mãe me mando buscar um costureiro no closet dela e me deparei com uma ovelha gritando “Méééééé´” para o espelho. Imaginem o tamanho da ovelha duplicada pelo armário, cheio de espelhos. Contabilizem aí o trauma da criança. Até porque quando voltei chorando minha mãe achou que era fiasco, me sapecou algumas palmadas e mandou que eu voltasse lá, porque não tinha como um “bicho grande” estar no espelho. A história virou tradição na família e me rendeu anos de medos noturnos.

Acho que essa é a lembrança mais remota de causos desse tipo. Depois disso tiveram dores de barrigas em lugares que não tinha sinal de banheiro, brigas de trânsito hilárias e até a venda de um Fusca que acabou apreendido. Mas é assunto para mais adiante.

A mais recente aconteceu em um sábado de novembro, não lembro exatamente qual. O Nauro estava em Porto Alegre para o encontro dos jornalistas da Central do Interior e eu aqui, com o sábado inteirinho pra mim. Adoro sábados, é meu dia da semana preferido, ainda mais se não tenho nenhuma obrigação agendada. Então acordei, fui à feira comprar a geléia de morango da Mari (que será hospede do mezanino em breve!). Passei na farmácia e voltei pra casa com alguns DVDs debaixo do braço. Programinha perfeito para um sábado cinza, com cara de inverno. Aqui ao lado de casa, na Charqueada Boa Vista, uma movimentação intensa desde cedo, de alguma festa empresarial.

Então almoçamos e a Sofia foi logo assistir seus filminhos, bem faceira. Eu aproveitei para colocar a vida em dia. Fiz as unhas com toda calma do mundo, ouvindo meu CD preferido da Legião Urbana. Depois decidi dar um jeito naquele tom amarelado que meu cabelo tinha adquirido após algumas mechas mal sucedidas.

*Em tempo: Eu insisto em fazer experiências químicas desde a adolescência. Algumas amigas devem lembrar da receita de chá de camomila, leite e água oxigenada, que deixava o cabelo com um fedor horroroso e que nos melecava até a raiz do cabelo, literalmente. Pois então, mais de duas décadas depois eu ainda insisto em fazer esse tipo de porcaria. Se for nos meus arquivos do banco de dados, o percentual de eventos dessa natureza bem sucedidos ainda deve ser o de 0,37% alcançado em 1988. Foi quando consegui fazer uns reflexos dourados com um mistura de iogurte, limão e pingos de H2O2, que hoje seria proibido pela ANVISA.

Mas voltando a tarde de sábado até então perfeita. Depois de pés e mãos feitos, decidi colocar um tonalizante para unificar o tom tricolor da cabeleira. Estava me achando com aquelas caras de dançarinas de funk, sabe?! Pensei até que daria para escolher um nome de fruta, mas dadas as delineações corporais, o máximo que conseguiria seria uma “Gabi-bananinha”. Pelo comprimento da pessoa, óbvio!!!

Então avisei a Sofia que iria estar no banheiro com a porta fechada e fui ao trabalho. Umedeci o cabelo e lambuzei a cabeça daquela mistura gosmenta. Coloquei uma touquinha plástica e nunca foi tão fácil aplicar o tal Casting. Olhei no relógio para marcar os 20 minutos e fui assistir o Caldeirão do Huck. Estava frio e resolvi até pegar um edredon para ficar mais aconchegante. Me distraí, e quando vi já era tempo de correr para o banho. Avisei novamente a Sofia e me fui para o chuveiro. Caíram três pingos de água e o danado do chuveiro quase desligou. Daí me dei conta que estávamos com a conta da água em atraso e que possivelmente tivessem vindo cortá-la na sexta-feira.

- Não, isso não pode ser! ; pensei.

Chamei novamente a Sofia, coloquei um maiô e disse para ela carregar duas toalhas porque eu teria que tomar banho no cano da rua urgente, e ela seria minha assistente. Saí na porta e um golpe de vento já me deu o recado de que não seria nada fácil a missão. Ela, coisa mais mimosa, sentadinha na escada, me metralhando de perguntas sobre a inusitada situação. A mamãe de maiô, com a cabeça toda marrom, tomando banho na rua. Como assim? Daí eu disse para ela ir se acostumando, que quando crescesse iria encarar muitas frias como aquela. Ah, tem que preparar!

Foi aí, ao ligar o cano, já na segunda tentativa, que me deu o tamanho do desespero. Dessa vez caíram dez humildes gotinhas de água. O suficiente para tinta nojenta escorrer nos olhos e atingir as minhas lentes de contato. Os olhos começaram a arder sem parar. Comecei uma gritaria histérica e corri para uma poça de água no chão, já que não tinha mais alternativa de qualquer líquido potável ao entrono. Agachei que nem a Schimia (nossa “cã” oficial!) e comecei a tentar livrar os olhos daquela ardência terrível, em uma cena no mínimo hilária. Depois de alguns minutos de pavor, consegui enxergar a Sofia e pensei, estou salva. O que fazer então, já que não tinha qualquer resquício de água na volta.

Foi aí que levantei o pescoço e me deparei com o Arroio Pelotas, esbanjando suas águas turvas e históricas para todas as margens.

- Ah não, mas com esse frio é demais!!!; pensei.

O tempo passando, a tinta coçando e me fui de maiô e tolha para beira do arroio. A correnteza não convidava para um mergulho e depois de reavaliar a necessidade real, visualizei um balde velho em cima do barco do Nauro. Não tive dúvidas, subi no barco, enchi o balde e atirei aquela água barrenta por cima da tinta melequenta. Que cena linda! Imaginem se o pessoal da festa ao lado resolve espiar pela cerca o motivo da gritaria. Imaginem o mico.

Depois de repetir a dose mais três vezes, já com o corpo gelado, voltei para o aconchego do lar. Ufa, são e salva.

Com aquele cheiro de tonalizante exalando pelos poros resolvi me olhar no espelho.

- Socoooooooooooooooorro!!!!!, gritei.

Não sei se foi a demora na retirada da tinta ou a água barrenta do arroio, mas meu cabelo ficou cor de “capincho”, como bem definiu o Nauro. Depois de alguns dias como se fosse um periquito belga, e já com o fornecimento de água regularizado, comprei uma tinta castanho claro e voltei as minhas origens. Dessa vez pra garantir, fiz a experiência química na casa da mãe. Supervisionado por ela, é claro!

Nota da redação: a cor de cima está saindo a cada nova lavagem e o periquito belga dá sinais de vida. Ninguém merece!

2 comentários:

A Familia Aumentou disse...

hahahaha
esse blog tá um máximo do riso ou choro!
ontem qse morri de tanto chorar ao ler o "incondicional", palavras lindas que descrevem esse sentimento tão gostoso de se ter; e hj qse morri tb, mas de tanto rir ao ler "experiencias quimicas",é tudo, tudinho verdade mesmo?? heheh
beijocas pra vcs e ate domingo gauchos e gauchas...

Anônimo disse...

Amei cada palavrinha que li no "Adoro Melancia". Nossa, guria, lindos teus textos! A blogosfera agradece, Gabi! Beeejão