segunda-feira, 27 de junho de 2011

Por enquanto...

Mudaram as estações, nada mudou
Mas eu sei que alguma coisa aconteceu
Tá tudo assim tão diferente

Se lembra quando a gente, chegou um dia a acreditar
Que tudo era pra sempre,
Sem saber, que o pra sempre, sempre acaba

Mas nada vai conseguir mudar o que ficou,
Quando penso em alguém só penso em você
E aí, então, estamos bem

Mesmo com tantos motivos
Pra deixar tudo como está
Nem desistir, nem tentar, agora tanto faz
Estamos indo de volta pra casa


*Meu pai querido partiu para ver outras paisagens na madrugada de quarta-feira(22). Por um tempo ainda vamos ter que nos acostumar com a caminhada sem aquele jeito singular de rir da vida. Mas são tantas coisas boas que guardo na memória e no coração, que vão servir de combustível para vivermos cada dia com intensidade!

Volto em breve, quando as palavras começarem a sair de novo...

terça-feira, 21 de junho de 2011

Bruxinha boa

Foto: Nauro Júnior

Um blog-divã é um lugar para todos os sentimentos que habitam o nosso coração. Aqui divido as delícias e dores do meu cotidiano. Mas desde domingo, uma dor em especial não conseguia se transformar em palavras: a perda.

Depois de um sábado inundado pela alegria da Sofia com o seu aniversário, o domingo nasceu triste. Acordei com a notícia de que a nossa querida amiga Neca tinha partido às 8h10 daquela manhã chuvosa.

Contei aqui, em vários textos, a minha admiração por essa pessoa tão especial (“Tão rara” - fevereiro de 2010, “Um lar” - julho de 2010 e “Fênix” – março de 2011.)

O último deles contava da visita que fizemos para ela em março, no Hospital Moinhos de Ventos, a Kiki e eu. Passamos um dia alegre juntas e deixei com ela a medalinha que acompanhou a Sofia durante a sua luta.

Ela segurou firme e pregou na camisola, bem grudada contra o peito. Era a imagem de Nossa Senhora, que foi nosso amuleto durante a doença da Sofia. Ficou lá, cuidando dela.

Até que chegou a hora. Depois de 14 anos de brava luta ela se foi. Difícil saber o que dizer para nós mesmos nessa hora em que nos deparamos com a finitude da vida.

Sentimos uma saudade estranha. Tão ampla e profunda que não cabe na gente. Passei aquela tarde sentada naquela sala estranha do cemitério pensando em tudo que nos rodeava.

Como é estranho imaginarmos que um dia seremos nós. É uma coisa inusitada demais, não cabe na lógica. E choramos por tudo. Pela amiga que se foi. Pelos medo de perder nossos amores. Pela fugacidade dos nossos momentos aqui. Tão bons!

E para amenizar tantas incertezas, a gente sabe que deve pensar que não é um fim. Eu sei que ela foi para um lugar de paz, onde as dores do câncer não serão mais companheiras.

Mas a ausência para sempre é por demais estranha.

Por isso hoje eu não tenho muito o que dizer. Vou guardar na memória aqueles olhos azuis brilhantes, tão cheios de vida. E no coração as tantas lições de amor à vida que ela nos deu.

E para quem não conheceu essa pessoa rara, achei nos meus arquivos uma foto que traduz exatamente quem foi a Neca.

Era o aniversário da Luisa, minha sobrinha, em 2009. Uma festa à fantasia, e todos os amiguinhos foram à carater. No meio da tarde, eis que chega a Neca. Cheia de energia, vestida de de bruxa.

Uma bruxinha boa, que esteve aqui por um tempo. Nos ensinou muitas coisas, inclusive que o tempo não para. Contaminou todos que cruzaram o seu caminho com a força indelével da vida.

Por isso meus amigos, usufruir cada momento é para hoje. E para homenageá-la, o minímo que podemos fazer aqui é viver intensamente nossas histórias. Com alegria, é claro!

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Ciclo


A vida é feita de ciclos. Neste sábado um deles se completa. O começo foi em um dia frio de junho.

Era o dia 18 de junho de 2005. Aquele sábado amanheceu com um ar estranho. Alguma coisa no ar.

Não sei exatamente como descrever. Mas os dias que marcam nossas vidas pra sempre, costumam ter essa bruma indelével e inexplicável.

Naquela tarde fria e cinza o Nauro e eu entramos de mãos dadas no HU São Francisco de Paula. A única coisa que fizemos antes foi passar na igreja. Pedimos a Deus que tudo desse certo

Eu estava com 32 semanas de gestação e num piscar de olhos não senti mais a Sofia se mexer. Sem aviso prévio, ela veio ao mundo às 18h54, em uma cesárea de emergência.

Ali foi o marco divisório da minha vida.

Do hospital só saímos definitivamente no dia 17 de setembro. Naqueles meses, muitos sentimentos se misturaram entre os prognósticos médicos. Amor, medo, ansiedade, fé, amizade, esperança. tudo muito intenso. Um reboliço de emoções.

Entre as paredes azuis daquele hospital, tive o maior aprendizado da minha vida. Ali entendi o quanto a vida é rara. E o quanto somos abençoados a cada nova oportunidade.

Também entendi o significado dos anjos. Aprendi que os milagres existem e começam dentro de nós. Eles brotam do amor incondicional. Do invisível, que muitas vezes nos ronda e não enxergamos.

E hoje tudo voltou na minha mente. Na hora do almoço, a Sofia me olhou e disse:

- Mamãe, eu vou ter saudades dos meus cinco anos!

O tempo congelou por alguns segundos na minha cabeça. Eu segurei a mãozinha dela e disse que também iria.

Que sentia saudades de cada ano que passei com ela. De cada momento nosso nessa deliciosa aventura. E que sabia, que depois dos cinco anos, um novo mundo começava a desabrochar.

Não me contive, obviamente. Chorei que nem sempre choro: abundantemente.

E amanhã, quando acordarmos, no sábado do dia 18 de junho de 2011, um ciclo vai se fechar e outro começar.

O Nauro dessa vez estará em uma expedição, navegando pelo Oceano Atlântico, a bordo de um navio. A vida voltou ao seu rumo. Mas mesmo além mar, estaremos pertinho os três. Como sempre estivemos.

E quando aquela carinha iluminada abrir os olhos, eu quero dar um abraço bem apertado, e dizer que eu sou muito feliz de ser a sua mãe. Sua guardiã!

Vou agradecer mais uma vez, a todos os anjos que passaram na nossa vida até aqui. Tiveram inúmeras caras e nomes. Diferentes profissões e intenções. Mas todos souberam entender em algum momento, o quanto somos agradecidos à Deus e a vida por termos a Sofia.

Nesse sábado, 18 de junho, o céu vai estar cinza de novo. O inverno frio mais uma vez. Mas as páginas dessa história, tenho certeza, cada vez mais cheias de vida. Coloridas como a alma da aniversariante do dia!

Obrigado Papai do Céu, por esse presente dos céus!

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Mundo das letras


Ontem participei da reunião de avaliação do primeiro trimestre na escola da Sofia. No ano passado a pauta desses encontros era outra.

Ouvíamos sobre as novidades dos nossos pequenos ao circular pelo meio escolar. Falávamos dos avanços cotidianos com os primeiros passos no mundo dos relacionamentos sociais.

Naquela época eu me emocionava muito ao perceber que nossa borboleta criava asas. Com seu jeitinho singular começava a voar além dos limites da nossa palafita na beira do Arroio Pelotas. Escrevi aqui no blog sobre o emaranhado de sensações que rondavam meu coração de mãe (Cordão umbilical).

Foi um tempo de êxtase para ela e de alguma dor maternal para mim. Uma mescla de medos e expectativa. Rompíamos ali um outro cordão umbilical. Ela estava pisando no mundo de todos, não mais no seu universo particular.

Com o passar dos meses e a conduta afetiva das professoras Michele e Ju, tudo foi se acomodando no meu coração. Foi um ano de muitas coisas legais.

A Sofia deu um salto de maturidade impressionante. Mas como diria Chê Guevara, sem perder a ternura jamais!

O ano de 2011 chegou com a expectativa da nova professora e de como seria esse momento de encontro com as letras. Hoje em dia o “pré” já prepara nossos filhos para a primeira série de forma absolutamente intensa.

Nem pense em comparar as nossas cartilhas de "a-e-i-o-u" com a pedagogia dos tempos de hoje. Eles aprendem como mágica. Essas cabecinhas estimuladas pela tecnologia da informação estão bem além das fronteiras do nosso pensamento.

Até aí, a teoria é sabida por uma mãe jornalista. Alguém que se julga esclarecida e que está sempre ligada nos novos acontecimentos do mundo.

Ledo engano!

Na semana passada fui comprar um novo aparelho de 3G e enquanto eu fazia os trâmites com a vendedora a Sofia aguardava impaciente na cadeira.

Olhava curiosa para a loja do outro lado da rua e balbuciava alguma coisa. E num piscar de olhos, me olhou e disse:

- Mamãe, olha o que está escrito lá: L-OOOOOOO-C-AAAAAA-D-OOOOOO-R-AAAAAA!

- Como assim Sofia? Quem te disse isso?????!

- Eu li mamãe...

Ela leu? Fiquei pasma. Paralisada.

Simplesmente aquela história de fazer desenhos coloridos e aprender a dar laço no cordão do tênis não era mais tudo que continha no universo da pré-escola.

E foi aí que começou a cair a ficha.

Essa história começou a fazer sentido ontem, enquanto a professora Karine explicava ao grupo de pais da turminha do “Avançado A" todo processo de alafabetização que estavam vivenciando.

A minha primeira constatação foi de que eles estão muito além do meu imaginário materno. Já enxergam o mundo através da escrita. Totalmente!

E vocês sabem o que isso significa?

Tudo, simplesmente tudo e muito mais. Em um mundo que voa com a velocidade da luz, ler é entrar em uma nave com destino ao universo.

É o passo mais definitivo de nossos pequenos para além das nossas fronteiras domésticas. O roteiro inclui as imensuráveis possibilidades que um conjunto de letras possibilita.

E foi essa constatação, em meio as explicações da "Profi Karine", que romperam no meu coração uma barragem de lágrimas descontroladas. Em suma, foi pagando o maior mico durante a reunião de pais, que constatei que minha borboleta agora voava alto.

Em meio a emoção e o medo, puxei meu lencinho de papel da bolsa e cortei mais um cordão umbilical que teimosamente eu insistia em segurar.

Nessa montanha-russa maternal, foi muito bom contar com uma professora tão especial como a Karine. Que permeia essa tarefa magnífica com amor, carinho e firmeza, em cada uma das etapas.

O conhecimento rompe todas as fronteiras do universo. Mas é preciso doçura para abrir essas comportas. Esse é o profundo significado de ser um professor.

Até então a Sofia lia através de imagens e construía seu universo de sonhos e imaginação. Agora enxerga infinitas formas de construir seus sonhos, desejos e de seguir sua estrada.

E foi por isso que chorei ontem na reunião.

Olhei para minha princesa, no alto de seus cinco anos de idade, e entendi ali o poema de Kalil Gibran.

Realmente nossos filhos vêm através de nós, mas não são nossos. Podemos outorgar o nosso amor, mas não nossos pensamentos. Compreendi o meu papel de arco, que lança a flecha para a vida.

Meu desejo de mãe é que muitas palavras transformadoras escrevam uma bela história na estrada da Sofia. E que a sabedoria que ela leva no nome, construa pontes infinitas de sonhos e magia.

E com os acordes de uma estrofe de Toquinho, eu me despeço. Sem lágrimas, mas com sorrisos!

E o futuro é uma astronave
Que tentamos pilotar
Não tem tempo, nem piedade
Nem tem hora de chegar
Sem pedir licença
Muda a nossa vida
E depois convida
A rir ou chorar