segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Presente



Na sexta-feira estou de aniversário. Aliás, eu a Julia Roberts, a Paulinha Blass e a Maria Amália, do Tholl. Deu pra ver que é data pra nascer mulher fumeta, né?!

Brincadeiras a parte, quero dividir aqui um sentimento bom que tenho. O de gratidão por todos os presentes que a vida me deu nessas décadas.

Passar dos 40 com pai e mãe cheios de saúde é um presente e tanto. Quem já os perdeu sabe do que estou falando. E para completar, são dois grandes amigos, com quem sempre pude contar e com quem divido meu cotidiano. Nossas dificuldades só serviram para que nos aproximássemos cada vez mais.

Minhas duas avós, com quem convivi por longo tempo e de forma intensa, foram outros dois grandes presentes. A minha Chochó, com quem vivi sob o mesmo teto por anos, e com quem aprendi que os bons momentos merecem ser celebrados sempre. E a minha Voinha, que com sua simplicidade mostrou o quanto podemos ser fortes e implacáveis, sempre. Basta ter a preciosa fé!

Minha irmã, Kiki é também um regalo do destino. Nossas personalidades são distintas e complementares. E nossa amizade é daquelas que dispensa palavras. Nos sentimos, e isso nos basta.

Também tive a sorte de nunca perder um amigo próximo, nem alguém que rompesse a ordem natural das perdas. Como já disse aqui, tenho amigos de todos os pelos e cada um com seu jeito e encanto. Pessoas que guardam capítulos importantes da minha história e com quem eu sei que sempre posso contar. Independente do tempo ou da geografia.

A vida me deu mais que presentes. Deu tesouros. Responsáveis pela coisa mais rara que tenho hoje: a minha família. Meu marido, que chegou como nas navegadas que ele tanto gosta. Veio de forma inesperada, mas a certeza que tenho, é que já nos esperávamos há muito tempo.

Com esse amor tão absoluto, veio a razão do meu viver. Tenho certeza de que cheguei até aqui para ser a mãe da Sofia. Para aprender com ela. Para agradecer a vida através dela. Esse presente de valor imensurável, me fez ser uma pessoa melhor. Cada pequena lição que aprendo com ela, me faz entender melhor a grandeza de tantas coisas que até então eram incompreensíveis.

E com tantos presentes nesses anos de vida, eu quero dizer para o Papai do Céu, que a única coisa que eu quero de presente nesse dia 29 de outubro de 2010, é um dia ensolarado.

Se não for pedir demais, quando anoitecer eu gostaria de um céu estrelado. E nessa hora eu vou dar a mão para os meus dois amores, e vou agradecer por todos os presentes que a vida me deu nesses anos.

Obrigado por cada segundo dessa vida tão boa Papai do Céu!

sábado, 16 de outubro de 2010

Carta ao novo(a) presidente


Escrevo como quem larga palavras ao vento, eu sei. Mas mesmo assim Sr(a). novo(a) presidente, não vou me furtar de enviar-lhe essas palavras tão sinceras.

Sempre gostei da política. Talvez porque tenha vindo ao mundo no polêmico ano de 1968. Sai do conforto do ventre materno, para um mundo que convulsionava em meio a históricos acontecimentos que sacudiam certezas.

"...no tempo em que os sonhos começavam a se realizar e até as utopias deixavam de ser utopias..." como disse Zuenir Ventura.

Era um ano enigmático, marcado pelo assassinato do maior líder negro da história, ao mesmo tempo em que a Guerra do Vietnã decepava a paz. Talvez apenas por isso, eu ainda carregue comigo um gosto estranho pela política.

Sempre imagino a cena de minha mãe amamentando, e ao mesmo tempo ouvindo no radinho de pilha as últimas notícias das manifestações estudantis que revolucionavam o centro do país. Estudantes na rua que assustavam as mentes autoritárias.

E assim o tempo foi passando.

Enquanto o minuano soprava aqui nas bandas do sul, vi pela televisão a contagiante mobilização pelas Diretas Já. Meu corpo tomava novas formas e a tal da adolescência chegava. Logo depois desabrochei para a juventude e pisei deveras no mundo democrático, votando pela primeira vez.

Lembro com orgulho daquele dia 15 de novembro de 1989.

Depois disso, nunca mais deixei de expressar meus ideais políticos. Mesmo que muitas vezes tenha me custado calorosas discussões familiares. Meu pé no mundo profissional também foi em um ambiente permeado de sonhos. O primeiro emprego como jornalista foi na assessoria de imprensa política da Prefeitura Municipal de Pelotas/RS.

Respirei o jornalísmo político por cerca de cinco anos, até que minha filha Sofia nasceu, e com sua sabedoria - implícita até no nome - mudou o rumo das coisas.

Mesmo desconectada do cotidiano desta roda-viva, sempre mantive um dos olhos abertos. E assim muita água rolou por debaixo da ponte, trazendo à tona uma política míope e distorcida.

Mas confesso que mesmo com tantos dissabores, como os recentes escândalos do Planalto, ainda guardo dentro do peito um fio de emoção. Um sentimento que ganha força quando ouço um discurso mais carregado de certezas. Aquele conjunto de palavras, ditas com tal contundência, que nos fazem acreditar nas mudanças.

Mas ando deveras descrente nos últimos tempos. E por isso Sr(a). novo(a) presidente, escrevo esta singela carta como forma de fazer as pazes com a política.

Sou uma brasileira que, assim como a maioria, canta o hino nacional quase que por inteiro. Volta e meia acabo tropeçando. Por mais lindo que seja, às vezes troco alguma estrofe. Estou confessando uma coisa muito íntima, com a esperança de que a sinceridade seja uma recíproca entre nós.

Mas não fique preocupado(a), em contrapartida, pago os meus impostos em dia. E olha que não são poucos. Tenho uma pequena agência de comunicação, e lhe digo que não é barbada fazer o cheque no início do mês para pagar os tais "tributos". Sempre me deparo com um número com mais de três dígitos. Mas faço sem reclamar, e por isso me sinto mais a vontade em lhe dizer algumas palavras.

Quero deixar bem claro entre nós, que deposito no meu voto a esperança de que se varra de Brasília esse latente espírito de impunidade. Assim como nossos pais nos colocaram limites na infância, é a hora de alguém puxar as orelhas dos que não aprenderam até agora a ser “bem educados”.

Também vai nele, minha certeza de que a economia tem que ser cada vez mais forte, e que nosso salário tem que ter valor de verdade. Meu voto é também lembrando que os que têm fome, também têm pressa, e que a saúde precisa cuidar de seus doentes.

Meu voto sempre será a minha voz. Minha certeza de que mesmo com tantas coisas erradas nos últimos tempos, a democracia sempre será o melhor dos ganhos. E por isso Sr(a) novo(a) presidente antecipei minhas férias, agendadas com tanto carinho. Tudo isso para voltar a tempo de votar no dia 31 de outubro.

Não quero e não posso me isentar de usufruir desse direito conquistado com tanto sangue e suor. Acho que isso deve estar no sangue dos que nasceram no “ano que não terminou”. Porque como disse Martin Luther King, o que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons!

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O tempo


Há um tempo escrevi aqui sobre a doação de medula. Demorei 40 anos para me tornar uma doadora. Na maioria das vezes, tempo demais para quem espera por um transplante e uma chance de permanência nas bandas daqui.

Hoje li no ClicRBS Pelotas que depois de dez meses de luta contra uma leucemia fulminante, a bailarina pelotense, Janaína Jorge, morreu na manhã de ontem(13).

“...Exemplo de esperança e determinação na busca de um doador de medula óssea, a artista conseguiu encontrar uma pessoa compatível no fim de agosto, mas seu estado de saúde não permitiu esperar até o final dos exames necessários à cirurgia. Janaína estava internada no Hospital de Clínicas de Porto Alegre e seu corpo deve chegar a Pelotas ainda nesta quarta-feira. O sepultamento está marcado para quinta, às 10h, no Cemitério Ecumênico São Francisco de Paula, no bairro Fragata...”

Eu não conheci a Janaína pessoalmente. O que tenho gravado na memória é sua voz, em uma entrevista de rádio que ouvi, enquanto dirigia meu carro. Ela tinha descoberto a doença e estava ali, de peito aberto, estimulando as pessoas a doarem medula. Um ato simples, que salva vidas.

O resultado desse impacto em mim, pode ser lido no post que escrevi na época:

http://adoromelancia.blogspot.com/2010/06/medula.html


Hoje, ao ler a notícia de que a Janaína tinha conseguido o doador mas não deu tempo....fiquei anestesiada.

Esse tempo que perdemos na fila do banco, no trânsito, ou pensando em problemas que não vão nos levar a lugar algum. Me dei conta de que o tempo que faltou para ela, nos sobra cotidianamente. E não damos o devido valor à sua preciosidade.

Grande parte das pessoas também acham que não têm tempo para doar cinco milímetros de sangue no Hemocentro. A vida é atribulada, o trabalho não pode esperar, acaba sempre ficando para outro dia...

Muitos nem cogitam esta hipótese, simplesmente imaginam que esse assunto não lhes diz respeito, afinal de contas, a doença nunca vai bater à sua porta.

Desculpas pueris!

A bailarina já não tem mais sua voz nas rádios, contagiando pelas ondas da esperança o seu amor pela vida. Mas que fique a lição. E que o seu pedido seja levado por cada um que ler este texto, a um amigo ou familiar.

Que possamos multiplicar a sua voz em mais e mais doadores de medula. E que possamos correr tão rápido quanto o tempo, aumentando o exército de doadores. Transformando o final de outras histórias. Vencendo o tempo e a “falta de tempo” de muitos à nossa volta.

Enquanto isso, tenho a certeza de que a bailarina irá dançar com os anjos. Ela estará comemorando lá no céu os passos que nos ensinou nessa dança da vida!

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Tantas emoções


Saí de casa hoje a tarde pensando que seria uma sexta-feira comum. Mas aquele céu acinzentado me preparava bem mais do que um chuvisco ralo, varrido pelo vento sul. O universo conspirava a meu favor, e eu nem imagina o que estava por vir.

Depois de uma semana de muito trabalho, tirei o dia para pagar contas, arrumar o celular, almoçar com a Sofia e a Tatá no centro, e dar conta de uma lista interminável de pendências.

Tínhamos acabado de almoçar e eu estava descendo as escadas da Feira da Fruta, quando o meu telefone tocou. Era o meu compadre, Eduardo Mendes, que além de “dindo” da Sofia é nosso irmão de coração.

Ele queria saber o que estávamos fazendo, perguntou pela afilhada. Como ele recém mudou para um apartamento novo, está feliz da vida com a namorada, achei que era só uma crise de saudade dos pampas. Ele vive em São Paulo há alguns anos, onde trabalha como repórter cinematográfico da Rede Globo.

Daí ele me diz assim:

- Gabi, preciso que tu me quebres um galho. Vou te botar numa saia justa, fala com essa pessoa que está aqui ao meu lado e vais entender.

Eu já me apavorei. Imaginei qualquer coisa, até um seqüestro relâmpago. Daí aquela voz do outro lado me diz:

- Oi Gabriela, tudo bem? Aqui é o Caco Barcellos!

Eu, em pleno Galeria Malcon, saltei e disse:

- Ahhhhh tá Mendes, essa é boa. Conta outra. Então aqui é a Patrícia Poeta!!!

A voz bonita disse de lá:

- Não Gabriela, sou eu mesmo, o Caco. O Eduardo me disse que tu gostas do meu trabalho e eu estou ligando para agradecer.

Cabruuuuuuummmmm!!!!

Quase despenquei no meio da galeria. Meu coração foi a uns 300 batimentos por minuto. Me deu um vermelhão na cara e pensei rapidamente: é ele mesmo, e agora???!!! Bom, vou aproveitar pra dizer tudo que acho dele.

- Eu não posso acreditar menino!!! Bom Caco, mas já que é tu mesmo, eu vou aproveitar para te dizer um monte de coisas. Que eu sou jornalista por tua causa, que eu admiro não só o teu trabalho, mas o ser humano maravilhoso que tu és. Que me espelho na forma que tu levas o jornalismo, em toda sua essência. E acima de tudo, porque tu consegues mudar esse mundo, de verdade...

E assim me desdobrei dizendo tudo que eu sempre achei desse que é o meu maior ídolo. Tanto é, que meu pai me apelidou de “Cacaca” em casa, por causa dele.

Contei que tenho todos os seus livros, e que um em especial, guardo na minha mesa de cabeceira, com carinho. É o Rota 66, o primeiro livro dele que li, e onde tenho um carinhoso autógrafo. Foi em 1997, quando eu estava no primeiro ano de faculdade, e ele veio dar uma palestra na nossa universidade. Eu lembro que fiquei fascinada pela sua fala e tão impactada que não me animei a perguntar nada.

No final do evento, fui até ele, e pedi timidamente que assinasse o meu livro. Lembro que chovia muito e ele estava apurado para pegar o último ônibus para Porto Alegre, às 23h30. Mesmo assim olhou nos meus olhos com ternura e me carimbou as palavras escritas acima, que sempre serviram de norte para minha vida profissional.

Esse é o Caco Barcellos, que tanto admiro, e que hoje é parceiro de Profissão Repórter do meu compadre.

E hoje, ainda inebriada com aquela surpresa maravilhosa, me dei conta do quanto este ano tem sido surreal pra mim. Depois do beijo do Galeano, um telefonema do Caco Barcellos. Difícil avaliar, mas acho que no ranking das emoções, o Caco está acima do beijo do Galeano.

Na verdade, não sei mais nada. Como diria o Rei Roberto Carlos, “são tantas emoções”!!!