domingo, 21 de fevereiro de 2010

Cordão umbilical

Discordo dessa visão histórica de que as mulheres precisam lutar pela igualdade. Pelo simples motivo de que homens e mulheres jamais serão iguais, em todos aspectos. Cada gênero tem suas particularidades, exatamente como o azeite e o vinagre. Juntos dão o tempero exato para a salada. Mas uma coisa faz de nós mulheres verdadeiras privilegiadas: a maternidade. A barriga crescendo, o corpo mudando, um ser dentro da gente, se formando. Por mais cotidiano que seja se falar em gravidez, quando acontece com a gente não há como não se emocionar. É um milagre, a ciência que me perdoe.

O cordão umbilical é um laço que a vida jamais consegue cortar. As mães que perderam seus filhos sabem o quanto. As que diariamente acordam, alimentam, vestem e mimam seus rebentos também. Nesse kit singular de que fomos abençoadas, ainda tem a amamentação e a intuição, aquele sentimento que não sabemos explicar e que o mundo batizou de “instinto materno”. Escrevo tudo isso para dizer que meu coração anda apertado nos últimos dias. É uma bobagem, coisa de mãe babona, sei lá. Não é por nada ruim, a Sofia está ótima, há meses sem nenhuma intercorrência, feliz e saudável. Mas na semana que vem finalmente vai para o colégio. Depois de quatro anos debaixo das nossas asas, vai dar seu primeiro passo no mundo coletivo. Vai pisar no universo regido por diferentes modos, gostos e filosofias de vida. Provar refrigerante, comer chiclete, ouvir gente que fala palavrão. Mas sei também que vai descobrir o convívio dos amigos, aprender o mundo das letras e construir o seu mundinho de sonhos. Nesses quatro anos de vida, procuramos mostrar a ela o quanto essa vida vale a pena.

Daqui para frente sei que será um piscar de olhos até a faculdade. Meu peito se enche de angústia e felicidade, se é possível que estes sentimentos antagônicos possam ser companheiros. Me arrepia ter a certeza de que a partir da próxima segunda-feira o tempo vai voar. Minha “minhoca” vai vestir o uniforme do “pré” e pisar o mundo cheia de autonomia. Sei que vai ser muito feliz. Que essa luz que ilumina nosso cotidiano vai irradiar por outros pagos também.

Estou feliz e triste. Mas me vem na memória o texto de um quadro que tinha no corredor da charqueada que nasci e cresci. Era o famoso poema do Kalil Gibran, que durante minha infância li e reli milhares de vezes, sem compreender. Hoje penso na profundidade daquelas frases e me apego a elas para amenizar meus medos. Desejo com todo meu amor que o mundo trate minha amada filha com carinho e que ela siga tendo a certeza de que essa vida é maravilhosa.

P.S.: E quando menos a gente imaginar, ela vai trazer aquele cabeludo, todo tatuado, para apresentar à família. Socorro!!!!

"Seus filhos não são seus filhos.
São os filhos e filhas da vida, desejando a si mesma.
Eles vêm através de vocês, mas não de vocês. E embora estejam com vocês, não lhes pertencem.
Vocês podem lhes dar amor, mas não seus pensamentos, pois eles têm seus próprios pensamentos.
Vocês podem abrigar seus corpos, mas não suas almas, pois suas almas vivem na casa do amanhã, que vocês não podem visitar, nem mesmo em seus sonhos.
Vocês podem lutar para ser como eles, mas não procurem torná-los iguais a vocês. Pois a vida não volta para trás, nem espera pelo passado.
Vocês são o arco de onde seus filhos são lançados como flechas vivas. O arqueiro vê o alvo no caminho do infinito, e Ele curva vocês com Seu poder, para que suas flechas possam ir longe e rápido. Deixem que o seu curvar-se na mão do arqueiro seja pela alegria: Pois mesmo enquanto ama a flecha que voa, Ele também ama o arco que é firme."
KALIL GIBRAN

6 comentários:

Anônimo disse...

minha filha não poderia deixar de compartilhar este momento tão precioso, mas tão cheio de ????, angustia e como bem colocas também de alegria. Quero te dizer o seguinte: há alguns anos atrá qdo te deixei no colégio S.José e com toda tranquilidade chegas tes na porta da aulinha me olhaste e SIMPLISMENTE me deste um "tchau", com aquela carinha de que tudo esta normal, nada de mais estava acontecendo, confesso que hoje qdo falas de teus sentimentos e a nossa RAPA do TACHO dará quem sabe o mesmo "tchau mamãe", um aperto tbem passa na minha garganta, assim como foi qdo. a Lu o Pepê(em JaguarÃo)deram seus tchaus, mas podes ter certeza, hoje olho prá trás e agradeço a simplicidade com q voces enfrentaram esta despedida. Voces são as filhas q todos os pais gostariam de ter... seguiram o caminho do sábio GIBRAN KALIL GIBRAN. Como diz a própria Sofia: Mamãe eu consigo... 1 beijo, mãe

Anônimo disse...

Gabi, querida!
Adorei ler esse teu texto, tão intenso, tão tocante. Tenho plena certeza que tua princesa sempre vai ser coroada por amor e luz, onde estiver. è da essÊncia dela, né? Força na peruca (e no coração) pra vc e Nauro! Ah, qto ao tatuado, não pode se ramis verdadeiro! Rsrsrsrsrs! Beeejão gigante, do tamanho da saudades de vcs ,

kiki disse...

Ai gente só posso agradecer a essa familia linda que tenho, essa irmã com uma sensibilidade acima do normal que consegue colocar em palavras o que somos,realmente uma "FAMILIA", mãe tenho certeza que tu também é a mãe que muitos filhos gostariam de ter. E Sof a tia kiki tá torcendo por ti, Boa Aula, aqui em Jaguarão já foste na escolinha do Pepe e fiscate tão bem que até o primo se assustou e começo a chorar te lembra?
Beijos ermã e não vai inundar o colégio hehe.

cíntia disse...

gabriela, achei este texto emocionante. não conhecia teu blog, vim depois lá do blog do nauro, que acompanho.
esta emoção que sentes é de pura beleza. nós mães temos essa ligação visceral com nossos "baixos", que nem o corte do cordão na hora do parto afeta.
tenho um filho de 6 meses. fico pensando em como será a rotina dele mais adiante, se colocaremos numa escolinha, se teremos uma babá, e tudo me arrepia, numa dor na boca do estômago. por mim ele ficaria conosco até uns 4 anos [e com as avós quando precisássemos]. mas sei que eles precisam de amiguinhos, dessa sociabilização... é difícil.
teu texto me mostra que não sou a única com essas caraminholas na cabeça!
adorei teu blog, acompanharei a partir de agora.
beijo e boa sorte pra sofia em seu primeiro dia de aulinha!
conta pra nós depois como foi.

Anônimo disse...

Buááááá.......que saudade me deu daquele tempo em que a minha Rafinha também era a nossa minhoca!!!! Mas ela continua a mesma querida de sempre e muito disso se deve a tua participação nas nossas vidas. Não te assusta amiga, elas passam por todas aquelas fases das quais não podemos fugir, crescem, uma entra na faculdade, outra sai, mas continuam sendo sempre as nossas meninas queridas do coração. Se é assim comigo certamente não será diferente contigo pq a gente tem um jeito meio parecido de enxergar e de lidar com as coisas das nossas famílias né???!!! Com toda essa alma grande que tens, a vida só pode te presentear com coisas boas, e a Sofia é uma delas que vai continuar te trazendo só alegrias e vai tirar de letra essa nova etapa, tenho certeza!!!! Amo vcs gente!!!!! Beijo. Na Pituquinha tbém!!!

regina disse...

Lindo!!! Me deu um nó na garganta, pois recordei a ida de meus filhos para a escolinha, parece que foi ontem... e como passa rápido, hoje estão com 21 e 27 anos. Mas as emoções não param, pode ter certeza, o cordão que nos une é muito forte, invisível aos olhos. Temos essa sensação de perda várias vezes, a primeira aula, a primeira saída a noite, a primeira vez que pegam um carro, a primeira viagem sozinhos, as injustiças que sofrem, as viroses que pegam... ah, são muitas emoções vividas, mas que dão sentido a nossas vidas. sorte!!! BJUS