domingo, 12 de dezembro de 2010

Guga forever

Sábado à noite assisti ao desafio entre Guga e Agassi no Maracanãzinho. O jogo tinha caráter filantrópico e saudosista ao mesmo tempo. Enquanto a bola rolava viajei no tempo.

Há dez anos, no mesmo período, Guga alcançava o topo do ranking da ATP. Foi em Lisboa, quando venceu Agassi por triplo 6/4 na final, conquistando o Masters Cup de 2000. Com isso foi confirmado como novo número 1 do mundo do tênis.

Naquele tempo eu já era fã de carteirinha do “Manézinho” e já tinha impresso no currículo o meu grande feito. Foi dois anos antes, em 1998, quando eu morava em Florianópolis. Já cursava jornalismo e estava no segundo ano de faculdade.

A expectativa nacional sobre Guga era enorme. Éramos um povo carente de ídolos e órfãos de Ayrton Senna. Isso por si só já era um peso e tanto para o guri dos cabelos cacheados. Seu jeito simples, carismático e cativante reunia os ingredientes que precisávamos para encontrar no tênis uma mania nacional.

Como boa fã que se preze, eu vivia lendo tudo que saia sobre Guga na imprensa. Ele recém tinha sido derrotado nas rodadas preliminares de Roland Garros, pelo então desconhecido Marat Safin. Com a pressão para que conquistasse o bi-campeonato, Guga voltou para o Brasil carregando nos ombros o peso das frustrações de um povo.

Nesse tempo ficou recluso, evitando contatos com a imprensa. Queria simplesmente ficar no seu canto. Na sua ilha, literalmente. E eu nessa época sabia toda a vida dele. Onde morava, treinava, lugares que gostava de freqüentar, surfar e etc. Era inverno em Floripa, e numa manhã cinza resolvi pegar o carro e percorrer as pistas atrás de Guga

Imagina a pretensão!

Mas como diz o ditado, jornalista precisa de uma boa dose de sorte. Mesmo sendo uma estudante, não podia imaginar que naquele dia o meu potinho estaria cheio. Desci o morro da Praia Brava e me deparei com uma série de edifícios altos, à beira-mar. Estava tudo deserto. Ninguém pelas ruas, a não ser um grupo de crianças recém saídas do colégio.

Dobrei a primeira rua e estacionei. Minha intenção era pedir informação para algum vivente que cruzasse caminho. Queria perguntar se sabiam onde era o apartamento do Guga naquela praia.

E foi aí que ouvi aquele som mágico:

- Ploc, ploc, ploc, ploc,...

Pensei que deveria ser algum tenista, e por isso saberia informar. Dei alguns passos em direção àquele som familiar e me deparei com uma miragem. Era o Larry e o Guga, em carne e osso. Eles me olharam e eu sorri, pensando instantaneamente no que faria com aquela situação.

Dois minutos depois pararam o bate-bola e o Larry veio em minha direção. Me apresentei como “jornalista” e perguntei se poderia fazer uma rápida entrevista com eles. A palavra “Pelotas” foi a senha. Larry disse que tinha sido casado com uma pelotense e que tinha boas lembranças da terra. Pediu que eu esperasse o final do treino para começar.

Foi aí que o pânico tomou conta. Imagina só, entrevistar o Guga, naquele minuto. Pra começo de conversa eu não tinha papel nem caneta. Na mesma hora saí em busca da criançada do colégio. Praticamente assaltei os guris e consegui duas folhas de papel e uma caneta. Vencida a primeira etapa, fui direto para a quadra fazer algumas fotos.

Em pouco tempo eu estava sentada no chão de saibro, ao lado da dupla. Como era minha primeira entrevista, e o interlocutor era um ídolo, eu não sabia se anotava as respostas ou ficava admirando ele falar. Fiz as duas coisas ao mesmo tempo e depois de meia hora tinha uma entrevista exclusiva com o cara mais procurado do momento.

Voltei para casa em êxtase. Passei tudo para o computador e liguei para o Cabral, editor de esportes do DP. A entrevista virou matéria de página no dia 9 de junho de 1998, Dia do Tenista.

A odisséia se transformou em episódio do quadro “Retrato Falado”, do Fantástico. A atriz Denise Fraga fez às vezes da estudante atrapalhada, que realizou o grande sonho de entrevistar Guga Kuerten.

E neste sábado, durante o jogo no Maracanãzinho, todas essas lembranças escondidas na minha caixinha de pandora voltaram. Esse episódio vai estar pra sempre guardado. É aquele tipo de sonho bom, que o tempo não apaga.

Assim como ele. Nosso Guga forever!

3 comentários:

kika disse...

Tenho esse Retrato falado gravado em VHS até hoje, lembro bem desta história.Estava vendo ele hoje de manhã no Esporte espetacular e qdo vi estava com os olhos marejados com aquela simplicidade e sensibilidade. Beijo e Viva o nosso Guga!

Guilherme disse...

Gabi, lindo o texto!!
E, desculpa a pretensão, mas essas lembranças são um pouco minhas também, porque além de o episódio do Retrato Falado ter sido histórico aqui em casa, com direito a reunião familiar pra ver "aquela maluquinha do Fantástico interpretando a Gabi", eu ganhei uma foto do Guga treinando, Autografada por uma futura jornalista que eu já admirava desde quando era uma futura professora de educação física.
São, portanto, lembranças de dois ídolos em uma só!!
Beijos!

Fefa disse...

Essa tua história é realmente espetacular!!! Não me canso de ler, de lembrar do retrato falado do fantástico... eu estava mais no início da faculdade que tu, mas me lembro de toda função de gravação etc... Parabéns gabi!! Continua enchendo nossas vidas com estes teus textos maravilhosos! Beijãoo

*Obrigado pela parceria no show da pimenta!! \o/