quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Esplendor dos contrários


Foto: Paulo Rossi
Ontem no final do dia eu estava especialmente cansada. Ando numa semana puxada, cheia de probleminhas de trabalho, que andam deixando meu estômago enrolado.

No final do dia fui buscar a Sofia na aula de tênis, e com aquele lindo fim de tarde ela me pediu para dar um último mergulho na piscina. Aproveitei a deixa e pedi cervejinha bem gelada, no bar do clube, acompanhada de uma porção de iscas de peixe à milanesa.

Era tudo o que eu precisava para achar o epicentro da minha tempestade naquela quarta-feira.

Dei um afobado gole de cerveja. Ela parecia ter fermentado especialmente para aquele momento. As iscas de peixe estavam crocantes e, com o molhinho de pimenta, fizeram me sentir em uma propaganda da CVC.

Tudo estava de cinema, até que o meu celular tocou.

Do outro lado um marido impaciente, reclamava que estava cansado, louco para ir para casa. Como só temos um carro e moramos lá onde o Joãozinho perdeu as meias, tive que editar o roteiro desse filminho.

Tirei a Sofia da piscina sob protestos, sequei, vesti e abandonei as minhas iscas (que só em descrever já me deixam com água na boca) e fui buscá-lo no jornal.

Embarcaram no carro ele e minha enteada. Antes de pegar o rumo das casas, ele me diz:

- Vamos dar uma passadinha ali na Balsa?!

Para quem não é de Satolep, esse é o nome de um bairro na zona do Porto, onde ficam pequenos estaleiros de barcos. A intenção, revelada no decorrer do percurso, era ver se a nossa lanchinha estava pronta, depois de uns reparinhos no motor.

(Agora uma pausa para localizar os leitores no tempo.)

O Nauro tem um fascínio, que não sei explicar, por duas coisas: indiadas e parafernálias. Eu não posso dizer velharias, porque a definição viraria contra mim. Ele brinca que é por isso que se casou comigo, já que tenho míseros seis meses a mais do que ele.

Mas a verdade é que desde que casamos ele já comprou uma lista interminável de cacareco. Sempre com argumentos incríveis e convincentes. Não sei como!

E isso entre veículos de água e terra. Por sorte nunca pintou um teco-teco modelo Santos Dumont de barbada. Melhor nem dar a idéia!!!

Nesse currículo de veículos - que de preferência dêem muito trabalho e pouco uso - posso citar: uma moto Java do tempo das cavernas – acho que era do Fred Flinston, um reboque velho que foi praticamente “içado” de Novo Hamburgo até Pelotas, uma Kombi a diesel que quase virou floreira do jardim, além da Rural bipolar, que só liga quando está de bom humor. Esta, no momento, repousa na nossa garagem se querem saber!!!

E como com os barcos não poderiam ser diferentes. Voltemos então ao longo dia ontem...

Deixei-o no tal estaleiro para que trouxesse de volta, ao aconchego do nosso trapiche, a lanchinha nova. Ela é fruto de um câmbio, feito há alguns meses, por outro barco, o Inca

*Nota da redação: não é fácil compreender esse emaranhado de “aquisições”, seria necessário fazer uma verdadeira árvore genealógica das quinquilharias, para melhor compreensão dos leitores.

Cheguei em casa, fiz o jantar, comi, coloquei a camisola...e nada. Até que lá pelas cansadas ele liga:

- Oi meu amor...fiquei empenhado, a lancha parou aqui na boca do Arroio Pelotas!

Pronto, pensei, o programa ficou completo!

Mas ele só queria avisar para eu não me preocupar. Já tinha acionado o socorro do nosso vizinho Diego, que iria rebocá-lo. A estas alturas os mosquitos faziam procissão pelas redondezas.

Quando chegou, eu já estava quase dormindo. Mas não me contive quando vi a cara dele. Chegou faceiro, animado, como se estivesse vindo de uma festa.

Dei uma risada e percebi que aquilo que a meu ver seria um problemão, pra ele foi pura diversão.

Ele curte o “ficar empenhado”. O legal é exatamente isso, a busca pela solução. Catar um mecânico tarde da noite, achar um barco pra rebocar, puxar um canivete do Magaiver, engraxar a roupa limpa e, se bobear, ainda fazer uma canoa com meia dúzia de juncos pra chegar em casa.

É uma coisa incompreensível, mas é a mais pura tradução do meu marido. O legal é exatamente achar graça dessas diferenças. Esse é o verdadeiro esplendor dos contrários.

Com o convívio, percebi que a gente passa muito tempo buscando a perfeição no casamento. Perde-se muito tempo e se gasta muita energia inutilmente. Na verdade, o bom dessa comunhão, é o diferente.

Imagina se fossemos iguais? Não ia ter graça.

Além do mais teríamos que adquirir mais alguns hectares de terra para guardar a sucata que arrebataríamos por aí afora!!!

(Desculpa meu gordinho, não resisti!! Ahahahahahahha)

3 comentários:

JULIANA SPANEVELLO disse...

Gabiii!! Eu e o Joca nos divertimos muito com esse post! Ta maravilhoso... mil beijos pra vocês e um beijinho especial na Sofia! Saudades...

Goldani disse...

Muito legal este post, Gabriela. Massa!!

Eunice Garcia disse...

Gosto muito dos teus textos e acho q temos maridos parecidos. Também não consigo entender o gosto,aliás já nem tento.
www.tudoepauta.blogspot.com