sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Recomeço

Foto: Nauro Júnior

Depois de algumas semaninhas de recesso estou de volta ao blog. Acordei disposta ao retorno. Acho que o fato de ter lido logo cedo a mais recente crônica da jornalista Eliane Brum, na Revista Época, me ajudou.

Ela reproduziu, em meio a uma profunda análise sobre a vida, alguns trechos de uma entrevista de Clarice Lispector ao psicanalista Hélio Pellegrino. Em dado momento ele diz:

"Escrever e criar constituem, para mim, uma experiência radical de nascimento. A gente, no fundo, tem medo de nascer, pois nascer é saber-se vivo – e, como tal, exposto à morte".

Adoro ler coisas que pareçam traduzir na palheta os meus sentimentos. Alguns autores têm esse talento exageradamente. Comigo a Eliane Brum é um caso de “nunca te vi, sempre te entendi”. É uma simbiose incrível, de sentimentos parecidos e fases paralelas.

Obviamente que ela nem sonha da minha existência. Mas voltando a vaca fria.

Um bom recomeço exige sonhos frescos. Por isso quero eles à granel nesta nova jornada. Lindos, gordos, lustrosos e prontos para serem consumidos.

Mas nada muito exagerado e impossível. Vou deixar a mega-sena para outra encarnação. Quero me dedicar a causas palpáveis, pelo menos com o fio terra no chão. O resto do corpo pode levitar.

Me contendo com algumas tardes de happy hours quando a semana estiver tensa. Também seria bom “chutar o balde” vez que outra, para pegar um cineminha no meio da tarde.

Não sou consumista, mas talvez invista em algum supérfluo. Depois da sandália de salto alto de 2010, quem sabe uma bota de inverno para ver o frio das alturas?

Quero chorar aos quilos, mas rir às toneladas. Não quero hibernar no inverno, nem esperar a primavera para florescer. Quem sabe descobrir onde fica o termostato e ajustá-lo à beleza de cada estação.

Ah, e a gastronomia. Quero me dedicar mais aos prazeres da vida. E a comida tem ligação direta com a alma. Seja em casa, debaixo de uma paineira, ou no restaurante do Alex Atala. Não interessa o contexto. O que importa é não deixar de sentir o sabor singular das confissões que surgem na volta de uma mesa.

Quero brindar a vida. Beber estrelas. Tomar milhares de litros refrescantes da mais pura e cristalina água.

Nesses 300 e poucos dias que ainda temos em 2011, quero renascer muitas vezes. Aqui, escrevendo, e lá fora, sentindo o vento no rosto.

E depois de chorar bem alto, aprender a caminhar. Descobrir as palavras mais legais e soltá-las ao vento. Não deixar de dizer.

Em suma, quero tudo ao mesmo tempo. Dias de paz, mas cheios de intensidade.

E como disse o Hélio Pellegrino a Clarice Lispector:

“Viver bem é consumir-se, é queimar os carvões do tempo que nos constitui. Somos feitos de tempo, e isso significa: somos passagem, somos movimento sem trégua, finitude. A cota de eternidade que nos cabe está encravada no tempo. É preciso garimpá-la, com incessante coragem, para que o gosto do seu ouro possa fulgir em nosso lábio. Se assim acontece, somos alegres e bons, e a nossa vida tem sentido".

Um comentário:

cíntia disse...

ahhh que bom te ler de novo! eu estava carente disso!
um lindo recomeço.
que todas as tuas expectativas sejam alcançadas!
beijo pros 3