quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Aqui e agora

Ando com a sensação latente de que o tempo urge. De que nada pode ficar para amanhã. A terra gira, o tempo passa, o relógio não para.

Passado o marasmo emocional proporcionado pelo clima de inverno, eis que a bela adormecida acordou. E não é que o acaso me surpreendeu com essa certeza?

Hoje encontrei uma amiga que não via há tempos. Sentamos no sofá de uma loja para colocarmos o assunto em dia, enquanto a Sofia brincava. No meio do papo, uma atitude dela ficou na minha cabeça.

Ela contava que o marido havia passado por uma fase profissional difícil. Nesse período, fez vários bicos. Peripécias mil para segurar a onda, não parar a faculdade e seguir pagando as contas da casa. Honrando seus compromissos, como diria a Voinha.

No meio dessa tempestade, ela contou que um antigo amigo deles tinha dado ao marido a oportunidade de fazer um “bico” na sua empresa. Era uma coisa aparentemente simples, que dava para tirar uns trocos. Nada demais à primeira vista. A coisa ia indo meio no desânimo, até que um bela dia uma luz acendeu. Ela olhou profundamente para a tarefa aparentemente boba, e se deu conta de que mesmo sendo de fácil execução, era de extrema confiabilidade.

Percebeu que o velho amigo não tinha um cargo e nem um salário para oferecer naquele momento, mas dava algo muito mais valioso. Estendeia no tal "bico", a chance do marido saber o quanto era confiável. Com isso ela se deu conta que o amigo estendeu mais do que uma mão. Fez com que naquele momento complicado, onde auto-estima fica vulnerável, a dignidade dos dois ficasse intacta.

E foi no meio da tempestade financeira que o casal passava, que minha amiga se deu conta disso. E em plena tarde chuvosa de sábado, ela virou o polígono e enxergou as outras faces da mesma coisa. Viu um lado bom em tudo aquilo. Se deparou com a grandeza de um gesto e percebeu que os bons sentimentos são imensuráveis.

Ela podia ter apenas admirado o amigo, e deixado aquele sentimento guardado. Poderia ter guardado sua gratidão. Mas não o fez. Pegou o telefone e ligou para agradecer. Na hora.

- Eu só liguei para dizer que o que tu fizesses por nós não tem preço!

O amigo ficou meio sem entender, mas agradeceu emocionado. Ela desligou o telefone com o coração leve. Depois disso as coisas logo se ajeitaram. Em pouco tempo um bom emprego apareceu e eles venceram a fase difícil.

Hoje estão novamente estabilizados e o marido gerenciando o setor de informática de uma empresa. A tempestade passou, veio a bonança.

Mas essa história me marcou por um gesto simples. Por aquele detalhe que faz toda diferença no meio do tempo ruim. È disso que nosso cotidiano está carente. A azeitona da empada, o que dá sabor às relações.

É o olho no olho na hora do papo. A mão que aperta durante a troca de cumprimentos. O beijo entre os amigos homens, sem preconceito. O braço dado com o avô, no passo lento. Mais sorrisos e menos caras amarradas.

São os detalhes tão pequenos de nós todos. Cada vez mais escassos. Cada dia mais latentes.

E por mais lugar comum que seja: o que vale é o aqui e o agora!

Um comentário:

Janice Coelho disse...

A felicidade está nas coisas simples da vida, já diria "o outro". A pena é que passamos por uma fase tão individualista e corrida que os pequenos gestos, tão cheios de amor e caridade, chamem a atenção e sensibilizem, quando na verdade o bom seria é que fossem hábito e presentes na vida de todos. É sempre bom quando nos deparamos com um gesto assim de um amigo, ou até um texto que fale nisso como o teu, que nos dê uma "chacoalhada" e nos lembre o que realmente tem valor na vida.