domingo, 17 de julho de 2011

Saudade


Demorei muito para começar essas linhas. Não sabia como traduzir esse sentimento novo que me acompanha. Saudade eterna.

Não conseguia nem pensar nisso. Parecia que se eu escrevesse, ia ler, e se lesse, saberia que é realidade. Maluco isso, mas é exatamente assim.

O peito da gente fica anestesiado. Se não nos distraímos com o cotidiano, ele dói. Corremos o dia todo e quando paramos um pouquinho, vem aquela sensação de novo.

Decidi então me enfiar no trabalho. Fiz mil coisas durante as últimas semanas, mas o tempo não passa. Já me disseram que o luto é assim. Tem seus altos e baixos.

Mas acho que chegou a hora. Então vou tentar.

Perder meu pai num piscar de olhos foi muito forte. A vida corria seu rumo na maior normalidade. Toda família ia bem obrigado.

Até que o telefone rasgou a madrugada daquele 22 de junho. Do outro, lado minha mãe desesperada, me dizia uma frase que não fazia o menor sentido:

- Minha filha, estou aqui na Unimed, teu pai faleceu de um infarto fulminante!

Daí para frente foi como se eu entrasse em uma nave, sem saber para onde iria. Os dias que se seguiram, os abraços, as lágrimas, a saudade sem fim.

Perder nossos pais é como perder parte da gente. Somos muito deles. Temos tudo deles. Não sei como ser eu daqui pra frente. Falta uma parte de mim.

Eu sei que todo mundo fala no tempo. Eu acredito que será um bom amigo. Mas a verdade é que uma coisa muito forte aconteceu. Por mais que o tempo passe, nada será como antes.

Sei que meu pai está bem. Acredito nisso, de coração. Ele está em paz, em um lugar muito especial e uma nova jornada começa por lá.

Sei também que tive um enorme privilégio em ter caído por aqui como sua filha. Ele foi o cara mais autêntico que eu já conheci.

Tinha um coração do tamanho do mundo e um carisma que aplacava platéias de todos os estilos. Generosidade era sua marca registrada.

Ajudava gente que não acabava mais. Divertia as mais distintas rodas e era admirado desde a turma dos pés descalços até os magnatas.

E tratava todos com a mais exata igualdade.

Mas posso garantir que curti muito esse pai. Me diverti demais com esse amigo e admirei com todo o meu coração esse ser humano que convivi por 42 anos.

Fico feliz com isso. Sei que nossa relação de pai e filha foi das mais sinceras. Fomos muito completos. Cumprimos nossa missão, ambos!

Por isso tudo, procuro me distrair com a vida que segue. Mas parece que a saudade está escondida debaixo da cama. Quando me deito para dormir ela pula e me sufoca.

O mais engraçado é que um dia antes da partida, escrevi aqui no blog sobre o sentimento de perda. Nada é por acaso nessa vida, depois dessa não tenho mais dúvidas. Os sinais estão por aí, o tempo todo.

Como é que pode? Tudo o que eu escrevi naquelas linhas, fizeram mais sentido ainda. Agora tenho que esperar o tempo me ajudar a senti-las de fato.

Preciso encontrar aquela vontade de viver intensamente que falei no texto. A história segue.

Tenho que descobrir como transformar a saudade em alegria!

4 comentários:

kika schuch disse...

Gabi, o fato de poderes dizer essa frase:" Sei que nossa relação de pai e filha foi das mais sinceras. Fomos muito completos. Cumprimos nossa missão, ambos!", já te deixa numa posição privilegiadíssima em meio a tantas pessoas que perdem seus queridos sem ter a certeza da plena convivência que vcs tiveram. Isso sem dúvida vai te dar muita força para levar a vida adiante sem sentimentos de culpa (não há nada pior) e a saudade que vai te acompanhar para sempre (isso não tem como fugir), vai ser só a de bons tempos, de alegrias, de coisas boas e com essa é bem mais fácil conviver. bjo, kika

regina disse...

Um nó na garganta que não saí nunca.Fiquei emocionada ao ler, pois me transportei no tempo, faz 10 anos que passei pela mesma experiência. O tempo passa, mas a saudade não. Claro que a vida vai preenchendo nosso tempo, mas nunca apaga nossas lembranças. Não há palavras adequadas para amparar. Apenas os bons momentos podem nos fortificar. bjus

Dai disse...

Nooossa Gabi! Chorei tantooo lendo esse teu texto! Parece q transcreveste meu sentimento atual em relação a perda da minha vózinha! Impressionante! Bom, continuo aqui, chorando...Força pra nós e nossas famílias amiga!!!

Berenice disse...

Gabi
Que retrato perfeito do nosso Carlinhos!
Emocionante o seu relato!
Marcou s todos os "cariocas"que encontrou em suas poucas passagens por nossa casa!
Todos que sabem, lamentam sua perda!
Parabéns pelo blog!
Vou segui-la.
Bis
Berenice