quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Alfarrabos - parte I

Mexendo nos meus backups dos tempos da faculdade, encontrei um Cd com várias crônicas que escrevia na época. Isso lá pelos idos do final do seculo XX. Me deu uma nostalgia daquelas e resolvi reler cada um dos escritos. Divido aos poucos aqui, com meu divã-virtual!

* Este foi publicado no jornal Diário Popular de 30 de dezembro de 1998.

Querido Papai Noel

Por mais que o tempo passe, não consigo esquecer aquele tempo em que acreditava no senhor. Guardo às sete-chaves, a deliciosa sensação que eu, e mais meia dúzia de primos, sentíamos nos dias 25 de dezembro de muitos anos atrás. Era sempre depois do almoço, no apartamento da nossa Voinha. Engolíamos a comida natalina rapidamente e fingíamos não ver os sinais disfarçados de nossos tios e pais, que entre mímicas e frases enigmáticas, preparavam a tua chegada.

Ao ouvirmos o toque da campainha, corríamos sem saber para onde, procurando esconderijos estratégicos entre a porta de entrada e a árvore de Natal, onde alguns se entrincheiravam até sentir que a situação estava realmente confiável e que o senhor era de fato um “bom velhinho”. O som da sinetinha se aproximando pela escada fazia com que nossos corações atingissem um ritmo alucinado. Quando, por fim, visualizávamos o senhor com aquela roupa vermelha, todo suado, carregando no ombro o saco onde estavam materializados todos os nossos sonhos...nossa!!! Era a própria essência da felicidade! Olhávamo-nos com excitação e cumplicidade, cada um dos primos esperando ouvir seu nome ser chamado para depois correr para o abraço e merecer o honra de dar um beijo no Papai Noel.
Com o passar dos anos chega o dia em que “aquele” primo mais velho que já se acha “grande” resolve dar um pontapé no teu castelo de areia e conta que o senhor de fato não existe. Acho que é a primeira sensação de desilusão que conhecemos na vida. Depois desta, jamais olhamos o Coelhinho da Páscoa da mesma maneira. Mas, para ser sincera, acho que nunca deixamos de acreditar no senhor, mesmo que os anos transformem nossos sonhos e que nossa vida ao vivo seja bem menos excitante.
Sobrevivemos ao trivial e sempre que chega época de Natal uma luzinha acende dentro de nós e faz com que vejamos o verdadeiro significado do Natal, mesmo que seja cada vez mais a “salvação da lavoura” para maioria dos lojistas, a época de entrar de vez no cheque-especial, e a folga liberada para os nossos amigos do Congresso. Com todos esses “poréns” paralelos, mesmo assim eu sei que muita gente enxerga além do seu próprio umbigo. Pode ser naquele cartão com o mesmo desenho do ano passado que se envia para algum amigo esquecido, naquela briguinha com o vizinho perdoada com uma cervejinha na sacada ou no carinho espontâneo naquele moleque que te entrega o mesmo panfleto todos os dias, na mesma esquina. As formas são muitas, mas o sentido é um só. Por isso e por mais milhares de crianças que ainda brilham os olhinhos ao ver o senhor nas lojas, ou mesmo de longe, é que acredito que o senhor existe sim, e que neste Natal vai fazer muito marmanjo feliz.

Um comentário:

Anônimo disse...

Filha, como me lembrei desta tua carta...sem dúvida estes teus alfarrabos são a prova concreta da tua capacidade de ser esta jornalista que és. Sugiro até que mandasses este texto para ser publicado, poi o Natal tá aí e sem dúvida tem um grande significado. Que achas??? como diria Sofia.
Mãe