quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Carta ao Luís Fernando Veríssimo

Querido Veríssimo,

Pode parecer estranho essa carta, mas por mais que pareça, não é mais esquisito do que te olhar diariamente ao lado da Santa Terezinha.

Calma, eu vou explicar!

Vocês os dois me acompanham diariamente. Desde a primeira xícara de café, às 7h, quando subo para o escritório ainda de pijama e pantufas. Eu nem tenho vergonha de chegar escabelada, vocês já são de casa.

Ainda sonolenta, começo a fazer o tal clipping de notícias para aquela agência de São Paulo. São sete jornais, tenho que ler todos de cabo a rabo.

Às vezes comento contigo aquelas notícias que parecem mais anedotas de tão improváveis. Tu só me olhas com aquela cara de quem não tem nada a ver com isso. A Santa Terezinha é diferente, fica me fitando com um olhar firme, sério.

Aquelas mãos lindas, parecem até de pianista. Fica tesa, segurando o ramo de rosas e o crucifixo. O que será que ela pensa? Deve achar que esse mundo está mesmo perdido. Daí me olha com cara de quem vai mandar redobrar os cuidados nas áreas de risco.

São 7h30 e minha filha Sofia acorda. Peço para cuidares um pouco do computador e desço pra levar a mamadeira de leite com Nescau. Tem que ser “morninho”, ela sempre lembra.

Volto correndo, não posso passar das 8h30. O contrato com a tal agência é bem claro. Quanto mais apuro para terminar o clipping, mais tu me distrais.

Te olho de novo e fico pensando por que homens barrigudos gostam tanto de usar colete ? Esse teu colete azul marinho tem cara de roupa escolhida pra “afinar”, como dizia minha avó. Ela adorava vestir uma roupa que a deixasse mais delgada.

Olhando melhor, acho que foi tudo planejado com essa intenção. A camisa é listrada. Listras na vertical. Sempre me disseram que são ideais nessa estratégia da minha avó, de adelgaçar.

O clipping está no final. O café já está esfriando e a Sofia já chamou três vezes. Mas antes de descer meus olhos são puxados pela estrela.

Me vejo de jaqueta jeans, bolsa atravessada, e a estrela no peito. Isso foi lá por 2001, eu acho, quando viesses com teu grupo de jazz para uma apresentação noturna.

Não que me lembre direito, digo isso pelo tamanho da estrela. Com o passar dos anos ela foi diminuindo. Hoje está guardada lá na caixinha de brincos do banheiro. Nada pessoal, só que com tanta bandalheira para os lados de Brasília, ela virou tesouro do passado.
Mas voltando ao início, é assim que nos encontramos todo dia, no porta-retrato da minha escrivaninha. Sempre nessa correria. Às vezes nem nos olhamos.

Outros dias, meu papo é mais com a Santa Terezinha. Tem épocas que só dá ela. Fica super solicitada. São dias pesados, mas que passam. E aí, nos dias mais leves, te encontro novamente.

Somos cúmplices. Além do mais, estou com o braço enfiado no teu. Assim, que nem faço com meu pai quando andamos na rua. Acho tão mimoso. A gente se engancha, dá uma sensação de cumplicidade mesmo.

Acho que é isso, às vezes tu é meio pai mesmo. Outros dias, meu cúmplice da indignação. Outros da alegria, de saborear essa vida tão rara.

Imagina que quando nasci, tu estavas começando a assinar matéria na Zero Hora. Olha só, e hoje nós os dois abraçados no lugar de maior destaque do meu escritório, fazendo o clipping juntos.

Quanta honra para uma jornalista nascida em pelo ano de 1968.

Acho que foi por isso que achei engraçado. Como esse mundo é pequeno. A gente se acompanha há tanto tempo, mas tu nem imaginas que me estás aqui. Daí achei que tu precisavas saber.

Na verdade a tecnologia não chegou a tanto e ainda não tenho o e-mail da Santa Terezinha. Mas se quiseres posso copiar essa foto e te mandar. Ia ser legal né ?! interatividade total!

Um super abraço meu companheiro de tantos anos!
Com carinho,

Gabi

P.S.: A camisa de listras na vertical é muito alinhada, não esquenta viu?!

3 comentários:

Nauro Júnior disse...

Cara, as vezes fico com ciúmes, pois não tem uma foto minha na mesa dela,,,, Mas tudo bem, tu pode... Qualquer coisa a Santa Terezinha me conta... Pois eu de vez em quando também venho aqui falar com ele..
Abração amigo... Do marido,
Nauro Júnior...

Anônimo disse...

Oi Gabi! Adorei, sempre que posso tenho lido teus textos. Todos ótimos! beijão Carmen Abreu

Unknown disse...

Noooossa Gabi, perdi a hora!!! hehehe vou explicar rapidamente...Sabe q hj pela manhã marquei uma visita profissional as 10h, como consegui me arrumar (banho, café, etc...) até as 9h20, resolvi fuçar no msn e lendo as frases cliquei no link do teu blog. Me apaixonei pelos textos!!! Não consegui parar de ler e concluindo, são 10h36 e to aqui, comentando...
Parabéns querida, virei fã assídua do "Adoro melancia".
Bjokasss!!!
Dai