segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Alfarrabos - parte III

O vento Minuano, a goiabeira e eu

Uma infância no sul do Rio Grande do Sul tem lá suas peculiaridades, e não é pela geografia mais plana ou pela churrasqueira cativa no quintal. Nossa infância de guria é povoada na maior parte por uma trilha sonora muito típica: o zunido do vento Minuano. Lembro bem da dimensão que tinha o tempo e de como os invernos eram longos. Quase intermináveis.

Na espera de estações mais amenas já acordávamos enroupados. Depois da caneca de louça com café-com-leite, e antes de corrermos para o pátio, tínhamos que trocar a ceroula por várias camadas de agasalho, antes de encarar o “friozão”. Na primeira meia hora de aventura, já tínhamos alguns blusões amontoados no pé de alguma árvore. Só ficávamos com a “baxeira” - nome dado à camiseta de baixo, que até hoje povoa guarda-roupas de todas as idades.

Cada estação, por ser bem definida, tinha sua atração especial. A minha preferida sempre foi o outono, não por anteceder ao inverno, mas por inundar a goiabeira de frutos apetitosos. O cheiro da fruta até hoje me remete a boas sensações. Quando cruzo o corredor de algum supermercado, me pego com aquela sensação deliciosa que os aromas de infância nos proporcionam.

Acho que a relação entre o vento minuano a goiabeira e eu foi muito profunda. Ainda hoje, ao ouvir o zunido do vento sul ou cruzar com alguma goiaba lembro o quanto foi bom ser criança. No pé da goiabeira descobri muitas coisas sobre a vida.


Aprendi que mesmo as melhores coisas da vida têm seu tempo de chegar e partir. São como os outonos que trazem as goiabas e as primaveras que levam os Minuanos!

Um comentário:

Eunice disse...

Que belo escrito sobre este igualmente belo momento de Sofia e o despreendimento de seu bico!
Realmente ela é muito corajosa e eu me orgulho muito dessa pequena grande SOFIA!
bejin da dindi.