sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Refuerzo

Dentre as tantas histórias hilárias que me vejo envolvida às vezes, uma recentemente marcou a entrada nos meus 41 anos de vida.

Na verdade, nos últimos anos elas tinham parado um pouco de acontecer. Eu já estava me achando uma senhora madura, com quatro décadas de estrada, mãe de família. Achei que essas coisas tinham ficado nas memórias da juventude.

Ledo engano!

Este ano o meu aniversário (29 de outubro) caiu bem no dia em que o Nauro, a Mari e o Etchuchiry (Chuchu) recebiam uma homenagem na Casa de Cultura de Jaguarão. Como a programação envolvia uma palestra com os aventureiros da Expedição Lagoa Mirim, programamos ir para Jaguarão depois do almoço e depois da função terminada, sairmos juntos para jantar no Restaurante Batuva, de Rio Branco. Adorei a idéia de passar o aniversário no “exterior”, ainda mais que poderia reunir minha irmã que mora lá, sobrinhos, cunhado e mais a Mari e o Chuchu.

Chegamos no meio da tarde e fomos direto para casa da Kiki, minha mana querida. Deixei o Nauro no hotel descansando e seguimos as duas e mais a Sofia para as compras. Não adianta, por mais que não tenhamos nada para comprar, a proximidade com um free shop parece que suga a gente. Não sei que atração é essa, mas acontece com todo mundo que se aproxima da Ponte Mauá, é estatístico.

Então cruzamos a tal da fronteira e seguimos pela avenida principal de Rio Branco. Até que vi um lugar livre bem em frente à Tenda Montevideo, minha preferida. Dito e feito, dei o pisca no meio da rua e estacionei o carro no oblíquo, como era indicado para o local. Descemos as três bem faceiras. A Sofia já apontando para uns tênis rosa na vitrine, imitação de All Star. Olhei para o flanelinha que me acenava e gritei da porta da loja:

- Ok, pode cuidar!

Paramos para olhar melhor as ofertas, eu achando lindo o tênis e fazendo o câmbio, quando escuto o insistente chamado:

- Senhorita, senhorita, veni a cá!

Olhei para o meu carro e vi um flanelinha parado ao lado, com dedo em riste, me chamando. Pensei cá com meus botões: Que flanelinha abusado esse, quer acertar o preço antes de eu voltar. Mas, como era meu aniversário, decidi que não queria me estressar. Desci até a calçada e perguntei:

- O que o senhor quer?

Ele me olhou com os olhos faiscando e disse:

- Su habilitación, senhorita!

Foi quando subi os olhos para aquele bonezinho cáqui surrado e li:
Po-li-cí-a.

Nisso minha irmã já vem com a Sofia pela mão e com os olhos arregalados. Eu peguei a carteira de motorista e me dei conta de que ele deveria estar querendo o meu fígado, porque achei que com aquela farda esfarrapada e o “X” desbotado no meio do peito, ele mais parecia os nosso flanelinhas daqui. O cidadão furioso, depois de olhar a carteira de habilitação, pediu os documentos do carro.

A estas alturas a Sofia já estava no meu colo, apavorada. Morre de medo da polícia e já tinha se dado conta (antes de mim) de que se tratava de uma “autoridade policial”. Peguei o documento do carro e na hora que ele segurou, saiu em disparada para o meio da rua. Nisso minha irmã caça ele pelo braço e diz:

- Ah não, levar os documentos não. O senhor tem que provar que é policial mesmo, senão não pode levar!

Pra quê! Esse homem começou a ficar verde e por alguns segundos achei que se transformaria no Incrível Hulk. Começou aquele bate-boca bilíngüe no meio da rua. Minha irmã e eu perguntando pra ele o que tínhamos feito afinal de contas, e dizendo que ele não tinha o direito de levar os documentos. Ele dizendo sei lá o que em um espanhol mais ligeiro do que nossas mentes insanas pudessem acompanhar. Nisso o homem levanta o braço, prende o apito na boca e grita:

- Refuerzo!!!

Socorro! O guarda estava pedindo reforço para nos levar presas em pleno Rio Branco. Parecia que aquilo não estava acontecendo. A Sofia grudada feito um carrapato no meu pescoço e nós as duas entrando na Delegacia, do outro lado da rua, para prestar esclarecimentos. Se é possível que se possa esclarecer essa confusão toda.

Fomos recebidas por uma senhora enorme, vestida em uma farda marrom, com as duas mãos no bolso e um olhar de baixo para cima. Era a delegada. Muda. Não falava uma palavra, só olhava a cena. Enquanto isso o flanelinha, ops, o guardinha e minha irmã seguiam naquela convulsão de palavras.

Resumo da ópera. No Uruguai é proibido dobrar no meio da rua, mesmo que para estacionar, entrar em uma garagem, qualquer coisa desse tipo. Só se pode dobrar em esquinas (nunca mais esqueço!). No Brasil pode, e daí?

Daí que depois de muito papo, a situação parecia não ter saída. Até que a Kiki lembrou do meu aniversário e veio com o velho papo:

- Mas o senhor vai nos deter no dia do aniversário dela? Imagine o trauma para essa criança e para mãe dela...

E assim debulhou um rosários de lamentações que acabou comovendo aquele coração Hermano. Fomos liberadas depois de atestar a data de 29/10/1968 na carteira de motorista. Ele olhou, levantou uma das sobrancelhas e disse:

- Está bien, pero en la próxima vez no hay perdon!

E assim nos despedimos do guarda mais mal vestido do Uruguay. Nos enfiamos rapidamente em uma loja, antes que ele mudasse de ideia e me fizesse passar um cumpleaño inesquecível, no xadrez.

Nota da redação: Ontem fomos à Jaguarão para o lançamento do livro do Nauro e adivinha quem eu encontrei em Rio Branco? Ele mesmo, e o pior, tive a sensação de que estava me seguindo!!!!

2 comentários:

Anônimo disse...

Ermã,
Sempre temos as nossas aventuras (confusões), acho que termos 80 anos e ainda vamos estar aprotando por aí.
Beijos
kiki.

Anônimo disse...

Filhas, sempre me oreocupei com as "aprontadas" de voces, mas se duvidas, são muito engraçadas, com um grande humor, o que torna as coisas mais leves....por tudo isto nunca pude te passar um pito qdo. comestes "croquete ruim", ou seja um grande trago.
beijo, Mãe