quarta-feira, 3 de março de 2010

(Dês)assistência

Esse tal mundo globalizado trouxe muita coisa boa para as nossas vidas. Esse mesmo texto que escrevo sentada na cama, com o ar-condicionado ligado, no século XIX seria escrito pela minha Voinha em uma escrivaninha de mogno, com uma caneta tinteiro em uma mão e um leque na outra. Hoje, essa mesma cena poderia estar acontecendo em qualquer canto, fosse em um banco da praça ou no topo do Aconcágua (Se o 3G da vivo não se fresquiar, é claro!).

Com a tecnologia dos dias de hoje, a comodidade da comunicação passou a ser imensurável nas nossas vidas. Mas tem uma coisa complicada nisso tudo. Como todo bônus tem seu ônus, viver no mundo moderno faz com que alguns sentimentos novos e estranhos nos acompanhem de perto. Nos últimos tempos tenho percebido uma sensação coletiva de desassistência. Sei lá se essa palavra consta ou não no dicionário, mas é exatamente essa a sensação que tenho em muitos momentos burocráticos da vida. Depois de 41 anos, pela primeira vez estou movendo uma ação na justiça. Sempre achei que existiam formas racionais de resolver as coisas e que nada seria substituído por uma boa conversa olho no olho. Mas esse é um privilégio que o mundo tecnológico nos furtou.

Na semana passada quase cheguei às raias da loucura falando com um desses robôs-humanos contratados pelo Credicard. Já estou movendo uma ação judicial contra eles, e queria apenas conseguir encerrar meu cartão de vez. Depois de resistir a várias investidas da técnica aplicada de “como enlouquecer e desrespeitar seu cliente em menos de cinco minutos”, não consegui o que queria. Todos os empecilhos foram colocados pela robótica treinada. Só faltou ela me pedir a data do meu batizado e a idade do padre naquela época. De resto perguntou tudo e mais um pouco para poder comprovar que eu, era eu mesma. No final me disse:

- Sinto muito senhora Gabriela, mas não vou poder efetivar o seu pedido!

Conste nos autos do processo que isso já fazia mais de 26 minutos de ligação, com uma tensão em nível elevado e palavras sutis que gostariam de dizer bem mais do que o dito. Quando me dei por vencida, exausta pela surra de tele-marketing que acabara de levar, a robótica me diz:

- Credicard agradece a sua ligação e tenha um bom dia!

Eu não pude acreditar. Como assim? Ela bebeu??!

Não resisti e sai da casinha. Peguei o celular e me transformei no incríevl hulk dos episódios de antigamente e gritei:

- E a senhora tenha um péééééééééssimo dia, se possível com dor de cabeça e pra completar que na hora de ir pra casa desabe um temporal em São Paulo e tu fiques presa no trânsito por cinco horas!!!!

Bom gente, depois dessa manhã calamitosa meu dia praticamente acabou. Parecia que eu tinha levado uma surra. Fiquei triste, sentida. Daí comecei a pensar nesse tal sentimento que me invadiu. É a tal desassitência. E se não consta no dicionário vou defini-la aqui:

Desassitência – é o contrário da palavra assistência, que tem origem no verbo assistir que, em sua forma transitiva direta, significa ajudar, auxiliar. Em outras palavras, a assistência é o ato de prestar auxílio, ajuda, para alguém.

A desassistência é o contrário disso e é um mal dos tempos globalizados, ainda sem cura!

2 comentários:

Miúda disse...

É frustante essa tal desassistência... quem nunca passou por situação parecida levante a mão!!!

REGINA disse...

GABI, SE ME PERMITE CHAMÁ-LA ASSIM - QUANTA HONRA DE TER UMA JORNALISTA PASSEANDO NO MEU BLOG! O SEU É LINDO E O SEU TEXTO - QUE NÃO PEDI PERMISSÃO - MAS COLOQUEI OS DEVIDOS CRÉDITOS - É MUITO ENCANTADOR. PARA MIM, QUE FALO DE TUDO, PRINCIPALMENTE DE GESTANTES, BEBÊS, CRIANÇAS, É DE MUITA IMPORTÂNCIA. OBRIGADA POR "EMPRESTÁ-LO" A ESTA 'BLOGUEIRA NOVATA'. BEIJOS
ABRAÇOS PERFUMADOS
REGINA