domingo, 14 de março de 2010

Recheio

foto: Nauro Júnior




O prazer por saborear o recheio deve vir de infância. Dia desses mandei umas bolachinhas “Passatempo” na merenda da Sofia e voltaram soltinhas. Ela lambeu todo recheio e deixou as coitadas das bolachas peladas. Fiquei matutando sobre aquele ato infantil, mas já tão cheio de significados.

Daí na sexta-feira passada buscamos a Sofia no colégio, e a convidamos para fazer um happy hour em um lugar que ela adora. Chama de “coqueirinho”, porque tem um exemplar da espécie, de plástico verde e com côcos artificiais, dando boas vindas aos clientes. Então sentamos os três nas mesinhas do Cruz de Malta, que tem vista para a avenida Dom Joaquim. Para quem não nasceu em Pelotas, essa é uma das avenidas que corta a cidade e onde se aglutinam dezenas de jovens sarados e famílias com crianças no final do dia. Alguns vão para tomar um mate no final do dia e outros para “expor a figura”, como diziam naquela novela indiana da Globo. Mas enfim, mal sentamos e passa um daqueles guris bombados, todo lustroso, com músculos por todos os cantos do corpo. A barriga um dia deve ter sido tanquinho, mas agora mais parecia uma lavanderia. Além disso, corria com um cabelo estrategicamente descabelado e com um bronzeado SOS Malibú.

O Nauro na hora seguiu com os olhos aquele exemplar da mesma espécie, e comentou:

- Bahh, esses caras passam o dia na academia e depois vem se fazer que estão nessa forma porque dão uma corridinha no final do dia!

Eu ri e comecei a reletir. Me dei conta que desde os tempos de guria, tipos como aquele nunca me chamaram a atenção. Os meus namorados sempre tiveram cara de normal. Daqueles que quando a gente chegava em um restaurante, a mulherada não se coçava na cadeira pra tentar dar uma espiadela no moço em questão. Mesmo que não tenha um currículo tão extenso de namorados, a maioria foi escolhido pelo recheio e não pela embalagem. A escolha se estende às amizades e mesma que tenha muitos “pastéis de vento” à minha volta, os meus amigos de fé tem como grande qualidade a receita dos seus recheios.

Falei isso e começamos a falar exatamente sobre a importância do recheio. Muitas vezes o prato se apresenta com uma cara ótima, mas na primeira garfada a gente sente que aquela pimentinha em excesso vai dar trabalho mais adiante. Em outras situações comemos aquele petisco com cara de gordurento, mas que tem um temperinho caseiro único, que dá todo o charme. Tem também aquele lanche pasteurizado, que além de caro não alimenta nada, mas que o marketing do negócio acaba sempre nos puxando pra lá.

Assim são muitas das relações que nos cercam no cotidiano. E como a vida é uma refeição para ser saboreada com calma e prazer, decidi ser mais seletiva nas provas que ando fazendo. Tenho descoberto sabores exóticos que me cativaram. Afinal de contas, o recheio é tudo!


Manja che te fa bene!

3 comentários:

Nauro Júnior disse...

Eu, no caso teu marido, tenho uma borda de catupiri como recheio na volta da cintura... Espero que tu goste???
Beijos te amo....

regina disse...

Concordo contigo, o recheio é fundamental, no caso da sua filha, o recheio é tuuuuudo. Mas vamos pensar nos saradões, perdem tanto tempo malhando, se amando na frente de um espelho que certamente esquecem do recheio, o cérebro fica vazio. Sinceramente, esse tipo físico não me atrai, e provavelmente nem às mulheres que gostam de um bom papo. Beijos!!!

cíntia disse...

é pura verdade. o que importa é o recheio, e andamos vivendo num mundo que valoriza demais o lado externo. fazem-nos parecer que o biotipo magro-bronzeado-bonito é o ideal, e se formos bater um papo com este sujeito, não chegaremos a alguns minutos. logo veremos que falta-lhe conteúdo.
esperta sofia! que continue valorizando os lados melhores das bolachas e das pessoas!!
beijocas