sábado, 17 de abril de 2010

Sampa

Domingo embarco para São Paulo, para um compromisso de trabalho na segunda-feira pela manhã.

Adoro ver essa metrópole...mas de longe.

Não sei que sentimento é esse, que os tempos de hoje me fizeram sentir pela cidade do cimento. Quando eu era adolescente, minha prima Andréa morava lá e as férias de julho era esperadas ansiosamente, com o objetivo de passar deliciosos quinze dias em Sampa. Era tempo de fazer programas inusitados para nós, que morávamos quase do outro lado do mundo. Era assim que eu sentia. E nesses quinze dias de deleite, eu assistia desde lançamentos de teatros até visitas à maior feira livre que meus olhos já tinham contemplado. O Tio Onofre era o cicerone, e mostrava cheio de orgulho, todas as cores e sabores de frutas vindas de todos os cantos do Brasil.

Domingo era dia de lasanha na casa dos primos paulistas. Dia de muita gritaria na volta de uma mesa repleta de descendentes italianos. Até hoje não saboreei nada parecido como a receita da tia Luluca. Imbatível! Lembro que eu pegava ônibus, metrô e mesmo assim me achava naquele emaranhado de ruas, buzinas e fumaça. Não sei de que jeito, mas dava tudo certo. Até assistir a aula no Colégio Objetivo, com meu primo Márcio, eu ia. Sem falar nos ensaios das dezenas de bandas de rock que ele teve. Vanguarda na veia!

Na casa da Déia passei momentos especiais e era recebida por ela e pelo Marcos com grandes honrarias. Naquele tempo, o hoje consagrado ator Matheus Nachtergale, era simplesmente o Matheus. Amigo querido da Déia, com quem passávamos horas conversando sobre a vida e sobre a arte. Ele tinha mil dúvidas se queria ou não ser ator. Uma coisa totalmente Shakespeare, bem ao seu estilo. Eles dois tinham começado a estudar com o Antunes Filho, no Centro de Pesquisa Teatral de Antunes Filho e assistimos ao primeiro espetáculo da trupe. Lembro que a Déia veio toda animada me perguntando o que eu tinha achado. E eu meio sincera e guasca para as profundezas cênicas, respondi:

- Ah, Déia, eu gostei, mas não entendi muito!

Era um tempo de muitos contrates culturais, onde internet nem existia e para se ver as novidades usávamos os olhos e o coração. O mais incrível disso, é que eu saia do interior do "Areal fundos", diretamente para o coração do progresso, e adorava. Hoje só de pensar que tenho que passar 24 horas no meio desse mundo apressado, me dá um frio na espinha. Estou desde ontem remanchando em fazer a mala. Não organizei nada ainda, e olha que eu faço listinha até para ir à Jaguarão. Mas enfim, deve ser resultado das loucuras do mundo atual. Mas será que naqueles idos anos 90 não tinham coisas tão doidas como as de hoje? Ou será que a nossa cabeça era mais solta e menos preocupada com tudo. Será que envelhecer nos trás sabedoria, ou medo?

Nossa, quantos dilemas e quantas perguntas sem resposta para uma simples viagem de trabalho. Vou e volto num tapa, só pra Sampa não achar que briguei com ela. Mas volto correndo, porque nada se compara a paz que eu encontro nesse pedacinho singelo de mundo.

Viva o Areal fundos!

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