Quando éramos pequenas a Kiki (minha irmã) chegava em casa do colégio sempre contando um apanhado de novidades. Eram estórias mirabolantes, que aquela cabecinha infantil imaginava e descrevia com uma riqueza de detalhes singular. Mas nós, de casa, desconfiávamos que o personagem traquinas das estórias, era ela mesma. Só que quando resolvíamos perguntar quem tinha feito tamanha arte, ela arregalava aqueles olhos da cor do mar, e respondia séria:
- Foi um colega meu, ora!
A frase ficou célebre na infância e cruzou a adolescência como uma velha sátira. Muitas risadas foram dadas ao lembrarmos dessa tirada. Imaginem, ao melhor estilo "saindo pela tangente", e criada em plena década de 70.
Mas não é que o mundo gira, e quando menos esperamos “o colega meu” bate novamente à nossa porta?
Semana passada estávamos levando a Sofia no colégio, quando encontramos a mãe de um colega da Sofia. Era sexta-feira e ela perguntou o que achávamos de na saída da aula, Sofia ir direto para casa do Pedro, para brincarem juntos. Dessa vez fui eu quem arregalou os olhos e perguntei:
- Lorena, é a primeira vez que a Sofia vai brincar na casa de alguém, como funciona? Eu não sei nada do assunto ainda!!! A que horas eu busco, o que eu faço?!
Cena ridícula, eu sei. Mas era exatamente assim que eu me sentia: perdida. Trocamos celulares e combinamos que eu ligava mais tarde para buscá-la. Chegou perto da hora de terminar a aula, o meu piloto automático fez com que eu pegasse a chave do carro e me dirigisse à garagem. Foi aí que me liguei que não era para buscá-la, que ela estava na casa de “um colega meu”.
Naquele par de horas fiquei pensando tanta coisa. Imaginando que dali em diante as novidades iam ser cada vez mais intensas. Prazeres como esse, de estar na da casa dos amigos, cheios de autonomia, só iam somar à lista de programas da Sofia . Para mim, que sou uma manteiga derretida, tudo é motivo para crise, e naquelas duas horas de espera tive uma em versão fast food. Viajei tão longe, que cheguei a enxergar a Sofia e o Pedro colocando as mochilas no carro, e indo acampar no Uruguai. Nesse ponto não me contive, e liguei para Kiki me lamentando, em mais um momento pós-cordão umbilical. Ela riu de mim, e aproveitou para lembrar que de agora em diante a coisa só piora.
Legal Kiki, valeu!
Mal bateram às 20h e eu já estava à caminho, pegando o Nauro no jornal para irmos buscar a nossa Cinderela. Chegando na casa do Pedro, encontrei a Lorena e a Geórgia aos risos com as tiradas da duplinha. Eles se divertiram muito e obviamente a Sofia já queria combinar um novo encontro. Na saída, para amenizar a saudades do amigo, ela levou um brinquedo dele emprestado, para passar o final de semana com ela.
Adivinhem o que?
Nada mais simbólico do que o colorido castelo do Pedro. Tudo bem, eu me recupero. Mas o principal dessa história, é que a princesa volta para casa com o castelo do príncipe debaixo do braço, ao melhor estilo das fábulas modernas. E termina o dia são e salva, tomando uma mamadeira de leite com Nescau, no colo da sua mamãe!
Ufaaaaaa!!!!
5 comentários:
Ai, que coisa linda!
O Pedro é aquele que apareceu do lado dela no blog do Nauro?
Se for, a tia Mari das Galochas aprova. hehehe
Te prepara pra quando ela resolver passar o feriado no Rj com o Pedro! Ou, ainda, comprar um carro! Ai!
Enxerguei a Kiki te assustando, aquela figura!
Beijos pra todos.
Saudade,
Mari
Ai ermã, amei fique dando risada e me lembrando como eu falava eu era uma máquina de palavras, a Sofia tem a quem sair heheh. A primeira saída a gente nunca esquece, mas nos recuperamos. Hoje tenho saudades "de um colega meu" pois na vida adulta não podemos inventar um colega para colocar as culpas, acho que é por isso que tive que ir fazer terapia hehehe.
Bjs Te amo.
gabriela, meu filho tem 8 meses, e às vezes me pego pensando no dia em que isso que aconteceu contigo acontecer comigo. Acho que eu ia dizer "pois é... temos um compromisso" hahahaha e me escapar.
mas temos que nos desprender assim. nossos filhos não são 'nossos'. é uma dura lição que gramarei para aprender.
beijo grando
Que saída mirabolante... Imagino o seu pânico. Mas relaxa, daqui a 10anos isso será rotina, você vai aceitando... "um colega meu" achei ótima saída. Mas confesso que várias vezes escutei histórias comprometedoras onde a narradora, dizia: "Isso aconteceu com uma colega minha" kkk
Filha, que delicia rever através de voces "um colega meu...", fiquei aqui relembrando nossa idas e vindas do colégio e tua irmã tinha sempre uma grande estória prá contar que, nós já sabiamos, era de "um colega meu", e o colega dá Sofia entegou a ela um lindo castelo, que se dúvida tem em suas grandes portas, lindos sonhos para viverem. Fica firme que dá tudo certo...os anjunhos do céu não dormem, apenas sesteiam. bj mãe.
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