quarta-feira, 7 de abril de 2010

Era pequeno

Depois de tantos posts densos, vou dar uma aliviada e contar uma história que me aconteceu há uns sete anos atrás. Foi um episódio daqueles que poderia ser trágico, mas por obra do destino foi cômico. Era o ano de 2003 e eu, recém separada do meu ex-husband, tentava vender meu fusquinha bege-esverdeado, ano 81 (esse era novinho!!). Eu tinha ficado com esta relíquia na “divisão dos bens”. Abri mão até do sofá da sala, mas o meu fusquinha não arredei o pé. Nossa!!! Quantas aventuras ele testemunhou, sempre firme e forte. Nos tempos da faculdade eu só ligava no piloto automático e ele ia sozinha pra Colônia Z-3, onde fazíamos um jornal comunitário para os pescadores.

Mas enfim, eu estava recém-separada, cheia de contas para pagar e o meu fiel escudeiro precisava dar o corpo em sacrifício. Anunciei nos classificados do Diário Popular num domingo. Várias ligações, algumas visitas e muitos olhares indecifráveis. Eu não entendo as caras desses homens que vem olhar carro para comprar. Eles fazem que nem a gente na adolescência. Uma cara de não to nem aí, mas quero muito. Depois de dezenas de espiadinhas no motor, eu cheguei a conclusão que algo muito grave deveria ter por trás daquela tampa.

Com a demora na decisão dos meus compradores em potencial, tive a brilhante idéia de levar o meu Fusca-bala para o “feirão de usados” da avenida Duque de Caxias. Nem achei tão ofensivo o título, já que o meu possante era mesmo usado. Aquela coisa sabe, pobre, mas limpinho. Bueno, então para me acompanhar nessa empreitada é óbvio que convoquei minha amiga-de-fé-minha-irmã-camarada. Sim, a minha querida Moby, ou Gabriela, como de batismo.

A feira era sempre aos domingos pela manhã. Acordamos cedo, nos vestimos bem bonitinhas, pegamos um mate novo, bolachinhas - pra caso de a coisa se estender, e umas cadeirinhas de praia. Parecia até que íamos tomar banho de sol no Laranjal. Mas a missão era mais árdua.

Chegamos por volta das 9h30 na feira, e parecia que já era meio-dia. Aquilo abarrotado de gente. Carros, cadeiras, gente, uma loucura. Na hora percebi que a nossa estratégia foi falha, mas não desistimos. A Moby, com seus olhos de lince, logo localizou um único espaço vazio entre as centenas de carros que nos cercavam. No que ela me mostrou o lugar, eu dei o pisca e fui me enfiando na vaga. Eis que surge um Vectra prateado me cortando a frente e se socando no meu lugar. Na hora de manobrar, o maluco me bateu no lado do carro de leve. Eu parei, abri a janela e chamei.

- Poxa moço, o que é isso, não ta vendo a gente aqui?

O cara todo entonado já saiu do Vectra como quem desce de uma nave na lua. É, porque há sete anos atrás, acho que Vectra era carrão. Ele já veio me peitando e dizendo desaforo e ‘mandando” eu tirar aquela geringonça dali. Eu não acreditei. Perguntei:

- O que???? Essa geringonça é o meeeu carro?? E o senhor ainda me bateu!!

E ele saiu dizendo mais meia dúzia de "delicadezas” pra cima de nós. Já se juntava um bolinho de curiosos na volta dos carros e me subiu o sangue. Eu coloquei a cabeça para fora da janela e disse:

- Pois o senhor, pra estar falando com mulher desse jeito, deve ter o “p..” desse tamanhinho!!! (e mostrei o meu dedo mindinho como "exemplo" do assunto...pra quê?!)

Gente, esse homem se transformou no Incrível Hulk. Ele veio com tudo pra cima de nós. Mandou sairmps do carro e chamou a polícia. Detalhe: ele era a polícia!!! Era um policial de folga, que estava indo vender o carrão.

Pronto, me ferreir. Ele chamou a polícia e os Azuizinhos. Imagina o bafão em pleno feirão da Duque de Caxias. No bolo de curiosos da volta, nós já conseguimos umas testemunhas pra nos defender. Aqueles que ficam repetindo; “eu vi, ele se provaleceu, veio metendo o carro por cima!”.

Bom, pra resumir, o meu carro estava com os documentos atrasados, acho que o IPVA. O danado do cara conseguiu que meu fusquinha bege-esverdeado saísse humilhado em cima de um guincho, direto para um depósito. A Moby e eu, por conseqüência, que não tínhamos levado grana já que nosso veículo estava devidamente preparado, ficamos a pé. Ou seja, tínhamos dinheiro só para uma passagem de ônibus, e como estávamos no Fragata, tivemos que ir cameliando até a Osório, com as cadeiras e o pic-nic de arrasto. E o pior, humilhadas pelo tal policial à paisana.

Chegamos em casa sãs e salvas. Depois de três dias paguei os documentos e recuperei meu carro. Gastei mais do que tinha com toda essa história e continuei sem conseguir vender o Fusca. Mas de uma coisa eu tenho certeza e é o que me conforta até hoje:

Se ele ficou tão brabo, é porque "era pequeno" mesmo!!!

Um comentário:

regina disse...

KKK, essa foi boa. Tudo acontece quando estamos numa maré complicada. Mas, se o infeliz ficou irado, é porque você tocou fundo na ferida, descobriu seu maior segredo. Você conseguiu dar a volta por cima, já superou aquela fase difícil, e ele??? Tem cura prá esse mal??? tadinho!!!