Que os homens são de marte a as mulheres são de Vênus eu já sabia. Não li o tal livro famoso, mas na prática compreendi o significado amplo da metáfora. Até aí tudo bem, mas eu sempre tive afinidade com amigos homens, desde os tempos de colégio. Por isso acho que talvez meu planeta seja Saturno, ou Urano, quem sabe. Meu amigo Gabriel, inseparável parceiro dos tempos de Gonzaga, que o diga. Ele conta até hoje que eu era pior que os guris naqueles idos anos 80. Eu até hoje me defendo acusando ele de cúmplice das minhas peripécias.
Uma vez quase fui expulsa do colégio por conta de uma arte. Tínhamos uma colega que era a popozuda da aula. Loira, calça branca colada, unhas pintadas e aquele ar de frágil, que comovia e encantava os seres humanos do sexo oposto. Também pudera, com esse conjunto de atributos. Mas a guria era uma baita dissimulada, e quando chegavam as aulas de educação física, aproveitava os jogos de handebol para empurra, beliscar, puxar cabelo. Mas como tinha cara de santa, na hora que reclamávamos a professora não acreditava.
Até que um belo dia achamos uma calcinha velha no vestiário do colégio. Eu e minha gang resolvemos fazer um plano maquiavélico de vingança. Pintamos a peça íntima com cores chamantes e escrevemos o nome da guria na calcinha. Depois levamos para sala de aula, e logo depois do recreio, o guri mais espalhafatoso da aula abriu o caderno e tchan, tchan, tchan...encontrou-a dentro. Foi aquele alvoroço masculino. A calcinha rodou a sala de mão em mão, até que um dos alunos a colocou esticada na parece do fundo da aula.
O professor de Física entrou e a barulheira não acalmava. Foi então que a nossa colega viu do que se tratava. Levantou chorando, e saiu desenfreada sala a fora. Na mesma hora o professor resolveu chamar o inspetor, figura temida no meio escolar, o famoso Luiz Gonzaga.
Ao entrar na sala de aula ele nos olhos com cara de furioso e disse:
- As meninas estão dispensadas, o assunto aqui é de homem!
E eu sai bem quietinha, faceira por ir mais cedo para casa. No outro dia a coisa complicou. Um dos guris me denunciou e fui chamada com outra colega a depor na direção. Foi um horror. Imaginem em um colégio de padres, uma menina fazer tamanha traquinagem. Chamaram minha mãe e depois de muita conversa eu fui colocada na quarentena. Acabei não sendo expulsa porque na hora da minha defesa pedi a palavra e disse uma frase que comoveu o diretor, utilizando passagens bíblicas para evocar o perdão. Foi tipo Francisco Cuoco no auge da canastrice.
Depois dessa fiquei bem quietinha. Até o dia em que descobri uma obra no edifício ao lado do colégio. Cuidei o movimento dos pedreiros e em determinado momento convidei minha gang para colocarmos a escada e agilizarmos uma fuga em pleno intervalo de aula. Quando estávamos no meio do caminho, alguém espiou pela janela e nos viu em plena travessia. Resultado: fomos levadas de volta ao cárcere privado, sem direito a merenda.
A minha vida escolar não foi de muita dedicação aos estudos, mas a verdade é que era divertido demais. Depois que cresci e virei uma profissional de respeito, fiquei chata e meus dias mais insossos. A única adrenalina dos dias de hoje são prazos pra cumprir e volta e meia alguns vaidosos para enfrentar.
Que saudades dos tempos em que eu era da pá virada!
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