Há algum tempo tenho pensado em mudar radicalmente o rumo das coisas. Por enquanto não passam de pensamentos soltos, no meio de dias cansados. A rotina de um trabalhador autônomo parece linda naqueles livros de auto-ajuda americanos. Eles trabalham em casa, tem escritórios modernos, usam roupas super relax e estão sempre com aquela cara de ócio criativo, com um óculos na ponta do nariz.
Mas a vida real não é bem assim. Desde que abri minha empresa, há quatro anos, soube que era a decisão mais acertada para as circunstâncias. Estar ao lado da Sofia durante esse tempo, foi de um valor imensurável. Neste período a minha pequena agência ganhou espaço e hoje as coisas vão de vento em popa. Clientes ótimos, bons âncoras, rotatividade de assuntos, ou seja, muito mais do que eu planejei para esse capítulo da minha vida profissional.
Nos últimos dias tenho pensado em trocar de profissão, de rotina, de estilo, sei lá... menos de marido (que fique claro!!!). Pensei se não era melhor ter uma lojinha, aprender a cozinhar, vender joias, entrar pro budismo, rapar a cabeça, estudar japonês, sei lá o que mais...
Acho que estou na crise pós-colégio da Sofia.
A verdade é que agora tenho mais tempo pra me olhar. Tenho trabalhado cada vez mais, como se fosse um cachorro correndo atrás do rabo. Me sinto presa dentro de um castelo construído pelas minhas listinhas de compromissos. A empresa cresceu, mas o que sinto com tudo isso é uma angústia cada vez maior. Medo frente a responsabilidade que tenho, com os contratos e prazos à cumprir, o clipping pra fazer, o texto para criar, a matéria pra enviar, a nota para postar, e assim caminha a minha rotina.
Estou com saudades de não ter peso nos ombros, dor na coluna, hora pra acordar, almoçar, dormir. Saudades de passar as tardes comigo mesma. Olhar mais de perto aquelas unhas deixadas por fazer, ou o cabelo sem um reflexo dourado há meses. Quero olhar pra dentro de mim e reencontrar minha fé inabalável, que já removeu montanhas.
Enfim, me dei de cara comigo mesmo. E quando isso aconteceu vi que preciso ser mais minha amiga. Cuidar um pouco mais do meu cotidiano. Ir ao cinema com meu marido, jantar fora de vez em quando, tomar um vinho e ficar meio grogue, dormir até tarde numa quinta-feira, dedicar uma tarde para o cabeleireiro, sei lá o que mais.
Fazer coisas que me façam sentir prazer. Abolir a eterna sensação de estar cumprindo deveres, de estar em dívida. Eu sei que esse não é o assunto mais emocionante para um blog. Mas se é pra ser divã-virtual, os meus psiquiatras-leitores vão ter que fazer hora-extra hoje. Talvez seja apenas uma crise de “meia-idade”. Talvez seja a nostalgia que traz o cinza do inverno. Talvez seja a tosse da Sofia que não dá trégua nos últimos dias.
Talvez, talvez, talvez...
Talvez seja eu que tenha me perdido de mim mesma, e queira achar àquela Gabi livre, leve e solta que eu fui um dia.
Alguém viu ela por aí?
9 comentários:
Gabi! Adorei o texto pq ando me sentindo assim tbm! Os compromissos não são os mesmos q os teus, mas cada um sabe a rotina que constrói e carrega nas costas né? E a gente nunca imagina que o outro tbm tem suas fases de angústia e frustração...tu e o Nauro por exemplo, eu enxergo vocês como um dos casais mais felizes que eu já conheci...não só como casal, mas como pessoas. Mas viu? Tu também tem momentos assim! Então quer saber? Essa crise não tem idade, não dá uma vez só e acontece com TODO MUNDO! Mas se tu permite a aspirante a mulher te dar um conselho...VAI PRO SALÃO DE BELEZA, COMPRA UM LIVRO, DORME ATEH TARDE E NAMORA BASTANTE! Não tem nada melhor do que fugir dos compromissos de vez em quando, sabendo que é merecedora desse dia folga!
bjos, Paula Blaas.
Gabi,
Só posso te dizer que estamos em fases muito parecidas...
Para mim não é fase pós escola da Sofia (ela está na escola há quase 4 anos), mas justamente o contrário, a falta de tempo para mim, para as minhas coisas.
Estou buscanod novos caminhos, com muito empenho.
Tomara que dê certo ou que a crise passe antes...
Beijos
Querida, Gabi.
Adoro teus textos. Mas esse bateu muito com que eu ando sentindo. Vontade de mudar tudo e ao mesmo tempo medo....muito medo do que eu nem sei(!!) ou sei, né?
Mas acredito que tu tá no caminho certo, se permitindo viver mais com teus amores.
Saudades sempre, bjos
DaniXu
Gabriela...imprssionante.
cheguei no teu blog através de um twit do Nauro. Li a última postagem....a penúltima...a antepenúltima...e fui lendo...lendo...Não é só a qualidade do texto, como disse a Xu, mas a alma!
agradeça ao Nauro por ter twitado teu blog. Foi um bom presente no fim do dia.
oi gabriela!
acho que essa fase é tri boa! é quando as melancias voltam a se desarrumar na carroça.
acomodar-se é bom por um tempo, mas o tempo suficiente para que este conforto não vire falta de atitude frente às novas épocas da vida da gente.
às vezes no meio do meu dia-a-dia corrido também fico pensando naquela cíntia sem âncoras, que podia decidir ir à porto alegre amanhã e ia. ou que dormia a tarde toda. penso que ela ficou pra trás, como uma roupa que deixou de servir.
os tempos são outros. a vida tem outras coisas a nos mostrar e a nos exigir.
não acho que precises abrir uma loja [coisa tão tediosa] nem raspar a cabeça [tuas madeixas são tão lindas!!]. acho que é o momento mesmo de te olhares como mulher, cuidar de ti um pouco, já que durante este tempo todo fostes tão generosa com a sofia, te dedicando a ela tão linda e inteiramente. certamente ela vai curtir ver a mami toda vaidosa. e o maridão idem!
essas crises são fases ótimas! viva a pedra que sacode a carroça e desarruma as melancias!
abração
ah, meu petit também está gripadinho. dr flávio mandou nebulizar, mas ele se horrorizou com o aparelho, não deu muito certo. mas os anjinhos vão nos ajudar a ajudá-los a melhorar. beijinho na sofia!
Incrível, mas os momentos de crise nos faz amadurecer. Acho que é hora de A- COR-DAR. Ou seja, dar uma nova cor a sua vida, pois ela está precisando. Isso não é muito fácil, pois prá nós mulheres, os filhos sempre estarão em primeiro lugar. Mas abra um espacinho prá se sentir mais linda, cuide-se, arrume um tempinho para as futilidades, cuidar das unhas, do cabelo, fazer uma massagem, comprar uma roupa nova... prepare um jantarzinho romântico, com surpresinhas agradáveis, vinho... e relaxa, isso tudo passa. Muitas vezes mudamos de emprego, abrimos um negócio, e o vazio continua. Portanto dê nova cor a sua rotina. Vamos A_COR_DAR, que tal um vermelho paixão para o dia de hoje. beijos!!!
me pergunto tds os dias pq passamos esta fase sem muitas decisões... cmgo pelo menos... chamo de fase bumerangue. ela vai e volta. vontade nua de ser o que de fato sempre fui: eu! n sou mais a mesma, fato. tenho ciência disso. mas a fase do "repensar" é importante. é saudável. faz a gente amar ainda mais. chorar tbém às vezes. sorrir, qse sempre! q bom ler teu texto. um pedacinho de mim estava ali nas tuas frases. um bj {Lizzandra Oliveira]
Ermã, parece que estamos passando pela mesma fase, o Hemerson me pergunto afinal o que querese ser quando cresceres e ainda não soube responder, fico martelando isso quase todo dia. Tenho um marido que amo, filhos cheios de saúde e cada vez mais indepententes, moro em uma cidade pequena e sem stress, sou funcionário pública ( o que a maioria das pessoas querem ser) e mesmo assim quero mudar tudo, mas não sei por onde começar, nunca consigo achar tempo para fazer uma caminhada, de fazer a unhas e até de me pentear (isso nunca gostei mesmo heheh). Quando achares a formula me avisa. Isso é problema de gente adulta que saudade da minha adolescencia que o maior problema era saber qual roupa iria sair e se o fulaninho iria ligar. Bjs Te amo
Gabi! Sou fâ dos teus textos....ai ai ai esse bateu com minha vida...eu ao contrário já trabalhei muito e agora que fui demitida estou curtindo a casa e os filhos(o que não conseguia antes!!!), mas a vida "do lar" também me cansa!!! Como é difícil saber o que fazer quando crescer!!!!
Bj
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