Terça-feira cinza, fria e chuvosa. Pra completar o cenário, a nossa fiel escudeira, Talita, que se divide entre as tarefas de ser minha secretária e babá da Sofia, estava doente há dois dias. Sem perspectiva de voltar tão cedo, a casa estava ainda com aquele resquício de final de semana. Lavei o rosto, escovei os dentes e fui fazer um café.
O Nauro acorda alguns minutos depois, com cara de poucos amigos. Parecia estampar no rosto todos os ingredientes daquela manhã esquisita. Lacônico, mal deu bom dia e sentou na sala com o mate na mão. Para quem conhece o meu marido, sabe que estar quieto e sério, é sinal de que entrou água nas máquinas. Alguma coisa não está rodando nessa engrenagem.
Abri a internet para fazer o clipping, e me dou de cara com a capa da Zero Hora. Uma foto do repórter da sucursal de Rio Grande, feita com celular. Sinal dos tempos e do que está se transformando o jornalismo. Hoje em dia um celular com câmera e uma dose de vaidade, fazem de qualquer repórter um faz-tudo. Tudo que o departamento financeiro de uma empresa quer. A personificação da redução de custos. Nos olhamos e eu já sabia o que ele estava pensando. Fazer o que? Eu continuo achando que nada substitui o talento. Mas em uma manhã cinza e chuvosa, melhor não contrariar.
Organizamos a casa, me debrucei nos textos do caderno da Fenadoce e ele foi para cozinha. Passamos a manhã cumprindo os deveres domésticos, em um silêncio cúmplice. Sei das fases do meu marido. De quando ele tira todas as dúvidas das gavetas e coloca no sol, como que para tirar o mofo. Só que um dia como aquele não ajudaria a secar nada, muito menos angústias.
Deixamos a Sofia no colégio juntos, tomamos um cafezinho na cantina da escola e o deixei no jornal. Sabia que o compromisso da tarde dele era legal. Iria à casa do querido amigo Schlee, com o Javier, Alex e Vicente.
A tarde passou e quando a noite caiu fui buscá-lo para irmos para casa. O Nauro que entrou no carro parecia recém chegado de uma semana em Porto de Galinha. Animado, sorridente e até mais corado, juro! Perguntei se tinha dado tudo certo lá no Schlee e ele disse:
- Não e sim!
Como assim, perguntei. O Schlee não estava, perderam a viagem? Isso porque ele mora em Capão do Leão, município vizinho a Pelotas.
- Ficamos esperando ele chegar, fizemos um mate e começamos a conversar os quatro. Um papo super bom, sobre as nossas vidas, esposas, rotina. Um papo de homem, sem frescura. Foi tão bom!
Então ele começou a dizer coisas que tinha dito e ouvido, na maior alegria. Como se tivesse ido na terapia. Enxerguei naqueles olhos tristes da manhã, um ar de juventude, de renovação. O Schlee acabou não atendendo eles, por motivos pessoais. Mas sei que os quatro saíram levinhos daquele mate terapêutico.
Pensei no quanto tinha sido legal e necessário aquele momento para eles. Sugeri até que repitam a dose mais vezes. Que façam das manhãs cinzas, tardes de sol.
Mas não dá pra facilitar. Vá que eles comecem a pensar muito nesses encontros e resolvam queimar cuecas em praça pública. Alto lá, vamos devagar com essa terapia de maridos!
2 comentários:
Oi Gabi! Me chamo Bruno e sou leitor assíduo do blog do teu marido e acabei entrando aqui em função do teu texto q ele postou recentemente. Tbm achei mto legal o teu blog e me emocionei mais ainda com o teu relato sobre a filha de vcs (espero q ela esteja curtindo a mochila cor-de-rosa com rodinhas!). Nem conheço vcs, mas já dá pra ver q vcs são pessoas especiais. Mas eu estou escrevendo aqui pelo seguinte motivo (vou tentar ser breve): gostaria de comprar umas fotos do teu marido pra dar de presente para a minha namorada pelo nosso aniversário de namoro (9 anos no dia 30 de maio). Nós dois somos de Rio Grande, mas ela estudou arquitetura na UFPEL enquanto eu fazia jornalismo na UFRGS. Agora, depois de anos morando em cidades diferentes, nós dois moramos no Rio e eu gostaria mto de dar de presente pra ela umas fotos de Big River e de Satolep (cidades tão importantes pra gente) pra ela decorar o apê dela. Já mandei dois emails pro Nauro perguntando como fazer pra comprar as fotos dele, mas não obtive retorno. O email não voltou, mas talvez o email q eu mandei não esteja mais sendo utilizado por ele. Tu poderias me fazer essa gentileza de me informar se é ou não possível comprar algumas fotos dele??? Meu email é brunoccassiano@gmail.com. Ah, e acho q tu não precisa te preocupar com o fato d a Sofia ter q usar mochila de rodinhas pra não ser excluída. Isso não quer dizer q ela vá ser consumista no futuro. Eu mesmo ainda me lembro de situações semelhantes em q me senti excluído na minha escola (S. Francisco). Na infância essas coisas acabam ganhando proporções maiores do q realmente têm. Por um lado, essas situações fazem a gte crescer, mas às vezes podem ser um sofrimento desnecessário pra criança... Bom, não vou me estender mais!! Aguardo retorno!! Abs,
Bruno
oi adorei conhecer teu blog!vou virar tua seguidora...
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