sexta-feira, 3 de junho de 2011

Mundo das letras


Ontem participei da reunião de avaliação do primeiro trimestre na escola da Sofia. No ano passado a pauta desses encontros era outra.

Ouvíamos sobre as novidades dos nossos pequenos ao circular pelo meio escolar. Falávamos dos avanços cotidianos com os primeiros passos no mundo dos relacionamentos sociais.

Naquela época eu me emocionava muito ao perceber que nossa borboleta criava asas. Com seu jeitinho singular começava a voar além dos limites da nossa palafita na beira do Arroio Pelotas. Escrevi aqui no blog sobre o emaranhado de sensações que rondavam meu coração de mãe (Cordão umbilical).

Foi um tempo de êxtase para ela e de alguma dor maternal para mim. Uma mescla de medos e expectativa. Rompíamos ali um outro cordão umbilical. Ela estava pisando no mundo de todos, não mais no seu universo particular.

Com o passar dos meses e a conduta afetiva das professoras Michele e Ju, tudo foi se acomodando no meu coração. Foi um ano de muitas coisas legais.

A Sofia deu um salto de maturidade impressionante. Mas como diria Chê Guevara, sem perder a ternura jamais!

O ano de 2011 chegou com a expectativa da nova professora e de como seria esse momento de encontro com as letras. Hoje em dia o “pré” já prepara nossos filhos para a primeira série de forma absolutamente intensa.

Nem pense em comparar as nossas cartilhas de "a-e-i-o-u" com a pedagogia dos tempos de hoje. Eles aprendem como mágica. Essas cabecinhas estimuladas pela tecnologia da informação estão bem além das fronteiras do nosso pensamento.

Até aí, a teoria é sabida por uma mãe jornalista. Alguém que se julga esclarecida e que está sempre ligada nos novos acontecimentos do mundo.

Ledo engano!

Na semana passada fui comprar um novo aparelho de 3G e enquanto eu fazia os trâmites com a vendedora a Sofia aguardava impaciente na cadeira.

Olhava curiosa para a loja do outro lado da rua e balbuciava alguma coisa. E num piscar de olhos, me olhou e disse:

- Mamãe, olha o que está escrito lá: L-OOOOOOO-C-AAAAAA-D-OOOOOO-R-AAAAAA!

- Como assim Sofia? Quem te disse isso?????!

- Eu li mamãe...

Ela leu? Fiquei pasma. Paralisada.

Simplesmente aquela história de fazer desenhos coloridos e aprender a dar laço no cordão do tênis não era mais tudo que continha no universo da pré-escola.

E foi aí que começou a cair a ficha.

Essa história começou a fazer sentido ontem, enquanto a professora Karine explicava ao grupo de pais da turminha do “Avançado A" todo processo de alafabetização que estavam vivenciando.

A minha primeira constatação foi de que eles estão muito além do meu imaginário materno. Já enxergam o mundo através da escrita. Totalmente!

E vocês sabem o que isso significa?

Tudo, simplesmente tudo e muito mais. Em um mundo que voa com a velocidade da luz, ler é entrar em uma nave com destino ao universo.

É o passo mais definitivo de nossos pequenos para além das nossas fronteiras domésticas. O roteiro inclui as imensuráveis possibilidades que um conjunto de letras possibilita.

E foi essa constatação, em meio as explicações da "Profi Karine", que romperam no meu coração uma barragem de lágrimas descontroladas. Em suma, foi pagando o maior mico durante a reunião de pais, que constatei que minha borboleta agora voava alto.

Em meio a emoção e o medo, puxei meu lencinho de papel da bolsa e cortei mais um cordão umbilical que teimosamente eu insistia em segurar.

Nessa montanha-russa maternal, foi muito bom contar com uma professora tão especial como a Karine. Que permeia essa tarefa magnífica com amor, carinho e firmeza, em cada uma das etapas.

O conhecimento rompe todas as fronteiras do universo. Mas é preciso doçura para abrir essas comportas. Esse é o profundo significado de ser um professor.

Até então a Sofia lia através de imagens e construía seu universo de sonhos e imaginação. Agora enxerga infinitas formas de construir seus sonhos, desejos e de seguir sua estrada.

E foi por isso que chorei ontem na reunião.

Olhei para minha princesa, no alto de seus cinco anos de idade, e entendi ali o poema de Kalil Gibran.

Realmente nossos filhos vêm através de nós, mas não são nossos. Podemos outorgar o nosso amor, mas não nossos pensamentos. Compreendi o meu papel de arco, que lança a flecha para a vida.

Meu desejo de mãe é que muitas palavras transformadoras escrevam uma bela história na estrada da Sofia. E que a sabedoria que ela leva no nome, construa pontes infinitas de sonhos e magia.

E com os acordes de uma estrofe de Toquinho, eu me despeço. Sem lágrimas, mas com sorrisos!

E o futuro é uma astronave
Que tentamos pilotar
Não tem tempo, nem piedade
Nem tem hora de chegar
Sem pedir licença
Muda a nossa vida
E depois convida
A rir ou chorar

6 comentários:

kiki disse...

Ermã,que lindo!!

Andréia Pires disse...

Que lindo! Seria tão transformador se todas as mães percebessem o processo de alfabetização dos filhos da mesma forma que tu... Trabalho com alfabetização faz um bom tempo e é esse encantamento todo, mesmo. Queria que os pais dos meus alunos entendessem esse tempo mágico com um olhar como o que te permite relatar. Que bom que a tua Sofia pode contar com a parceria entre a mãe e a profe Karine. Faz a diferença. :D Abraço!

Anônimo disse...

Agora sou eu que estou chorando...muito bom ler tudo isso.Maravilhoso...pura realidadde, e o melhor de tudo isso é que eu estou lá vivenciando esses crescimentos. Obrigada pelo carinho e um beijo na "minhoca" mais amada do mundo: Sofia.Karine.

Anônimo disse...

Como filha de professora fiquei encantada com teu texto querida!
Ah, e roubei as palavras de Toquinho...adorei!
bjoka

Unknown disse...

Gabi, como mãe e professora, já vivi e vivo esta experiência por ângulos diferentes, mas igualmente emocionantes. A "profi Karine" deve ter adorado tua emoção! Eu adoro ver a emoção das mães nas reuniões! Prepara teu coração tem muita emoção e cortes de cordão por vir ainda. :) bjão
Tania Blaas

Raquel Kothe disse...

Gabi, tu és uma fofa que escreve com mel na pontinha dos dedos. Coloca poesia em tudo e me faz lembra de quando o meu Martin era pequeno como a Sofia. Passa muito rápido, sério, aproveita. O Martin vai fazer 19 em julho. Sinto saudade e ao mesmo tempo celebro as novidades de um quase adulto. Como me emociono com teus textos... Pode ter certeza que meu nível de exigência é grande e este é um elogio.
Raquel Kothe